Na estrada de chão batido, o Toyota 4x4 vence a subida e deixa um rastro de poeira para trás. Conforme o pó assenta, uma paisagem dominada por arbustos esparsos, de pequeno porte e galhos retorcidos, como os pequizeiros, frutíferas típicas do cerrado, assume o cenário. Do alto da serra de Caldas, em Goiás, despontam imensos paredões de arenito. É para lá que um grupo animado de turistas é conduzido até atingir uma plataforma, a 60 m de altitude. Devidamente equipados, começam a saltar, um a um, ancorados cada qual numa "cadeirinha", que desliza sem esforço por fios de cabos de aço.
Na "megatirolesa", o trajeto é de 1.100 metros, percorridos em aproximadamente dois minutos, a depender do peso de cada participante e das condições do vento. É tempo suficiente para atingir 60 km por hora.
As imagens se sucedem como num videoclipe de atração turística: lago de pesca, piscinas, o "Bird Land", viveiro que se estende até a altura da copa das árvores onde vivem cerca de cem espécies, um parque aquático, banhistas acenando lá de baixo e uma vista completa de uma praia do tamanho de quatro campos de futebol. Sim, uma praia artificial com ondas de até 1,20 m de altura em pleno cerrado, a 1.000 km do oceano.
Em terra firme, antes mesmo de a adrenalina baixar, é o momento de ir para a água. Primeiro, em uma aula rápida, um instrutor ensina a manusear o remo e a tomar certos cuidados ao descer o rio. Em seguida, sobre botes, os visitantes seguem um percurso de águas claras e fundo pedregoso, com vegetação exuberante dos dois lados. Ali, em meio ao silêncio da natureza, o barulhinho da correnteza domina a travessia.
O rafting recebe classificação "nível 1", ou seja, é tranquilo e favorável até para crianças, com uma parada numa piscina natural para um merecido mergulho. Mesmo numa área sombreada, a temperatura da água é morninha. Isso é o rio Quente, que serpenteia o complexo do mesmo nome, área de 497 mil m² (ou 99 campos de futebol), onde funcionam três hotéis e dois parques aquáticos. O curso natural é formado por águas que brotam de 18 nascentes. A origem das termas é a água das chuvas que se infiltra cerca de 2.000 m no subsolo e recebe o calor das profundezas. Por causa da alta pressão, volta à superfície. Imagine: são cerca 6,5 milhões de litros de água jorrando por hora a uma temperatura média de 37,5° C.
Como a água está gostosa, ninguém quer sair dela. O lago do rio Quente, embora seja artificial, é verde azulado como o mar. Do alto da ponte do Hot Park, parque temático que é uma das atrações do Rio Quente Resorts, dá para avistar espécies de peixe como tambaqui, tabatinga, tilápia e o impressionante pirarucu. Um dos maiores peixes de água doce do mundo, o pirarucu pode chegar a 3 m de comprimento e pesar quase 200 kg.
Adora ficar próximo aos deques, onde o instrutor orienta mergulhadores que irão submergir até 3 m, profundidade suficiente para dar de cara com cardumes e percorrer cenários "plantados" no fundo do lago, como um navio e imagens de um Cristo Redentor, de uma sereia e de um Netuno.
A visibilidade por lá chega a 80%, segundo a equipe de mergulho, que promove o chamado "batismo". Traduzindo: você só precisa respirar pela boca e deixar-se conduzir. Não é necessário saber nadar. Caso tenha alguma dificuldade de respirar, faça o sinal de "positivo", para ser levado à superfície. Já "batizado", o mergulhador tira o snorkel, o cilindro e as nadadeiras e segue, ainda curioso, diante da quantidade de peixes ao seu redor. Eles ficam por lá, enquanto o visitante se guia para mais um momento "relax", a poucas caminhadas dali, rumo ao parque das Fontes, complexo formado por piscinas, duchas, saunas e ofurôs de água quente que funcionam (acredite!) 24 horas por dia. Seja qual for a escolha, é para entrar de mansinho, aclimatando-se aos poucos.
Passa das 17h30 quando cigarras e grilos orquestram a sinfonia de fim de tarde na mata. O alerta, contudo, vem lá do alto: de um casal de araras-canindés que, ao embaralhar a cor púrpura do céu com sua plumagem azul e amarela, anuncia o cair da noite, já cravejada de estrelas. Amanhã, parecem assim dizer, vai ser mais um dia quente no cerrado.
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NÃO VOLTE SEM...
... passar ao menos uma madrugada dentro das piscinas aquecidas, namorando o céu cravejado de estrelas, bebericando uns bons drinques.
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