Corridas de rua se diversificam e transformam São Paulo na capital das provas

Os fantasmas da anorexia e da bulimia ainda rondavam Rafaela Souza. A estudante de medicina veterinária precisava encontrar uma forma de recuperar o corpo e a cabeça após enfrentar problemas de saúde. Calçou o par de tênis e foi correr.

Entre uma passada e outra, arejava a mente e se fortalecia. Percebeu os benefícios do exercício e que, correndo ao seu lado pelas ruas e pelos parques, outras pessoas dividiam com ela a mesma paixão.

Sete anos depois, Rafaela, 23, moradora do Campo Belo, na zona sul, já consegue superar os 42,195 km de uma maratona e é uma das atletas amadoras que compõem os batalhões que tomam o asfalto de São Paulo.

"O esporte me salvou e hoje correr faz parte de quem sou. É o momento em que me sinto forte", continua ela. "E a variedade [de provas paulistanas] é incrível, porque consegue trazer cada vez mais pessoas para a corrida. Quem sabe a corrida não pode mudar a vida de outras pessoas também?"

São Paulo oferece o maior e mais diversificado cardápio de provas do Brasil. Qualquer um pode encontrar a sua turma e sair correndo. Há disputas à noite, em locais fechados, pelas ruas da cidade, só para mulheres, para pais e filhos e até com tema das princesas da Disney.

Ao todo, o Estado de São Paulo recebe 29 dos 50 maiores eventos de corrida do país. O maior deles é a São Silvestre, que ocorre todo 31 de dezembro.

Uma das principais novidades desta temporada é a Tricolor Run, voltada para os torcedores do São Paulo. A primeira edição será no próximo dia 16, com largada e chegada no estádio do Morumbi. O Corinthians é outro clube paulistano que reúne seus fanáticos seguidores em uma corrida anual.

"O consumidor precisa de um novo motivo para correr na capital. Ao mesmo tempo, há muita gente nova entrando nas corridas", afirma Erich Beting, idealizador e organizador tanto da Timão Run e quanto da Tricolor Run.

"A ideia de montar a prova ligada a clubes é a união desses dois fatores", explica ele. "Dar um novo motivo para o corredor experiente e trazer quem é fanático pelo futebol, mas alheio a esse universo, a ter um contato com um novo esporte."

Um público que tem recebido atenção especial é o feminino —elas representam cerca de 40% dos corredores na cidade.

Giselli Souza, 36, é uma delas. A moradora da Bela Vista, no centro, começou a correr em 2005, quando estava em depressão devido ao câncer terminal de sua mãe.

Em 2013, quando estava prestes a disputar a primeira maratona, ela criou o site "Divas que Correm". Hoje, o grupo tem integrantes em 11 Estados. As reuniões na capital paulista chegam a reunir cerca de 200 mulheres. "Eu me vi com vontade de compartilhar as minhas descobertas e reuni-las em um clube em que todas pudessem dividir as suas experiências."

Nelson Evencio, técnico dela e presidente da ATC (Associação dos Treinadores de Corrida), nota o crescimento feminino. Em sua assessoria esportiva, 65% dos alunos são mulheres. "Quem mais nos procura são executivos, profissionais liberais e pessoas em geral que querem combater o estresse."

EVOLUÇÃO

Veterano das ruas, Evencio acompanhou o amadurecimento da organização das corridas por aqui. "Anos atrás, havia corridas muito desorganizadas, sem itens básicos, como trânsito interrompido, ambulâncias, postos de hidratação."

"Em São Paulo, criou-se um padrão [de qualidade] que não se encontra em outros países", acrescenta Danilo Balu, bacharel em esporte, que mantém o blog "Recorrido", sobre corrida. "É um mercado tão desenvolvido que foram criadas provas para todos os gostos e bolsos."

O treinador Marcos Paulo Reis aponta ainda o amadurecimento do público. "Os atletas não correm mais para ganhar camiseta, por isso as organizadoras têm investido mais em qualidade e variedade."

Para alguns corredores com nível avançado de treino e desempenho, no entanto, as opções poderiam ser ainda mais plurais. Quando chegou de Porto Alegre, em 2000, o leiloeiro Jacques Fernandes, 44, não conhecia ninguém que disputasse provas na rua. Em São Paulo, foi fisgado pela corrida e hoje viaja o mundo para disputar maratonas.

"As provas aqui têm evoluído muito. Quem vem de fora percebe a diferença", diz o morador do Brooklin. "Mas sinto falta de percursos mais variados. Acho que até pela logística da cidade as provas acabam repetindo os mesmos locais. Por que não correr na Faria Lima? Na Bandeirantes?"

As provas de rua já fazem de São Paulo a capital da modalidade no país. E, se depender dos participantes, vão invadir todos os cantos da cidade.

*

OS CAMINHOS PARA DISPUTAR UMA PROVA

- Fique atento aos calendários e escolha aquelas que lhe agradam

- Entre no site dos eventos e faça sua inscrição, que geralmente é aberta com antecedência e é paga

- Fique atento ao dia e ao local da entrega dos kits

- No dia, não esqueça o chip, que marcará o tempo e garantirá que haja um registro oficial do seu desempenho

*

CALENDÁRIO

16/7
São Paulo Run
5 km e 10 km
Largada: Estádio do Morumbi
Inscrição: tricolorrun.net

12/8
Run the Night
6 km e 12 km
Largada: USP
Inscrição: mysports.com.br/eventos/rtnsp2017

24/8
Maratona de revezamento Pão de Açúcar
42 km
Largada: parque Ibirapuera
Inscrição: corridaspaodeacucarnescau.ativo.com/maratona/sao-paulo/

8 /10
Meia-maratona de São Paulo
5 km, 10 km e 21 km
Largada: Jockey Club
Inscrição: 21ksudamericano.ativo.com/sampa/

20/11
Timão Run
5 km e 10 km
Largada: Arena Corinthians
Inscrição: sites.minhasinscricoes.com.br/timaorun2017

31 /12
Corrida de São Silvestre
15 km
Largada: av. Paulista
Inscrição: saosilvestre.com.br

Publicidade
Publicidade