Casa simples e hospitaleira no Tatuapé usa ingredientes sazonais em pratos vigorosos

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Tainha grelhada com cuscuz e salada de agrião com ovas do QuibebeTainha grelhada com cuscuz e salada de agrião com ovas do Quibebe
Tainha grelhada com cuscuz e salada de agrião com ovas do Quibebe

São Paulo tem a virtude de nos apresentar pequenos achados fora da rota óbvia dos restaurantes. Eis nesse balaio o novo Quibebe, que abriu despretensioso, numa casa simples no Tatuapé, a honrar um formato muito adequado aos tempos: bom e barato (paga-se R$ 29 por um belo prato principal e entrada).

A comida é bem-feita, traz o vigor das boas bases, feitas com tempo e esmero, e é apresentada com delicadeza nos pequenos detalhes —as louças, as panelinhas de aço.

Ainda não vale enfrentar o trânsito paulistano para chegar lá —o restaurante só serve almoço. Está na busca do equilíbrio, esforço de qualquer nova casa, e falha em alguns pontos-chave, como o tempero do caldinho de feijão, ralo e sem pujança. Mas acerta numa série de coisas, a começar pela escolha dos ingredientes —sazonais, em seu auge, e de bom custo-benefício.

Gustavo Rodrigues (ex-Remanso do Bosque, em Belém) faz um cardápio rotativo com liberdade e referências à cozinha brasileira.

Limpa, corta e embala peixes que recebe frescos ao longo da madrugada, na mesma cozinha, os quais fornece para clientes e restaurantes. E ao levar o peixe ao prato, também se sai bem. A tainha, por exemplo, é grelhada com pele crocante e carne úmida na companhia de um rico cuscuz e folhas de agrião polvilhadas de bottarga —as ovas do mesmo peixe secas e salgadas por ele, que toca a operação com a namorada, Marília Sriubas, dona de um atendimento gentil e delicado.

O arroz-cateto, de grãos curtos e arredondados, é combinado ao arroz negro em um prato que reúne boa ideia, bons ingredientes e técnica. Há ali uma inteligente mistura de cores e texturas —o arroz negro é mais firme, o cateto, macio (passam por cocções diferentes). Nacos de linguiça, pinhão e queijo enriquecem os arrozes, umedecidos em caldo de legumes, uma beleza.

As linguiças também dão corpo ao bolinho cremoso à base de batata, empanado com farinha panko, crocante. O creme de abóbora com carne-seca traz pedacinhos do fruto, que são apenas amassados, depois de assados, e tem sabor concentrado.

A codorna assada, intensa, merecia mais umidade. É acomodada sobre polenta cremosa, feita a partir de fubá de uma fecularia do interior de São Paulo hidratado com caldo da própria codorna.

As sobremesas são um descompasso.

A tortinha de chocolate (R$ 7) pode adoçar, mas não emociona —falta delicadeza à massa; uma pontinha de amargor lhe faria bem, mas o balanço final é bom. Bom e barato.

Quibebe
Onde r. Serra de Juréa, 698, Tatuapé, tel. 4883-2293.
Quando de seg. a sex., das 9h às 18h. sáb., das 9h às 16h.
Avaliação bom

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