No Jardim América, jovens transformam casa que será demolida em espaço de criação artística

Colocada em cima de cavaletes, uma antiga porta de armário faz as vezes de mesa para o quintal. O espaço onde funcionava uma edícula agora dá lugar a um ateliê de gravuras. As paredes exibem pinturas, desenhos, projeções, fotografias e ferramentas de trabalho. Na área que um dia foi uma sala de estar, computadores convivem com tintas e pincéis.

E, assim por diante, há pouco mais de um mês, cada cômodo de uma antiga residência no Jardim América, zona oeste de São Paulo, foi sendo transformado por 20 jovens em espaço de criação, a Casa Dez Barra Doze.

"Não somos um coletivo e não estamos fazendo exatamente um ateliê ou uma residência artística", explica Pedro Ivo Verçosa, 30, um dos jovens. "É uma casa com artistas produzindo dentro. No que isso vai resultar só descobriremos em dezembro."

Em dezembro, porque o casarão tem data para ser demolido: em 10/12, o imóvel que pertence à família de Anita Kuczynski, 23, artista que iniciou o projeto, será somado à área de sua residência, instalada ao lado.

Até lá, a Casa Dez Barra Doze funciona principalmente como um espaço de diálogo entre os frequentadores. Bancada por eles e organizada coletivamente, a iniciativa reúne pessoas na faixa dos 20 anos, a maioria delas recém-formada ou em vias de concluir suas graduações em artes visuais na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) ou na USP (Universidade de São Paulo).

"Há desde gente que já realizou mostras individuais até quem enviou vários editais, mas nunca conseguiu expor nada", afirma Rafaela Foz, 22, que trabalha com vídeo, instalação e colecionismo.

Pétala Lopes/Folhapress
Rafaela Foz, 22, que trabalha com vídeo, instalação e colecionismo
Rafaela Foz, 22, que trabalha com vídeo, instalação e colecionismo

Para fomentar o desenvolvimento de suas pesquisas, eles realizam apresentações noturnas de seus processos criativos, nas quais exibem trabalhos recentes (concluídos ou não) e trocam referências.

"É uma forma de conhecermos as propostas uns dos outros e de pensarmos em possíveis parcerias", comenta Beatriz Figueira, 24 —atualmente pesquisando linguagens como gravura, desenho, pintura e fotocolagem.

"A Casa também é uma maneira de fugirmos da bolha institucional da faculdade", diz Foz. "A Faap, por exemplo, aposta em um viés mais contemporâneo, visando a inserção no mercado. Aqui buscamos alternativas para produzirmos", acrescenta o artista Gabriel Pitan Garcia, 22.

No próximo sábado (20), pela primeira vez, o espaço estará de portas abertas para o público. Das 14h às 23h será possível ver o que vem sendo feito ali.

Para comparecer, é necessário confirmar presença no evento do Facebook ou enviar o nome para o e-mail casadezbarradoze@gmail.com. "Estamos tentando criar nossas próprias oportunidades, sem ficarmos à mercê do mercado", diz Kuczynski

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