Moradores da Vila Mariana cobram restauro do Instituto Biológico

De longe, a beleza arquitetônica do Instituto Biológico, na Vila Mariana, zona sul paulistana, impressiona. Porém, quem chegar mais perto verá as marcas da idade no septuagenário prédio: vidros quebrados, pontos com mofo e infiltrações.

No próprio site do instituto, um estudo lista os problemas existentes no imóvel. Entre eles há infiltração de água em terraços de três andares, rede hidráulica e esgoto com vazamentos, rede elétrica em más condições e a necessidade de modernização da rede de gás, pois laboratórios ainda contam com botijões.

Moradores da região cobram a restauração do imóvel, o que o governo do Estado já prometeu antes. Atualmente, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz que pode incluí-la no orçamento do ano que vem.

Projetado pelo arquiteto Mario Whately e considerado um dos principais exemplares da arquitetura art déco do Estado, o edifício de nove andares começou a ser construído em 1928 e foi finalizado 17 anos mais tarde, em janeiro de 1945, tornando-se um marco no processo de urbanização do bairro.

De lá para cá, enquanto as chácaras que formavam a paisagem do entorno do instituto deram lugar a casas e prédios, a estrutura dele permaneceu à mercê do tempo, recebendo um único reparo em sua fachada externa, em 1975.

"Um edifício como esse não pode ficar assim, se deteriorando, correndo riscos elétricos, pois ele tem uma importância social muito grande e faz parte da memória afetiva da cidade", afirma Rosana Miranda, 60, arquiteta que participa do grupo de pessoas que cobra a realização dos reparos.

A preocupação de vizinhos do instituto com a preservação dele é antiga. Antes de o prédio ser tombado pelo Condephaat (órgão estadual de preservação do patrimônio), em 2002, cerca de 3.000 moradores promoveram um "abraçaço" em volta dele.

"Esse ato simbólico ficou conhecido como o 'domingo do abraço', e, logo em seguida, graças à participação popular, o prédio foi tombado", conta Denise Bramucci de Moura Delfim, 54, conselheira participativa municipal.

Toda vez que o governador participa de alguma solenidade no bairro, ela faz questão de lembrá-lo da necessidade de restaurar o prédio. "Na última vez em que ele esteve na instituição, para participar do evento Sabor da Colheita, propus que começasse o restauro aos poucos."

"O tombamento representou a primeira vitória, vencemos a primeira etapa", diz o músico Osmar Barutti, 66, vizinho do prédio. "Falta a restauração, pois já está na hora. Esse patrimônio precisa ser preservado e estamos aqui para defendê-lo. Não se trata de uma maquiagem, mas de uma cirurgia completa, uma intervenção profunda."

Integrante de uma entidade criada para preservar a memória e o patrimônio da Vila Mariana, Walter Taverna, 82, quer repetir o sucesso que obteve quando mobilizou a comunidade para que a Casa Modernista fosse restaurada. "Estamos na luta pela restauração do edifício do Instituto Biológico, pois o prédio está precisando muito."

APRENDIZADO

A arquiteta Rosana Miranda afirma que o restauro trará benefícios que vão além da preservação da estrutura do edifício. "Fazê-lo será um investimento em conhecimento, já que será preciso pesquisa de materiais e tecnologias para preservar as suas características originais e adaptá-lo para o seu uso moderno, com acessibilidade, por exemplo. O registro de todo esse trabalho formará um material valioso às futuras gerações de restauradores e arquitetos."

No fim do ano passado, o governador Geraldo Alckmin chegou a anunciar a restauração do prédio. A obra, entretanto, não saiu do papel.

Questionada pela reportagem, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, responsável pelo Instituto Biológico, afirmou em nota que "mantém estudo avançado com o objetivo de viabilizar o restauro".
Ainda segundo o texto, um primeiro projeto chegou a ser apresentado, mas foi descartado por conta do custo elevado. "O secretário Arnaldo Jardim solicitou um novo projeto em etapas, que está em curso. Com o projeto em etapas, haverá discussão para inclusão no orçamento do próximo ano."

Enquanto planos são discutidos, no ponto mais alto do Instituto Biológico o grande relógio fixado à sua parede encontra-se quebrado, marcando três horas e 40 minutos. Inaugurado junto com o prédio, ele foi consertado inúmeras vezes, mas como o seu maquinário é antigo, não resiste. Os ponteiros estagnados parecem querer avisar que já é hora de correr atrás do tempo perdido e restaurar o monumento, antes que seja tarde demais.

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