Em 'Ubu Rei', Marco Nanini vive personagem sem freio ético e moral

Cabéra/Divulgação
Cena de 'Ubu Rei', com Marco Nanini - Cabéra Divulgação
Cena do espetáculo 'Ubu Rei', com o ator Marco Nannini

"Boçal e violento." É assim que Marco Nanini, 68, define Pai Ubu, personagem que interpreta em "Ubu Rei", sátira política que chega ao Sesc Pinheiros, zona oeste, na quinta (18), após temporada carioca.

A peça, escrita em 1896 pelo francês Alfred Jarry, tem direção de Daniel Herz —a atriz Rosi Campos também está no elenco. Na trama, o anti-herói assassina o rei e usurpa sua coroa. Leia entrevista com Marco Nanini:

sãopaulo - Hoje, com cerca de 50 anos de carreira, o que busca como ator?
Marco Nanini - Viver o presente com intensidade, pois atuar é arte efêmera. Há que se aproveitar cada instante.

O que mais gosta no texto de "Ubu Rei"?
A perícia de contar uma história pérfida com humor de alta qualidade. Não é fácil. A solidez de sua dramaturgia dispensa engessar o intérprete (seja diretor, ator, figurinista, cenógrafo, etc...) com orientações em demasia. Assim como ele tomou liberdade para si ao criar sua obra inovadora, deixou também outros artistas livres para interpretá-las.

Em cena, quando grita "Merdra, merdra, merdra", no que pensa?
Atuando tenho que pensar como Pai Ubu, que está amuado com o cotidiano de sua vida medíocre. Uma vida de "merdra", mesmo. Mas isso vai mudar logo na primeira cena, pois Mãe Ubu (interpretada por Rosi Campos) manipula o marido para que ele dê um golpe no rei da Polônia e usurpe o poder.

Para você, o que Pai Ubu representa?
Um personagem memorável. Icônico. Seu desenho dramatúrgico tem o poder de uma charge. Direto. Sem mergulho psicológico. Ele simplesmente é pervertido, psicótico, sem freio ético ou moral. Boçal e violento, mas -olha o perigo!- absolutamente carismático e sedutor.

Alguma figura histórica ou contemporânea o inspirou para criar o personagem?
Nenhuma específica. Me inspirei nas informações que Jarry deu a seu personagem. Um caráter de covardia e corrupção. Uma gana por dinheiro e poder que, em seu extremo egoísmo, demonstra desprezo pelos demais seres humanos, e que rouba da população pobre sem constrangimentos -há uma cena explícita sobre isso. E por aí vai.

Existem Pais Ubus hoje?
Claro, muitíssimos. No mundo todo. Hoje e em todas as épocas. "Ubu Rei" servirá sempre para lembrar que eles não vão desistir. Por isso agora montamos a peça, para que o público observe e os reconheça neste momento de cafajestada mundial onde o Brasil tem lugar de relevo. Mas sem panfletagem partidária, porque os Ubus estão em todo lugar. Olhe ao redor, note as notícias que insistentemente nos agridem, reflita sobre a catástrofe moral. É o que propomos.

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Depoimento em cena
"A coisa que eu mais gostava nesse mundo, sem ser Deus, é a Folia de Reis. Sou chefe dela, mas perdi todos os instrumentos. Não ficou nada", relembra José Patrocínio de Oliveira. Aos 86 anos e pai de 24 filhos, ele sobreviveu à tragédia ocorrida em Mariana (MG), em 2016. A sua é uma das histórias contadas em "Hotel Mariana", peça em cartaz na Estação Satyros, na praça Roosevelt, que traz relatos colhidos pelo elenco uma semana após a queda da barragem.

Entre fotos e nomes
Os 50 anos da Tropicália são celebrados em "Alegria Alegria", musical com roteiro e direção de Moacyr Góes que acaba de chegar ao Teatro Santander, na zona sul. Conduzida por Zélia Duncan, que divide o palco com 15 atores, a história é contada principalmente por meio de canções de Caetano Veloso.

Teatro Santander - Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041, Vila Nova Conceição. Qui. e sex.: 21h. Sáb.: 18h e 21h. Dom.: 18h. Até 9/7. Ingresso: R$ 50 a R$ 250.

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