Início da vida escolar dos filhos enche mães de dúvidas e incertezas neste começo de ano

Ilustração Fabiane Langona
#arsao1501. Ilustrações para a matéria de como escolher a escola do filho

Com que idade coloco o meu filho na escola? Rede pública ou particular? Dou conta da mensalidade? Como escolho a escola certa? Quando o tema é educação infantil (de zero aos seis anos de idade), uma avalanche de perguntas pode surgir ao mesmo tempo e no mesmo lugar: a cabeça dos pais.

A jornalista Sarah Maluf, 32, acaba de vivenciar essa experiência. Mãe de Flora, prestes a completar dois anos, ela encontrou na vontade de se dedicar mais ao trabalho e na necessidade da filha socializar com mais crianças a resposta que buscava para a pergunta: quando matricular minha filha na escola?

"A partir daí, fiz uma lista com uma série de escolas próximas à minha casa e com propostas pedagógicas com as quais eu me identificava e fui visitá-las com o meu marido", afirma Maluf. "Não é uma decisão fácil. Uma coisa importante, que muitos não entendem, é que essa é a fase de formação da criança como pessoa, por isso não podemos subestimar a importância do ensino infantil."

A escolha do casal foi baseada em diferentes critérios, como a limpeza e a conservação do espaço, o tipo de alimentação oferecido e a linha pedagógica adotada.

Maluf e o marido, o publicitário Otavio Santana, procuravam escolas que propõem um estímulo maior à autonomia da criança, assim como o respeito ao ritmo e ao tempo de cada uma em relação à adaptação escolar, ao desfralde, ao desmame e à alfabetização.

Ilustração Fabiane Langona
#arsao1501. Ilustrações para a matéria de como escolher a escola do filho

Resultado: no mês que vem, Flora será apresentada aos colegas de turma na Teia Multicultural, perto do parque da Água Branca, na zona oeste.

A região vizinha ao parque reúne outras unidades de ensino com propostas parecidas como a escolhida pelo casal, como o Colégio Invenções, o Projeto Leve, ligado à escola democrática Politeia, e a Grão de Chão.

Após uma primeira experiência frustrante, Vanessa Ferrer, 32, que faz mestrado em literatura, escolheu a Grão de Chão para matricular a filha, Lira, 3. A mudança foi em 2015. "O processo de adaptação da Lira foi maravilhoso. Eles deram uma atenção muito especial a esse momento, que pode ser muito difícil."

Embora satisfeita com a qualidade e o projeto pedagógico da escola, o reajuste nas mensalidades deste ano fez com que Ferrer pesquisasse alternativas. Uma delas era colocar Lira em uma unidade pública. "Fui um pouco desestimulada por conta da fila de espera, mas ainda penso em me inscrever para, quem sabe, conseguir uma vaga ao longo deste ano ou do próximo", diz ela.

A rede pública também é uma das opções consideradas pela empresária Luciana Obniski, 33, para a filha, Helena, de nove meses. "Por que partimos do princípio de que escola pública não [pode]? Essa sempre foi uma possibilidade que considerei", afirma ela, que tem amigas que conseguiram vagas e estão satisfeitas com as unidades municipais que os filhos frequentam.

"Fico me perguntando: 'Será que vale a pena eu pagar uma mensalidade caríssima que não me permita oferecer nenhum curso extracurricular à minha filha? Ou ainda: oferecer uma educação cujo projeto pedagógico possa estar totalmente datado?'"

ALTERNATIVA

Com a demanda por outros modelos e preços de mensalidade menores, surgiram coletivos formados por pais com filhos em idades que variam, em média, de 1 a 4 anos. A proposta deles é reunir as crianças diariamente em um mesmo lugar para interagir e brincar, durante cerca de quatro horas por dia. Nesse período, elas são acompanhadas por educadores e, dependendo do coletivo, de um dos pais, que se revezam.

O modelo, mais enxuto —os únicos funcionários são praticamente os educadores— e que pressupõe o envolvimento maior dos pais, repercute no valor das mensalidades, inferior ao de escolas particulares.

A figurinista Nana Calazans, 34, é uma das mães que viu em um dos coletivos o modelo de educação que buscava para a filha Cora, 2. De segunda à sexta, ela cede o quintal de sua casa, na rua Aurélia, na Lapa, zona oeste, para receber as crianças do coletivo.

Árvores de acerola, romã e manga compõem a paisagem do espaço onde cerca de dez crianças brincam acompanhadas por dois educadores.

Todas as outras funções são desempenhadas pelos pais, inclusive a limpeza. "A proposta é que haja realmente um grande envolvimento nosso no projeto. As famílias se tornam uma rede de apoio muito importante", afirma Calazans.

Em outro coletivo, o Orimirim, na Vila Anglo Brasileira, na zona oeste, os pais aproveitam os encontros semanais para discutir e se aprofundar em alguns nomes da pedagogia, como John Holt, Maria Montessori e Ana Thomaz.

"Dessa forma, nós nos preparamos para atender melhor às necessidades das crianças", diz a artista plástica Adelita Ahmad, 34, mãe e integrante do Orimirim. "Sou realizada e agradeço por fazer parte desse processo, mas acho importante enfatizar que não somos uma escola. Somos uma comunidade de aprendizagem, um espaço para o livre brincar, para a fantasia, como um quintal de casa de avó", afirma ela.

Ilustração Fabiane Langona
#arsao1501. Ilustrações para a matéria de como escolher a escola do filho

*

MINIGUIA DE BOLSO

Maria de Fátima Nogueira, psicopedagoga, sugere o que fazer, observar ou considerar no momento de escolher a escola do filho

Conhecidos
"Ter um amigo ou parente no ambiente escolar gera segurança na criança, facilitando a adaptação dela"

Visita à escola com a criança
"É nessa interação com os profissionais que os pais sentirão se as crianças, ou os bebês, serão bem acolhidos ou não"

Estrutura
"Fique atento às questões de segurança e aos espaços disponíveis. Veja se há área externa, tão importante para as atividades psicomotoras das crianças, e confira as salas de aula -o número de alunos que comporta e a quantidade de professores por sala"

Logística
"É fundamental que a escola esteja localizada em um local de fácil acesso, de preferência perto da casa ou do trabalho dos pais. A criança não tem a noção real de tempo, então a demora dos pais na hora de buscá-la pode gerar muita angústia"

Mensalidade
"Na crise, as escolas estão abrindo espaço para a negociação. Se a mensalidade estiver pesando no bolso, não deixe de tentar negociá-la"

Avaliação Geral
"Com ou sem crise, é importante avaliar o 'pacote': mensalidade, atividades extracurriculares e tempo da criança na escola."

Publicidade
Publicidade