Acredite: cientistas não moram em laboratórios, tampouco vestem apenas jalecos brancos. E não andam por aí com cabelos despenteados e exibindo a língua, como surge Albert Einstein na tão conhecida imagem.
"São pessoas normais que fazem ciência", diz, com voz séria, a bióloga Natalia Pasternak, que aos 40 anos acumula um doutorado e dois pós-doutorados na Universidade de São Paulo, um deles na área de genética molecular de bactérias.
Há uma tentativa em curso para desconstruir esse estereótipo "nerd", e Pasternak integra o grupo por trás dela. Ela coordena o festival Pint of Science, realizado pela primeira vez na capital.
A proposta é simples: reunir pesquisadores em bares e restaurantes para tratar, com mais de leveza e em meio a goles de cerveja, de temas como DNA, vírus, bactéria, metabolismo, átomos e astronomia.
"A demanda existe dos dois lados: as pessoas querem saber o que é ciência e o cientista quer comunicar", afirma Pasternak. "Mas faltava um ambiente mais informal, mais descontraído para que isso acontecesse."
Não costuma funcionar, segundo ela, convidar as pessoas para assistirem a palestras em universidades. "O público acha que vai encontrar um monte de gráficos, tabelas, e que não entenderá metade do que o palestrante vai falar."
A ideia adotada pelos brasileiros surgiu na Inglaterra após uma bem-sucedida reunião entre cientistas e voluntários para conversar sobre estudos do mal de Alzheimer. A experiência virou evento em 2013.
A partir daí, eles decidiram levar a conversa para pubs londrinos. Surgiu assim o nome do evento: "pint" é um copo em que cabe pouco mais de meio litro de cerveja, bastante popular nas casas da capital inglesa.
O evento cresceu. Timidamente, desembarcou no ano passado em dois bares de São Carlos, no interior do Estado.
Deu certo e, neste ano, a organização marcou palestras para dias 23, 24 e 25 deste mês nas capitais paulista, mineira e fluminense, além da própria São Carlos, Ribeirão Preto e Dourados, no Mato Grosso do Sul.
Em São Paulo, os pesquisadores se revezarão em cinco bares e restaurantes das zonas sul e oeste. Gratuitas, as palestras estão marcadas para as 19h30 e devem se estender até as 22h —o consumo é por conta do cliente.
"Queremos instigar a discussão no bar mesmo, como se fosse uma partida de futebol, para popularizar o tema", afirma o biólogo Luiz Gustavo de Almeida, 31, coordenador do evento na capital. "A ideia é fazer um brinde à ciência."
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Confira a programação
Dia 23 (segunda)
- Zika vírus, sistema imune e neuroinflamação
- O que é metabolismo? Como nossos corpos transformam o que comemos no que somos
Dia 24 (terça)
- Origens da urbanização (provisório)
- Biotecnologia e segurança alimentar
Dia 25 (quarta)
- Limões, laranjas e o método da caipirinha científica
- Pesquisa em câncer: milagres, esperança e realidade
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Dia 23 (segunda)
- Dinossauro a passarinho
- Fotoneuromodulação - a tecnologia que permite "conversar" com neurônios
Dia 24 (terça)
- Papo pra boi dormir?
- Se eu não lembro, eu não fiz
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Dia 23 (segunda)
- Bullying na adolescência e o cérebro em depressão
- Peter Moon - Aspectos de uma história ecológica da América do Sul
Dia 24 (terça)
- #somostodosmutantes - Origens, efeitos e implicações da variação genética em populações
- Como a ciência explica os ups e downs na vida de Amy Winehouse
Dia 25 (quarta)
- Adote uma bactéria - Aprendendo microbiologia no Facebook.
- Inovação no ambiente acadêmico
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Dia 23 (segunda)
- Hormônios, sexualidade femininos
- "The light side of the beer"
Dia 24 (quarta)
- Nosso DNA e o envelhecimento
- De bactéria e louco, todo mundo tem um pouco
Dia 25 (quinta)
- O que de fato sabemos sobre o que pode causar câncer?
- A formação de um cientista no Brasil
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Dia 24 (terça)
- Estamos sós no Universo?
- Somos todos macacos? Por que então andamos de pé e não somos peludos?
Dia 25 (quarta)
- Empreendedorismo em ciência: o cientista empreendedor