Seen, no alto do hotel Tivoli Mofarrej, tem comida desequilibrada e preços extravagantes

O Seen pode atrair por alguns atributos. Primeiro, o óbvio: fica no 23o andar do hotel Tivoli Mofarrej e, inteiro envidraçado, oferece uma supervista da cidade. O salão tem seu charme, pé-direito alto, um bar central, lustres modernos, sofá de veludo. Para quem é afeito, é um belo lugar para ver e ser visto, tem música alta, luz baixa (mal dá para enxergar a comida) e um ar de exclusividade.

A comida, pois, parece secundária no Seen. Falta unidade ao cardápio e os preços são extravagantes —não condizem com o que entrega. Eis, por exemplo, vieiras gratinadas, deitadas sobre creme de alho-poró e cogumelos. Quatro unidades custam R$ 98 e nem sequer podem ser celebradas. Sua delicadeza é massacrada por uma miscelânea de sabores —o perfume exuberante do azeite trufado, o parmesão maçaricado por cima. Uma violência ao molusco.

Do mar sai-se bem o ceviche, com equilíbrio, potência e brasilidade (R$ 45). Lâminas de peixe branco (este varia de acordo com a oferta, provei um bom linguado) passam rapidamente por uma marinada e mantêm textura preservada. O peixe é acomodado em um tucupi concentrado, intenso e com harmoniosa picância, e servido com sagu de coco, que traz delicadeza ao todo —na textura gelatinosa e no sabor suave. Falha a mandioca frita que guarnece o prato, com excesso de gordura.

Leo Feltran/ Divulgação
O ceviche do Seen, no hotel Tivoli Mofarrej
O ceviche do Seen, no hotel Tivoli Mofarrej

A fritura do cordeiro à milanesa, porém, foi bem caprichada. Finas fatias avermelhadas e tenras surgem envolvidas em farinha de pão, crocante e sequinha. Não fosse o exagero de alecrim no preparo, seria um acerto total (R$ 78, sem acompanhamentos).

Pode soar preciosismo, mas também não consigo levar a sério um cardápio que anuncia penne com camarão ao molho de champanhe, dill e pera (R$ 64) e leva à mesa uma massa passada do ponto, embalada em creme de leite com espumante e crustáceos tristes, passados do ponto. Muita pompa para pouca entrega.

Por falar em pompa, o balcão de sushi é pura ostentação e, de novo, não há equilíbrio: é um mata-mata de sabores e um incontido uso de azeite de trufa. Na ala dos "especiais", sushi de atum, foie gras e alho-poró crispy (este murcho, embebido em gordura; R$ 42, a dupla) e wagyu, salsa de trufa negra e ovo de codorna (R$ 44, a dupla).

Para chegar ao topo, há que cruzar os recepcionistas, subir 23 andares, dar o nome à hostess, atravessar uma cortina de veludo. Sentar ao balcão para esperar um lugar (a casa anda lotada), sentar à mesa e aguardar os pratos e, bem, comer quando a fome até já passou. Não falemos (de novo) da conta. Você está disposto?

Seen
Onde: Hotel Tivoli Mofarrej (al. Santos, 1.437, 23o andar); tel, 3146-5923.
Quando: de seg. a qui., das 19h à 1h; sex. e sáb., das 19h às 2h.
Avaliação: regular.

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