Estúdio coletivo em Moema atrai tatuadores com agenda lotada

Desenhados no papel ou na pele, as figuras de Victor Octaviano parecem estar prestes a entrar em movimento e escapulir da superfície. Ao combinar técnicas de aquarela, realismo e sketch, o tatuador ganhou clientela ao longo de dez anos, além de uma agenda lotada.

Em 2016, se bancando com suas ilustrações, só tatua amigos e freguesia das antigas. Em março, abriu uma exceção. A convite da Tattoaria House, estúdio lançado no início de março, em Moema, ele topou voltar ao antigo modus operandi. Por alguns dias, trabalhou em cima de ideias de clientes agendados pelo estabelecimento que pretende ser um espaço de coworking para tatuadores.

Sem residentes, o novo endereço recebe cerca de oito profissionais de diferentes regiões por semana. Eles compartilham o salão, divididos em baias separadas por cortinas pretas. O material é oferecido pela casa. Em contrapartida, os sócios ficam com um percentual das tatuagens que custam de R$ 800 a R$ 1350.

Mas por que um tatuador com carreira estabelecida toparia pagar para estar ali? "Fui para sentir o ambiente. Daqui um tempo, o lugar vai estar mais conhecido e deve receber pessoas de outros países. É importante ter contato com outros profissionais da área para trocar ideias e técnicas", explica Octaviano.

Com a agenda dividida entre São Paulo e Nova York, Rodrigo Tas também deixou, temporariamente, o próprio endereço para ilustrar a pele de clientes da Tattoaria. A razão não é comercial, ele garante. "É neste tipo de espaço que surgem grandes projetos. Reciclamos algumas ideias e o networking, aprendemos a tatuar fora da nossa zona de conforto, e por aí vai. Também tem a divulgação deles", explica Tas.

Rodrigo Bondioli, 37, um dos donos da casa, também lembra que o espaço é uma vitrine. "Cerca de 90% de quem vem pra cá é de fora de São Paulo", diz. Outra justificativa é a participação nos eventos, como workshops de pontilhismo ou realismo –técnicas de tatuagem. Facilitadores como sistema para agendamento e reserva também são atrativos.

Apesar do espaço ser coletivo, não é qualquer um que pode ostentar uma maca para chamar de sua —mesmo que periodicamente. É Bondioli quem dá a palavra final na curadoria. "Sou diretor de arte, trabalhei em agência durante 15 anos e mexo com isso faz tempo. Tem muita gente que diz ser bom, mas não tem ideia de profundidade, por exemplo", conta.

TUDO AO MESMO TEMPO AGORA

O carro-chefe do endereço é a produção de tatuagem. Mas à primeira vista, a mesa de sinuca na entrada indica que o galpão de 240 m² poderia ser um salão de jogos. À direita, uma bancada com apetrechos capilares confunde: o endereço oferece serviço de barba, cabelo e bigode para os rapazes. Já à esquerda, no cenário predominantemente preto com pontos de cor amarelos, há um bar e, logo ao lado dele, prateleiras com camisetas e bonés.

"A gente montou isso aqui para virar um point para quem gosta de tattoo", conta Bondioli, que idealizou tudo ao lado de Bruno Godoy, 34, e André Fernandes, 28 –nenhum deles tatua. Assim, o cliente-fã de um tatuador pode aparecer só para conversar com o profissional e jogar bilhar. Quem vai acompanhar o amigo ou a namorada pode tomar uma cerveja (a long neck custa R$ 5) ou pedir um corte (o combo barba e cabelo sai por R$ 70). "Funciona como um bar ou um happy hour para curtir com amigos", continua.

Para evitar a confusão de quem passa em frente ao local, os donos decidiram fabricar um neon especificando os serviços oferecidos para deixar na entrada. "Apesar do nome ser bem claro, tem gente que para aqui na frente e não entende muito bem o que acontece do lado de dentro", assume o empresário.

Tattoaria - av. Miruna, 726, Moema. Tel. 5051-4653. Seg. a sáb., das 10h às 20h.

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