Escola do Auditório Ibirapuera celebra dez anos em dois concertos gratuitos

Aos 13 anos, a jovem Kesia Pessoa Cordeiro ouvia o mesmo que a maioria de suas amigas no Capão Redondo, na zona sul: rap, pop internacional e os hits preferidos pelos pais.

Em sua playlist ainda há hip-hop, mas as rimas hoje convivem com Cartola e Nelson Cavaquinho. Aos 18, a clarinetista acaba de passar na prova prática de música na Fuvest —faltam os testes de conhecimentos gerais.

A jovem é uma entre 122 alunos da Escola do Auditório, um centro de música que há dez anos funciona no subsolo do Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer, no parque Ibirapuera.

Sua gestão é compartilhada entre a prefeitura e, desde 2011, o Itaú Cultural. A concessão, que vai até julho de 2016 e pode ser prorrogada, custa cerca de R$ 13 milhões ao ano, "sem leis de incentivo", frisa Edson Natale, 53, gerente do núcleo de música.

Dela derivam as orquestras Furiosa do Auditório, OBA (Brasileira do Auditório; intermediário) e Obinha, para mais jovens, além do Coro e da iniciação, todos sob direção artística de Nailor Azevedo "Proveta". E, embora o curso contemple Beethoven ou Miles Davis, o foco é a música brasileira.

O alvo? Jovens a partir de 12 anos, matriculados na rede pública de ensino e moradores da capital paulista. Os alunos vão três a quatro vezes por semana.

São dois períodos, no contraturno do ensino regular, e um corpo docente com 30 professores, entre nomes como o acordeonista Toninho Ferragutti e ex-alunos. "Quando chega certa fase, o músico se preocupa em transmitir", diz Proveta, 54.

A participação nas aulas implica bolsa de estudos de R$ 200 ao mês, além de vale-transporte, material didático, lanche e instrumento —inclusive para estudar em casa.

"Alguns já saem profissionalizados, mas queremos ampliar a inserção", diz Proveta. Foram 38 graduados desde que uma reestruturação reduziu o curso a cinco anos e organizou disciplinas para combater a evasão e fomentar acesso ao ensino superior. "Faltava clareza sobre em que idade eles se formavam", explica Natale.

Quem ingressa na escola estuda teoria durante seis meses antes de escolher três opções de instrumentos —a decisão final envolve até os pais.

Esse diálogo se mantém, segundo Andreia Schinasi, 32, coordenadora de música. E quem procura, ela diz, acha "histórias cabeludas: mãe que bate em filho, pai que abusa de filha".

Nos ensaios, chama a atenção a cumplicidade entre maestro e alunos, como Luan Charles Ferreira, 19: "Era outra pessoa antes". Mesmo de família "bem musical", o trompetista diz ter se fascinado ali. "Até a cor dos instrumentos era diferente!", diz.

Prestes a se graduar, Kesia diz que aprendeu "a ter disciplina". Que o diga sua rotina, de manhã no Auditório, à tarde no cursinho e, à noite, estudando: "Durmo da 0h às 5h30".

Menos ainda dormiram todos nas últimas semanas, repletas de ensaios para os concertos do fim de semana. Na festa de dez anos, eles recebem ex-colegas, professores e convidados, como o compositor Sérgio Santos e a cantora Xênia França. No set, joias como "Guardei Minha Viola", de Paulinho da Viola, homenageado de 2015.

Em tempo: há 48 novas vagas, 20 para iniciação. As inscrições estão abertas até 20 de janeiro de 2016 pelo site auditorioibirapuera.com.br/escola.

Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portões 2 e 3, Parque Ibirapuera, região sul, tel. 3629-1075. Sáb. (5): 21h. Dom. (6): 19h. Livre. Retirar ingr. 90 min. antes. Estac. (Zona Azul). Acesso para deficientes. Wi-fi. Ar-condicionado. GRÁTIS

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