Alfaiates contrariam expectativas e voltam à moda em São Paulo

A entrada do pequeno sobrado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde funciona o ateliê do estilista João Pimenta, 48 anos, pouco revela do que se pode encontrar ao atravessar a porta. Depois de uma sucessão de cômodos, chegamos à oficina de costura onde ele produz roupas sob medida.

Há cinco anos, Pimenta decidiu incluir a alfaiataria em suas atividades, contrariando os que preconizam sua extinção diante do avanço da indústria.

Além de atender noivos, especialmente os que optam por casamentos na praia ou no campo, ele conquistou uma turma de skatistas e rappers que ostentam seus trajes em festas e premiações. Da tomada das medidas à montagem final da peça, tudo é feito lá mesmo, de forma artesanal. O custo inicial de um costume é de R$ 5.000.

Em 2009, depois de seis anos trabalhando com Ricardo Almeida e quatro com João Camargo, pioneiros na glamorização da alfaiataria, o paulistano Fabricio Silva, de 34 anos, partiu para um voo solo. Desde então ele promove desfiles em que coloca sua clientela eclética na passarela. Com estilo marcado por cores incomuns e forros exóticos, ele desafia o espectro cinzento do gosto médio brasileiro para trajes finos.

As peças são produzidas em oficina própria no Itaim Bibi, em São Paulo, sempre com tecidos italianos e ingleses. "Diferentemente do esperado, agora são os filhos que apresentam os pais ao seu alfaiate pessoal", diz ele, que há dois anos adotou o nome Fabrizio Allur para si mesmo e para sua marca.

Ambos se beneficiam do aumento na procura de parte dos paulistanos pelo que é artesanal, embora essas roupas passem, muitas vezes, por processos semi-industriais. O alfaiate Bruno Colella, de 36 anos, que produz peças manualmente no seu ateliê na Vila Nova Conceição desde 2013, diz que é possível usar recursos tecnológicos em algumas etapas, como inserção de entretelas e acabamento, sem tirar o caráter artesanal da roupa.

Ele também oferece, no entanto, a possibilidade de ter uma peça inteiramente costurada à mão -o preço, naturalmente, é mais alto.

O gaúcho radicado em São Paulo Vasco Vasconcellos, 46 anos, conhece o que a tecnologia pode fazer por um terno. Há quatro anos, ele comercializa por aqui roupas personalizadas da multinacional belga Scabal, num processo que inclui envio das medidas do cliente para a Bélgica por meio de software especializado e confecção manual das peças na Alemanha com tecidos ingleses.

Paralelamente, ele e seus sócios, Sergio Luizetto e Guillermo Tizon, montaram uma oficina na Vila Nova Conceição, em São Paulo onde produzem costumes de forma rigorosamente artesanal.

"Nossa inspiração vem dos alfaiates napolitanos que resistem aos mecanismos de produção em massa," afirma Luizetto.

O preço do processo, que leva até crina de cavalo no interior do paletó, para melhor se moldar ao corpo, começa em R$ 9.000.

Na Galeria Ouro Fino, em São Paulo, distante dos holofotes, Augusto Ulian, de 90 anos, dá expediente todos os dias e produz cinco trajes por mês.

Manuseando tesouras e agulhas desde os 13, então como aprendiz de alfaiate no interior de São Paulo, o sr. Ulian teve entre seus fiéis clientes o estilista Clodovil Hernandes, morto em 2009.

Há quase um século, ele faz o que a nova geração reinventa como sinal de distinção. E diz que um terno feito à mão é sim, nobre, mas não garante elegância. "O que conta muito é saber tirar a medida corretamente para que a roupa tenha bom caimento e leveza no movimento," diz o mestre.

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