Contador aposentado se veste de Papai Noel há 18 anos no mesmo shopping de SP

É um homem –mas, em minutos, será uma lenda. Em uma salinha na garagem do shopping Pátio Higienópolis, ele veste camiseta vermelha básica e correntinha prateada com uma estrela de cinco pontas balançando. A barba branca que vai até o peito dá uma pista do que está por vir.

O relógio marca quase 10h quando ele coloca as luvas, põe o gorro e recebe ajuda para alinhar o casaco de mangas longas, o cinto e os óculos. Ao sair rumo ao trono do último andar do centro comercial, Cláudio Altruda, 77, deixa guardado mais do que seus pertences: deixa também o nome. A partir de agora, ele é o Papai Noel.

O ritual se repete há 26 natais –18 deles no mesmo shopping, onde o contador aposentado se veste de bom velhinho, distribui doces e recebe pedidos feitos por crianças. "Você vai entrevistar o homem ou o Papai Noel?", pergunta ao repórter. "Nos últimos anos, parece que os adultos se animaram. Eles agora tiram fotos, pedem presentes", conta, sem deixar claro se foi Cláudio ou o personagem quem fez o comentário.

Essa não foi a única mudança. Se antes as crianças juravam que tinham se comportado e sonhavam em ganhar bonecas ou carrinhos, os pedidos ficaram um pouco mais complexos. "Já ouvi menino de cinco anos pedindo o cartão de crédito da mãe. Vários querem tablet e celular."

Há também os que desejam brinquedinhos, coleira e ração. Como o shopping é conhecido por ser um dos mais "pet friendly" da cidade, o empreendimento atrai todos os tipos de família, inclusive as que têm "filhos" peludos e de quatro patas.

"Depois que começou essa moda de fazer foto de cachorro com o Papai Noel, complicou. Não me importava, pegava no colo. Só que teve uma mãe que reclamou. Disse que não sabia se o animal que eu havia acabado de segurar estava doente, vacinado. Aí comecei a negar."

Mas com o jogo de cintura típico dos papais noéis. O mesmo que ele precisa ter ao receber crianças da comunidade judaica, que tem forte presença no local. Judeus não comemoram o nascimento de Jesus e, consequentemente, o Natal. Mas celebram o Hanukkah, uma festa que pode ocorrer entre os meses de novembro e dezembro. "Nesses casos, desejo bom Hanukkah e falo para pedirem dois presentes: um na festa judaica e outro no Natal. Para o Papai Noel não tem problema."

Quando um menino de quatro anos interrompe a conversa para pedir um carrinho, o bom velhinho recebe a carta com o pedido e aproveita para ir almoçar. Quer dizer... Quem almoça é Cláudio. O Papai Noel deixa uma placa: "Fui alimentar as renas e já volto".

Publicidade
Publicidade