'O Ca'd'Oro era um lugar mágico', diz autor de livro sobre história do hotel

Thays Bittar/Folhapress
Marília Scalzo e Celso Nucci, autores do livro "Grande Hotel Ca'd'Oro", que será lançado neste mês e conta a história do tradicional hotel
Marília Scalzo e Celso Nucci, autores do livro "Grande Hotel Ca'd'Oro", que será lançado neste mês

No início da década de 1950, na Itália, Fabrizio Guzzoni viu lindas fotos de um terreno às margens da represa Billings e decidiu comprá-lo. Planejava criar ali um empreendimento para colocar em prática o que aprendera com o pai, experiente no ramo de hotelaria.

Mudou-se para São Paulo. Levou seis horas para chegar à chácara que adquirira. Deparou-se com uma área cercada de mato. Ficou transtornado e pensou em cruzar o oceano de volta. Acalmou-se e repensou o plano.

Mais tarde, inaugurou o restaurante Ca'd'Oro, na rua Barão de Itapetininga. A casa cresceu, mudou de endereço e se tornou um hotel.

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Foi um dos espaços mais luxuosos da cidade, frequentado por reis, presidentes, artistas e empresários. Mas, assim como a região central, entrou em decadência e, em 2009, fechou.

Agora, deve ressurgir no mesmo espaço que ocupara por último, na rua Augusta. As obras devem ser concluídas no primeiro semestre deste ano, segundo a Brookfield.

Tudo isso é contado no livro "Grande Hotel: Ca'd'Oro" dos jornalistas Celso Nucci e Marília Scalzo. O lançamento está marcado para o próximo dia 26, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

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Qual o primeiro contato que tiveram com o Ca'd'Oro?
Nucci – Eu frequentava muito. Fiz reportagens sobre ele nos anos 1970, 1980.
Scalzo – Frequentei no fim da década de 1980, pois ia-se muito lá, e depois que conheci o Celso, na década de 1990.

Há uma série de histórias saborosas no livro, como a do rato que circulava sob a mesa do conde Matarazzo. Como descobriram esses casos?
Nucci – Grande parte das histórias citadas é mérito exclusivo do Aurelio [filho de Fabrizio]. Ele falou: "Entregarei para vocês um texto com lembranças e memórias". Tínhamos um fio condutor.
Scalzo – O Aurelio nos convidou para fazer esse livro. A ideia foi dele.

O que foi mais prazeroso contar?
Nucci – Deu muito prazer resgatar uma coisa que estava dentro de mim, de conhecimento, e transformar num pensamento coerente.
Scalzo – Gostei demais de recuperar pela imprensa aquelas histórias, que de certo modo acompanhei, dos personagens ilustres que passaram pelo hotel.
Nucci – Essa história conta da estruturação de uma profissão fora da universidade, fora do ensino técnico, no âmbito familiar. E a hotelaria, a hospedaria, a hospedagem e a restauração sempre tiveram origem familiar. Conseguimos flagrar nessa história um desenvolvimento integral de uma cultura familiar e de como se dá esse procedimento.

Mas ainda é possível adotar essa estrutura familiar?
Nucci – Se a história for lida com proveito por profissionais, poderá ressaltar quais são os valores importantes em um serviço de hospedagem.
Scalzo – Isso não quer dizer que a escola vá deixar de existir e só terá a formação dentro das famílias, mas que a escola possa eventualmente trazer mais esses valores que as famílias cultivavam.
Nucci – Pegue São Paulo, por exemplo, conhecida e louvada como uma cidade gastronômica. Só abre porcaria.

Refere-se a hotéis ou a restaurantes?
Nucci – Falo da restauração. Quando ela tem valor? Quando carrega dentro da cozinha um dado cultural, que geralmente é familiar ou de nacionalidade e é cultivado com respeito à tradição e à cultura. Hoje, há um monte de inventores, de elaboradores de cardápio, e aí você vai lá e é uma chatice comer aquilo.

Qual era a atmosfera da Ca'd'Oro?
Nucci – Era um lugar meio mágico. A maneira de trabalhar deles refletia no aconchego. Você via móveis que foram feitos na marcenaria no subterrâneo do hotel, obras de artes do maior valor... Refletia na atmosfera o fato de uma família estar cuidando de tudo.

De certa forma, o centro também era assim, não?
Nucci – É, foi virando aquela coisa...

O livro dá a impressão de que há a ascensão do Ca'd'Oro e do centro e, depois, a queda dos dois.
Nucci – É a questão da evolução urbana.
Scalzo – Para o Ca'd'Oro, é uma pena que tenham acreditado até o fim que aquele lugar fosse redespertar. Não vivi um centro tão efervescente, mas lembro que para os meus pais a vida era sair para o centro. Ali o Fabrizio apostou. Na hora que resolveu escolher, ele chegou a São Paulo e pôs o dedo na Barão de Itapetininga, que era um lugar muito bacana do centro. Uma pena. Hoje, você vai à Barão de Itapetininga e tem vontade de se deitar no chão e chorar.

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