mães e crias

Sem filhos, mulheres cuidam de seus cães como bebês; conheça três 'mães'

Quando a pedagoga Adriana Meira, 32, foi buscar o buldogue francês Gael no ônibus que o trouxe de um canil de Minas Gerais para o Brás, na região central de São Paulo,
a ideia era ter um cão de companhia.

Ela estava casada havia dois anos e a dúvida —ter ou não um filho?— pairava. "Ele veio para ser um teste. Achamos que se adaptaria bem à vida dentro de um apartamento."

De fato, Gael se adaptou. Tão bem que, em pouco tempo, já dormia na cama do casal. "A relação foi se modificando. A gente deixa de fazer as coisas se ele não pode ir junto. Se eu tenho que viajar à trabalho, por exemplo, 'conversamos' por Skype. É um vínculo de filho", conta Adriana.

Com um ano e meio de idade, Gael tem uma dieta natural —Adriana cozinha a quantia necessária para durar 15 dias— e toma banho de ofurô, entre outras regalias. Ficou famoso: trabalha como "pet model" e sua conta no Instagram (@gael_frenchie ) soma 15 mil seguidores. "Não sentimos falta de ter um filho agora. Ele preenche bem esse espaço", diz a pedagoga.

Já a administradora Luana Ginato, 29, pretende dar um irmão ao "filho" Airon em breve. Até porque, nos quase dois anos que vive com o peludo yorkshire, já teve uma boa ideia do que é cuidar de alguém.

Desde que Airon chegou, a jovem não tira os olhos do cão. Literalmente —para zelar pelo bem-estar do pimpolho, instalou uma câmera wi-fi, que gira em 360º. Por um aplicativo de celular, monitora o que ele está fazendo. "As pessoas falam que é loucura, mas isso me tranquiliza e eu não vejo problema nenhum", afirma.

Ju Nadin/Folhapress
O yorkshire Airon dorme com Luana Ginato
O yorkshire Airon dorme com Luana Ginato

Há mais cuidados. Com um temporizador, ela pode programar o ventilador para ligar e desligar, amenizando o calor do apartamento onde o filhote fica enquanto os "pais" trabalham. Sem contar a escadinha para subir na cama e as cortinas colocadas na sacada, a fim de evitar sol em excesso.

Airon também já tomou vacina contra a gripe e, na castração, foi acompanhado por dois veterinários e um anestesista. "Quem não tem um animal não entende o sentimento. Faço para ele o que faria para qualquer pessoa que gosto", diz Luana.

Com tantos mimos —incluindo festinha de aniversário personalizada—, o pet não entende, muito bem, que é um cachorro. Começou a frequentar uma creche para animais, mas não gostou de interagir. "Ele está acostumado com pessoas. Estamos reavaliando", diz ela, superprotetora.

Para muita gente, o excesso de cuidados com um animal doméstico pode parecer exagerado. Mauro Lantzman, professor da PUC-SP e especialista em comportamento animal, rebate e diz que transferir o afeto ao bicho é, sim, saudável. "O cachorro depende de você, desde que chega em casa até morrer. Que tipo de problema poderia haver em cuidar?"

O fato é que a convivência com o bichinho atinge outro patamar. Eliza Yamamoto, 48, criou esse vínculo maior ao ter seu primeiro cão, Rômulo, que morreu com seis anos. "Senti o amor e o luto. Nem sabia que podia ser tão forte", diz a biológa, que também não tem filhos.

Depois veio Bernardo, que morreu há três anos, e agora Bianca —todos buldogues ingleses. "Ela é completamente diferente. É mandona, late, tem temperamento forte. Faço com ela tudo que não podia com eles: pinto a unha, coloco colar e vestido", conta.

Junto com Eliza, Bianca participa de um processo para ser voluntária em uma ONG que leva cachorros a asilos e hospitais. Para participar, o cão precisa ser dócil e atender a alguns comandos básicos. "É uma forma de fazer o bem e ficarmos juntas", diz Eliza. "Ela é 100% minha filha, como os outros foram. Não vejo minha vida sem um cachorro."

"NEWBORN PET"

Ana Paula Amaral/Divulgação
Ensaio 'newborn' pet
Ensaio 'newborn' pet

Populares no Brasil, os ensaios "newborn" (recém-nascido), que mostram os bebês nos primeiros dias de vida, também chegaram ao mercado pet. A fotógrafa de animais Ana Paula Amaral, 42, começou a desenvolver o trabalho há um ano. "Uma conhecida me pediu para fazer do bebê dela. Aí pensei: 'Por que não tentar com pets?'", conta. No ensaio, ela vai até a casa do cliente —já que o bichinho não pode sair antes de tomar todas as vacinas— e monta o cenário. "A diferença é que esperamos o filhote atingir uns 40 dias de vida, que é quando já abriu os olhinhos e está mais bonito", explica. Há a opção de acompanhar o crescimento do bichinho até completar um ano de vida.

Ana Paula Amaral, fotógrafa de animais, tel. 98757-7181. "Newborn pet": R$ 500 (valor inicial do ensaio digital, com 20 fotos).

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