"Ruas são para pessoas conviverem", diz arquiteto indiano em visita a SP

Caminhando pela avenida Paulista pela primeira vez na vida, Rohan Shivkumar, 44, não resistiu: ao ver Elvis (o imitador dele, claro) cantando na calçada, puxou o celular e o fotografou.

"É bom que a cidade permita que as pessoas dancem e cantem nas ruas. Em Mumbai, se estiverem cantando e dançando nas ruas, tem de ser um ritual religioso."

Arquiteto, ele desembarcou em São Paulo no último dia 28. Nos dois dias seguintes, aceitou o convite da sãopaulo para visitar a Paulista num domingo, livre só para os pedestres, e na segunda, livre para os carros.

Shivkumar tem interesse no tema: ele é professor e vice-diretor de um instituto de arquitetura em Mumbai.

Em São Paulo, participará do What Design Can Do!, que discute nesta segunda (7) e terça (8), na Faap, em Higienópolis, o impacto do design nas cidades.

Em Mumbai, o arquiteto atua em discussões acerca de formas de ocupação do espaço público.

"As ruas não são só para passagem, são para as pessoas conviverem. Mas os nossos planos de desenho para a cidade não consideram isso. Sempre são: abra uma via."

Recentemente, ele participou de um projeto para resolver os "conflitos" entre o fluxo de carros e pessoas no entorno de uma estação de trem. Como solução, propôs a criação de uma zona para a circulação de pedestres.

"Para implementá-la, precisávamos da aprovação do setor de tráfego da prefeitura, que disse que tudo era ilógico. Recusaram-se a ir adiante."

O arquiteto lembra que, no ano passado, houve em Mumbai um projeto piloto semelhante ao da Paulista: parte de uma via foi aberta para pedestres aos domingos.

"Foi feito depois de longas negociações, pois, para a prefeitura, as vias são para os carros, não para pedestres."

A ideia, diz ele, foi um sucesso, atraindo moradores da vizinhança. "O projeto parou durante a estação de chuvas e estão tentando recomeçá-lo."

Ao passar pela Paulista, ele elogiou a medida paulistana. "Reconhece o valor do espaço público, como uma parte essencial de uma boa cidade."

E o trânsito aqui pode ser comparado ao de lá?

"Em Mumbai, o trânsito é de fato ruim", afirmou Shivkumar, que comentou, rindo, a cena de carros na Paulista seguirem em filas, nas faixas.

Por lá, estariam em zigue-zague, em meio a caminhões, motocicletas, táxis e ônibus. "Sempre imaginamos o trânsito lá como uma bagunça. É mesmo?", pergunta a reportagem. "Sim, é."

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