A vida num studio: receber visitas dá a sensação de levar todo mundo ao seu quarto

Escrevo esse texto na última de sete noites que passei morando em um apartamento studio de 25 m² na Vila Olímpia, em São Paulo.

A primeira dúvida foi: onde escrevê-lo? Na cama? Na mesa de jantar? Sentado no sofá? Cada uma delas fica a literalmente um passo da outra. Sentado na cama, tenho o sofá à frente, a sala de jantar do lado, e a cozinha ao lado da TV.

Nesse período, não me senti confinado. As amplas janelas e o jogo de luzes ajudam nisso. As lâmpadas, oito ao todo, são como pequenos e fortes holofotes, usados para iluminar obras de arte em galerias. Olhar direto para elas lembra a sensação de estar em estúdio de TV. Talvez daí o nome.

O maior estranhamento é a confusão de cômodos. No começo, tentava criar mentalmente os limites do que seriam os cômodos, sem muito sucesso. A sensação é de estar em todos ao mesmo tempo, ou de viver trocando de ambiente freneticamente a cada passo. Para chegar ao banheiro, preciso passar pela cozinha e pela sala. Levanto da cadeira da mesa de jantar e desvio do criado-mudo. Ao organizar as roupas, espalho-as entre cama e sofá, um na frente do outro.

Em tempos de festas, onde montaria a árvore de Natal? Se colocar do lado direito do sofá, pode parecer que ela está no "quarto". Se for do lado direito, ficará na cozinha.

Outra sensação frequente é a de estar em um quarto de hotel. No studio, a cama é a grande estrela. Enorme e confortável, vira um convite para sempre se voltar a ela. Ao cozinhar algo, dá para esperar deitado sem tirar o olho da panela. Porém, se algo queimar, o cheiro impregnará facilmente o lençol.

Receber visitas em casa com a cama à vista dá a sensação de estar levando todo mundo ao seu quarto. Para que caibam mais de quatro amigos, alguém vai ter de se sentar na cama.

Com pouco espaço para móveis, é preciso habilidade para não acumular coisas e nem gerar muito lixo de uma vez.

O prédio oferece facilidades como lavanderia no térreo, academia, piscina e um grande lobby, com sofás confortáveis, para receber grupos maiores. Embora confortáveis, é como marcar um encontro da turma em um café, mas sem café nem comidas por perto. Há uma geladeira para armazenar bebidas aos convidados.

Na semana do teste, em meados de dezembro, vi pouco uso dessas estruturas. No sábado a tarde, dia lindo e escaldante, apenas um casal aproveitava a piscina.

Segundo a recepção, fui o primeiro morador a requisitar o empréstimo de bicicleta. O veículo, bastante completo, só pecou pela falta de corrente e cadeado. Sem isso, não dá para ir com ela ao mercado, por exemplo.

Por um valor extra, entre R$ 50 e R$ 100 por utilização, o edifício oferece serviço de arrumação e limpeza, que inclui deixar a cama feita e a louça, lavada. Ótimo para quem chega tarde e já acorda na hora de ir ao trabalho.

Para quem fica pouco tempo em casa e usa esse período para mexer no celular, assistir TV, ler, comer pratos rápidos e dormir, o studio é boa opção. Para outras funções de uma casa, como experimentar receitas, viver com outra pessoa, ter um animal de estimação e guardar muitas recordações de uma vida, é melhor buscar outros "produtos" imobiliários.

Um studio similar ao que foi testado pela reportagem custa a partir de R$ 400 mil. Por mais R$ 50 mil, ele é entregue já mobiliado. O aluguel custa entre R$ 1.500 e R$ 6.000 mensais, dependendo da unidade.

A sãopaulo morou no VN Casa do Ator a convite da Vitacon.

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