Brasileiro que já lavou banheiro por Harley-Davidson hoje customiza motos

A cada hora de trabalho, Chrys Miranda, 43, dedica religiosamente 45 minutos às motos Harley-Davidson, enquanto os outros 15 são usados para conversar com a filha pela internet ou andar de skate por aí.

Assim é a rotina na Garagem Metallica (tel. 3815-2488), oficina especializada na marca americana, fundada por Miranda na Vila Madalena, zona oeste da cidade. "Sou metódico mesmo, dizem que é porque sou de touro."

Ali, entre caveiras e demônios estampados por todas as partes, ele trabalha com o irmão, um funcionário e dois cachorros, que vivem em um capô de caminhonete transformado em casinha. O trabalho começa antes das 7h, e é cronometrado. "Chego, dou comida para os 'dogs' e faço café. Depois, começo a me dedicar às motos."

As partes mais delicadas e detalhadas, de soldagem e pintura dos modelos, ficam para a noite. "Precisa de concentração, e é nessa hora que consigo prestar mais atenção", conta. Além disso, a Harley é uma moto cheia de "macetezinhos", diz o dono da oficina. "Tem que levar em conta o material que vai usar e até a temperatura."

O trabalho com a marca, que já tem quase 30 anos, começou no início da década de 1990, quando Miranda estudava design nos Estados Unidos e desejava trabalhar em uma loja da Harley-Davidson próxima da universidade. "Mas eles eram muito fechados, só aceitavam americanos."

De tanto insistir, conseguiu. Precisou limpar muito o banheiro do lugar antes de ganhar uma estação de trabalho própria, onde montava as motos e fazia pequenos reparos. O desempenho agradou aos chefes, e ele foi convidado a fazer cursos na sede da fabricante. Como a loja passou também a customizar motocicletas, para impulsionar as vendas, decidiu se especializar no ramo.

Quando retornou ao Brasil, após o 11 de Setembro, em 2001, já tinha uma clientela que conhecia o seu trabalho. "Hoje, temos muitos clientes antigos, mas queremos trazer novos. O pessoal acha que só fazemos personalização, mas também funcionamos como uma assistência técnica", diz.

No começo do ano que vem, Miranda voltará aos Estados Unidos para participar de uma competição de motos antigas. "Vencemos as duas últimas edições. Agora, queremos ganhar com uma Harley de 1910." Em setembro, esteve no Rock in Rio, onde exibiu seis modelos customizados. Eles foram leiloadas e arrecadaram R$ 207 mil, que serão revertidos para instituições sociais.

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