Mamães paulistanas contam como a maternidade transformou suas vidas

"Mãe é tudo igual, só muda de endereço." Esse dizer antigo não podia estar mais errado: mãe é tudo diferente. Cada uma é uma. Talvez o que toda mãe tenha em comum seja o sentido de imperfeição. (Calma! Pode ser que a sua mãe seja perfeita, e nesse caso ela será assunto para uma próxima reportagem.)

A verdade é que todas as melhores intenções não serão suficientes para erigir alguém -uma supermãe?- com capacidade de controle integral sobre coisa alguma. Tudo tem limite -até a vontade mais aguerrida de uma mãe.

O Dia das Mães é para homenagear todas elas. Aquelas que não estão mais aqui, as que queriam estar mais presentes, aquelas para quem a maternidade foi a melhor coisa da vida e as que fazem o possível.

Escolhemos cinco mães para representar toda essa "categoria". Conheça-as a seguir.

CLARISSA PASSOS, 39

Eduardo Knapp/Folhapress
A jornalista Clarissa Passos, a espera de seu filho, Domenico

Domenico Lui Passos Baitello nasceu no dia 19 de abril deste ano, com 3,95 kg e 52 centímetros. "É um barato ser mãe!", celebra a editora Clarissa Passos. "Não vejo a hora de mostrar o mundo para ele." O menino é o primeiro filho dela e do marido, o engenheiro Ricardo Baitello, que estão casados há dez anos.

"Ótima" é como Clarissa classifica sua gestação. "Não tive dores ou inchaço, só um pouquinho de enjoo e falta de ar", lembra.

No terceiro trimestre, porém, houve uma complicação: ela desenvolveu diabetes gestacional. "Controlei no início com dieta e depois com insulina", explica, sobre a disfunção que passaria com a chegada do bebê. Ela montou uma lista das coisas que queria comer quando o nenê nascesse. Em primeiro lugar? "Pastel de feira. Hmmmmm."

Para além das mudanças físicas, Clarissa viu os nove meses de gravidez como um período de preparo e de reflexão. "Ao mesmo tempo em que minha idealização sobre ser mãe foi se tornando mais realista, aumentou a expectativa do 'Ric' sobre ser pai."

Eduardo Knapp/Folhapress
O pequeno Domenico nasceu no dia 19 de abril

Surpresa foi perceber como, na sua opinião, é mínimo o controle da mãe sobre o processo de gestação de uma criança. "O bebê vai se fazendo por conta dele. Você [mãe] é apenas o lugar onde isso está acontecendo. [Com a proximidade do parto] Me sentia à beira de um trampolim, na hora do salto. Olhando para baixo, para o azul profundo, pensando: vou mergulhar nisso aí."

*

CAMILA MARTINES, 32

Eduardo Knapp/Folhapress
Camila brinca com seu filho adotivo, João Vitor, de 1 ano

Um telefonema mudou a vida de Camila Martines. "Vocês ainda têm interesse em adotar uma criança?", foi a pergunta do outro lado da linha. Os corações de Camila e de seu marido, Eduardo Martines da Silva, 38, deram um salto.

Camila e Eduardo começaram a namorar quando ela tinha 15 anos. Casaram-se em 2009. Mesmo com tratamentos hormonais (e até simpatias), ela nunca engravidou.

Em dezembro de 2014, eles entraram com o pedido de adoção na Vara da Infância e da Juventude de Itaquera. Depois, cumpriram uma peregrinação burocrática para reunir documentos, laudos clínicos e psicológicos, frequentar cursinhos e receber visitas de assistentes sociais. "Até escrevi uma carta para meu filho, explicando como ele foi adotado", diz Camila.

No dia 18 de novembro de 2016, foram chamados para conhecer João Vitor, de um ano e quatro meses. João ganhou uma nova família em 25 de novembro. "Finalmente, o quartinho mobiliado e vazio agora tem vida", celebra a mãe.

Em abril, Camila foi informada de que nascera uma irmã biológica de João e a prioridade para adoção era do casal. Ela e Eduardo decidiram ficar com o bebê de quatro meses. "Queremos que os irmãos cresçam juntos", disse Camila. Na última terça (2), a avó biológica pediu a guarda da menina. "Ficamos tristes, mas ao menos ela estará com a família. Pedimos a Deus que receba muito carinho."

*

TATIANA HERRERIAS, 41

Eduardo Knapp/Folhapress
Tatiana Herreiras, segura a filha Julia, de 20 dias, em sua casa no bairro Aclimação

Tatiana Herrerias e Augusto Machado, 46, a Tati e o Guga, viveram uma história de amor digna de novela. Conheceram-se quando ainda eram adolescentes. Ela tinha 16 anos e ele, 22.

Ao entrar na faculdade de odontologia, o jovem desistiu de namorar a menina, que ainda estava no colégio.

E por um bom tempo que se seguiu, eles se perderam de vista. Em seu primeiro casamento, que durou dez anos, Tati fez inseminação artificial, mas perdeu o bebê. Guga, por sua vez, casou-se com a mãe de suas filhas mais velhas, Beatriz, 14, e Ana Clara, 4.

Tati e Guga estavam separados quando se reencontraram por meio de redes sociais. Estão casados há dois anos. Na casa de vila em que moram na Aclimação, o quarto, que Ana e Bia ocupam quando ficam na guarda do pai, ganhou um berço. "Cada pedaço é de uma, para não dar confusão", diz a enfermeira Tati.

Júlia nasceu no dia 4 de abril deste ano, com pouco mais de 3 kg e 48 cm. Tati completou 41 anos no dia 16 de abril.

"Parei de tomar pílula aos 40. Três meses depois, estava grávida. Quando a menstruação atrasou, pensei que era menopausa. Nunca achei que fosse engravidar", diz ela. "Minha gestação foi perfeita."

O papel do ginecologista Samir Abdallah Mustafa foi importante para ajudá-la a entender o que viria a seguir. "Ele me convenceu de que vou ter que desacelerar por alguns meses", conta. "E me aconselhou a não pirar e virar uma dessas mães consumistas. Depois a criança cresce e a gente fica com um monte de coisa entulhada que o bebê nem usou."

Hoje, ela está serena. "Ser mãe é delicioso."

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MARIANA ELISABETSKY, 38

Eduardo Knapp/Folhapress
Mariana com os gêmeos Mia e Gael, 6

Imagine uma casa em que, para entreter as crianças, a mãe se senta ao piano e entoa canções do musical "O Rei Leão". A plateia, no caso, são Mia e Gael, gêmeos de seis anos de idade, filhos de Mariana Elisabetsky e Paula Izzo, 42.

Mariana é atriz, cantora, dentista e, mais recentemente, roteirista e tradutora. "Quando tive filhos, quis buscar uma atividade que pudesse fazer de casa", conta. São dela as versões em português dos musicais "Wicked" e "Rent" e de canções do filme "A Bela e a Fera" e da animação "Moana", da Disney.

Mariana sempre sonhou com a maternidade. Aos 17 anos, ela começou a namorar meninas. À época, ficou sem saber como ia conciliar a vontade de ser mãe, que vinha desde pequena, com sua orientação sexual.

Aos 18, teve diagnosticada uma mutação nos genes BRCA, alteração que eleva as chances de mulheres com mais de 30 anos de desenvolverem câncer de mama. Mariana decidiu, então, que ficaria grávida antes dos 30.

Aos 29 anos, interpretou a boneca Emília em uma montagem de "Sítio do Picapau Amarelo", na qual Paula trabalhava como cenógrafa. As duas se apaixonaram, e Mariana contou a Paula sobre o projeto urgente de ser mãe. Paula topou.

As duas procuraram um médico de reprodução e escolheram um doador anônimo após avaliar, segundo Mariana, diferentes características (como idade, cor de olhos e cabelos e hábitos de vida) em "uma planilha de Excel".

Os óvulos e a barriga usados na gestação foram de Mariana. Paula passou por tratamento para também poder amamentar.

"Tínhamos a ilusão de que, com dois bebês e quatro peitos, as duas poderiam dormir mais. Isso nunca aconteceu", diz Mariana.

O volume de leite que Paula produziu não era suficiente para uma mamada completa. "A gente brincava que ela servia a salada ou a sobremesa, mas o prato principal era comigo."

Mariana amamentou Mia e Gael por um ano e dois meses. Há dois anos, o casal se separou. Mas as duas seguem juntas no projeto de maternidade. Sempre falaram abertamente da família que construíram.

"Quanto mais gente souber que existem famílias com duas mães, mais fácil será a vida dos nossos filhos no futuro. As pessoas vão acomodando isso na cabeça."

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FERNANDA ARANDA, 32

Eduardo Knapp/Folhapress
Fernanda, grávida de seu terceiro filho, brinca com gêmeas Olivia e Clara

Mãe das gêmeas Clara e Olívia, Fernanda Aranda descobriu em dezembro que estava grávida novamente. O bebê não foi planejado. Clara e Olívia às vezes sofrem com a ideia da criança que vem aí, mas Fernanda sabe que não é justo deixar de sentir felicidade com as piruetas que Martin faz em sua barriga.

Ela descobriu que, para ser "mãe coletiva", é preciso lidar com alegrias e tristezas individuais. A seguir, diário escrito por Fernanda durante um mês e meio de sua gestação.

13 de março - 17ª semana
"Ter um filho aos 30 e poucos anos, com a carreira evoluindo, parece disparate. Após madrugadas em claro para cuidar da febre da Clara, lições de casa de Olívia, véspera de reunião importante, pergunto-me: 'Dou conta de mais um?' Na volta, elas anunciam o 'presente especial' para o futuro irmão ou irmã. 'Ele vai adorar ganhar presentes e comer tapioca', decreta Olívia."

20 de março - 18ª semana
"Achei que estava fazendo tudo certo. Comprei duas bananadas, os doces preferidos de Olívia e Clara, e corri à escola delas para contar a novidade, confirmada duas horas antes pelo ultrassom: é um menino. 'É o Martin que está aqui dentro', digo às duas. Elas não gostaram. Fizeram birra, jogaram-se no chão. Mas não dispensaram o doce -isso seria demais. Já na cama, arrisco: 'Beijo de boa noite?' Olívia beijou minha barriga. Clara finalizou: 'Tchau, Martin'."

27 de março - 19ª semana
"Me pego zerada no enxoval. Deu tempo de começar a pensar no quarto e comprar algumas roupas. A 'bisa' está fazendo um casaquinho lindo de lã azul. Tinha tanta certeza de que só teria duas filhas que me desfiz dos berços. O garoto inesperado faz tudo ficar novo de novo. Azia matinal das bravas."

3 de abril - 20ª semana
"Martin deve 'nascer dourado, com os olhos verdes e laranjas', segundo as irmãs. Ele se remexe dentro da barriga, mas não tem lugar garantido no banco traseiro do carro. Os automóveis populares não parecem feitos para famílias com três cadeirinhas. Os avós ficam com as gurias no fim de semana -eu e Fábio resolvemos sair para jantar. Voltamos às 21h30. O travesseiro é a atual balada que não troco por nada."

10 de abril - 21ª semana
"Saudade da época em que a barriga era o centro de tudo: avós de primeira viagem, marido que ainda não era pai, amigos entusiasmados. Agora é vida real, né?"

17 de abril - 22ª semana
"Ando como o pato Donald e sinto a lombar queimar. Martin já chuta forte. Clara e Olívia ensinam a tornar a espera mais gentil. Se antes delas eu vivia a certeza de uma paixão avassaladora e à vista, com o Martin sinto a tranquilidade de um vínculo sereno e a prazo, que se forma a cada dia."

27 de abril - 24ª semana
"Totalmente grávida, com um bebê de 531 g no ventre. Em cada braço, equilibro uma filha de 15 kg. Olho para Clara e para Olívia e agradeço. Com elas, a expectativa era de um amar impossível, que virou frustração diante do cansaço. Agora, sei amar mesmo na insônia. O passatempo predileto é montar a trilha sonora para o dia em que o parto virar realidade.

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