Descubra onde comer, beber e ouvir música em casas secretas de SP

Ao chegar no Brasil, em 2003, o argentino Maximo Levy adotou como morada os fundos de um estacionamento na rua João Moura, em Pinheiros —o lugar combinava bem com seu gosto antigo por imóveis comerciais. Durante dois anos, ele fez do canto à esquerda da rampa que leva ao subsolo do estacionamento sua casa-ateliê.

Com o tempo, porém, a conta do aluguel começou a pesar. A solução? "Chamei uns amigos músicos que moravam ali pelo quarteirão para se apresentarem lá. Para decorar, botei tudo o que tinha produzido no meu ateliê nas paredes, e pronto", lembra ele, que herdou do pai o gosto por sucatas, reaproveitamento de materiais e artes plásticas. O ano era 2006, e as noites de jazz rolavam duas vezes por mês.

Hoje, exatamente dez anos depois, Maximo comemora o marco de 500 shows por ano naquele subsolo que se tornou conhecido como Jazz Nos Fundos e já recebeu cerca de 130 mil pessoas.

Fechada temporariamente desde dezembro, a casa passa agora por uma grande reforma para ser reaberta oficialmente em maio. Sobre as novidades, quase nada se pode falar, a não ser que será no mesmo esquema de antes: sem placa na porta.

A 19 minutos a pé dali, em uma esquina do mesmo bairro, outro endereço às escuras também roubou a cena praticamente na mesma época, nove anos atrás. Sem nenhuma identificação aparente, a única pista que entregava sua existência eram os seguranças da porta: sempre sorridentes, vestiam roupas brancas, diferentes do usual terno preto. Do outro lado da porta, amigos —e amigos de amigos— se encontravam para ouvir música, bater papo e beber. Com o tempo, o local ficou conhecido como Bar Secreto.

Em atividade até hoje, o Secreto viveu o auge da fama em 2008, durante a passagem de Madonna pela cidade. Foi lá que a cantora e seus dançarinos fizeram uma festa após um show. "Nosso segredo é continuar discreto", diz Karina Mota, diretora de comunicação e uma das sócias do espaço.

De lá para cá, o anonimato tornou-se mais frequente na cidade, com novas casas que abrem mão da placa na porta e entregam ao boca a boca a sua mais eficaz publicidade.

A seguir, a sãopaulo revela lugares onde comer, beber, ouvir música e até cortar o cabelo de um jeito (quase) secreto.

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PATUÁ DA BAIANA

O apelido Bá vem de baiana e se refere ao Estado de origem de Hélia Bispo, nascida em Amargosa, interior da Bahia. Mas foi em São Paulo, mais precisamente no bairro italiano do Bexiga, que Bá fez fama e clientes com o acarajé que vendia na rua. Depois de ter a barraca apreendida, decidiu levar para dentro de sua casa a clientela já assídua.

Há 20 anos, ela recebe no porão de sua casa grupos fechados, de 6 a 20 pessoas, para almoços ou jantares exclusivos (preço médio individual de R$ 150, sem bebida alcoólica).

No menu, só especialidades baianas: de caruru, vatapá e sarapatel a moquecas e bobós. Tudo regado à cerveja ou caipirinha à base de cachaça Gabriela.

Além das refeições fechadas, há também dias em que Bá resolve abrir a porta de casa para mais gente (de R$ 60 a R$ 90 por pessoa). Nesses casos —diferentemente do que acontece nos eventos privados— é ela quem decide o que será posto à mesa, em um bufêzinho improvisado.

Patuá da Baiana. Reservas e programação pelo facebook.com/patuadabaiana ou via e-mail, no endereço patuadabaiana@bol.com.br.

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LOKI BICHO

Um coletivo família que visa a arte como um todo. É assim, de forma bem abrangente, que o Loki Bicho se define. Na prática, pode-se dizer que é uma casa localizada em uma ruazinha no bairro de Campos Elíseos, que abriga um brechó conhecido especialmente no meio musical. É que Hayge Mercúrio —uma das sócias, ao lado de Maria Carol Ávila— sempre transitou por esse mundo, fazendo cenografia e figurino para músicos independentes.

O brechó surgiu há quatro anos, no espaço cultural Puxadinho da Praça, na Vila Madalena. Desde então, já passou por feiras itinerantes pelo Minhocão e Anhangabaú, até ganhar um lugar só seu há oito meses, nessa travessa tranquila da alameda Barão de Limeira.

Sem vizinhos por perto, o espaço também recebe todo sábado à tarde o Se Pá Sem P.A.: shows, a partir das 18h, de músicos amigos, como Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Iara Rennó. A novidade mais recente é o Baile Loki Bicho, rumo à terceira edição.

Uma vez por mês, em vez de show, a atração da tarde é o DJ Dante, que leva um convidado para dividir a playlist com ele. Na cozinha, a residente é a chef Lyra Katia, que chama, a cada baile, um amigo para compartilhar o fogão. Os eventos não têm taxa de entrada: cada um paga quanto quiser, ou puder.

Christian von Ameln/Folhapress
Loki Bicho, brechó conhecido principalmente no meio musical
Loki Bicho, brechó conhecido principalmente no meio musical

Brechó Loki Bicho. Rua Chácara do Carvalho, 109, Campos Elíseos, região central, tel. 98482-8783.

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AMIGO DO REI

Nasrin é iraniana. No Brasil há 26 anos, suas raízes, lembranças de infância e sabores da culinária natal são sempre revisitados na cozinha de sua casa, durante as refeições do Amigo do Rei: almoços ou jantares que acontecem na mesa da sala para grupos fechados, de duas a oito pessoas.

No menu, só pratos da culinária persa, que, aliás, não tem nada a ver com a árabe, a que estamos tão acostumados. Segundo Cláudio, o marido carioca que faz as vezes de garçom, a culinária iraniana tem como uma de suas características o uso de açafrão em todas as receitas.

As refeições (de R$ 130 a R$ 150 por pessoa, dependendo do número de participantes) são compostas por duas entradas, um prato inicial e outro principal, além de sobremesa. O endereço é mantido em sigilo até a confirmação da reserva.

Amigo do Rei. Reservas pelo facebook.com/amigodorei, via e-mail contato@amigodorei.com.br ou pelo telefone 98243 3956.

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FRIGOBAR

É antigo o conceito que inspirou os sócios Pablo Moya, Diego Dillon e Liu Fukushima a criarem, em setembro de 2015, o Frigobar. Vem da década de 1920, quando os Estados Unidos viveram os anos da Lei Seca —época em que o consumo, a fabricação, a venda e o transporte de qualquer bebida alcoólica foram proibidos— e os "speakeasies", espécie de bares secretos, começaram a se proliferar nos subsolos dos imóveis.

Localizado na região dos Jardins, o Frigobar se propõe a ser um típico "speakeasy".

Aberto apenas às terças e quartas-feiras, recebe clientes somente por meio de reserva —para até quatro pessoas— e até 20 pessoas por noite. Para guardar seu lugar, é preciso pagar R$ 70, e o desembolso dá direito a um drink de boas-vindas.

Reserva feita, é revelado, então, o endereço do bar e enviada uma senha que será o ingresso de entrada. A casa funciona das 21h às 2h, e a chegada só pode ser feita até as 22h. Depois disso, ninguém mais entra: é hora de começar a festa.

Frigobar. Reservas pelo e-mail frigobarsp@gmail.com.

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COLETIVO CABEÇAS

"A proposta do Coletivo Cabeças é, em primeiro lugar, ser um lugar de convivência, e não um espaço de consumo", explica Juliana Carvalho, uma das integrantes. Som tranquilo, chá de ervas colhidas da horta e eventos aleatórios, como oficinas de massagem, são um convite à desaceleração, outro objetivo da turma.

Composto por cinco artistas —as irmãs Bruna e Tetê Sartini, Juliana Carvalho, Ana Elisa Cunha e Camila Machado—, o espaço existe fisicamente há cinco meses, em uma casa antiga da Bela Vista.

Ali também funciona um salão de cabeleireiro e um brechó de roupas das décadas de 1960, 70 e 80. Ju, Tetê e Ana comandam as tesouras, e atendem sempre descalças no quintal. "Saímos de salões conhecidos, em que um corte durava 12 minutos. Aqui, a gente leva cerca de uma hora por corte", conta Juliana.

Há ainda festas mensais e shows esporádicos, que são divulgados na página do coletivo no Facebook. "Não temos Instagram, nem qualquer marketing. Não queremos ser famosos, nem ter fila de espera na porta. A gente quer receber quem chega com uma torta feita na hora ou um chá que acabou de sair", afirma Juliana.

Coletivo Cabeças. Rua Itararé, 158, Bela Vista, região central. Acompanhe a programação pelo facebook.com/ColetivoCabecas

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JANTAR SECRETO

Nas primeiras edições do Jantar Secreto, as mesas que Larissa Januário e Gustavo Rigueiral montavam eram para quatro pessoas. Hoje, dois anos depois e muitos metros quadrados a mais —eles trocaram o apartamento no Paraíso por um sobrado na Aclimação—, as mesas acomodam bem 14 pessoas.

O nome do evento faz jus à proposta. Tudo ali é secreto, a começar pelo menu, sempre a critério do chef Gustavo. O endereço também é mantido em sigilo até a véspera, e pode variar, dependendo da quantidade de pessoas, entre o sobrado e outros endereços na cidade, como um ateliê de cerâmica.

Além dos jantares fechados (de R$ 100 a R$ 200), há também noites abertas.

Christian von Ameln/Folhapress
Mesa utilizada no Jantar Secreto, organizada por Larissa Januário e Gustavo Rigueiral
Mesa utilizada no Jantar Secreto, organizada por Larissa Januário e Gustavo Rigueiral

Jantar Secreto. Reservas e programação pelo e-mail jantares.secretos@gmail.com ou pelo perfil no Instagram @jantarsecretooficial

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