Cheia de cultura, rua Treze de Maio vira capa da revista alemã Flaneur

A rua Treze de Maio, na região do Bexiga, é talvez um resumo das pluralidades e também das contradições paulistanas.

Foi um pouco essa a impressão que tiveram Ricarda Messner, Fabian Saul e Grashina Gabelmann, respectivamente publisher e editores-chefes da Flaneur, revista alemã que a cada número retrata uma rua de uma grande cidade. O sétimo é todo dedicado à Treze de Maio. A publicação ainda terá um estande na Feira Plana, em São Paulo, a partir do próximo dia 23.

Para escolher uma via, o trio não busca necessariamente a rua mais conhecida, mas uma que resuma aspectos curiosos ou estruturais da cidade. A primeira edição da Flaneur, por exemplo, voltou-se à pouco glamorosa Kantstraße, em Berlim.

"Queríamos fazer da rua um meio de contar histórias em várias linguagens", explica Messner, 27, que fundou a revista em 2013. "'Flanar' [tradução do título da publicação] é ver a pluralidade do meio urbano que nos rodeia", diz Saul, 31.

É literalmente "flanando" que o trio inicia sua jornada. Chegam à cidade escolhida sem pesquisa prévia e andam para lá e para cá para sentir o clima do local. Uma vez selecionada a rua, passam algumas semanas visitando diariamente a via e conversando com os locais ("essenciais para edições", segundo Saul).

O resultado, feito em parceria com outras três dezenas de artistas, foge do jornalismo tradicional: não busca um retrato histórico, mas de impressões, reunindo entrevistas com moradores e intervenções artísticas.

Logo que chegou a São Paulo, no início do ano passado, o grupo ouviu muito sobre a rua Augusta, lembra Saul. "Mas, quando fomos à Treze de Maio, imediatamente vimos que queríamos mergulhar ali. Talvez porque muitas das contradições de São Paulo estejam espelhadas nela, talvez porque a rua tenha várias camadas de narrativas."

Interessaram-se em especial pela vida cultural da via e como ela concentra muito da imigração paulistana -passada e presente-, além da herança afro-brasileira.
"Cada cidade tem a sua energia. Para a edição paulistana, observamos e escutamos muito mais do que em outras cidades", explica Gabelmann, 28. Conversaram com cerca de 120 pessoas, de antropólogos a estudantes de arquitetura e moradores de rua.

Um dos textos, por exemplo, traz um depoimento de pai Francisco de Oxum, babalorixá da escola de samba Vai-Vai. Fala de sua relação com o Bexiga ("Por que Oxum me trouxe para cá? É um bairro conectado à Africa, conectado à água") e de suas participações na lavagem da Treze de Maio e na pastoral afro da igreja Nossa Senhora Achiropita ("o brasileiro é muito sincrético").

Além de estar na Feira Plana, a revista bilíngue (inglês e português) pode ser adquirida pelo site flaneur-magazine.com, por € 18 -R$ 71,82, na cotação de quinta (1°).

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FLANANDO

A "Flaneur" nasceu em 2013, quando a artista Ricarda Messner voltou a Berlim, após uma temporada nova-iorquina, e viu sua cidade natal com novos olhos. Desde então, teve edições sobre Kantstraße (Berlim), Georg-Schwarz-Strasse (Leipzig), rue Bernard (Montréal), corso Vittorio Emanuele II (Roma), Fokionos Negri (Atenas) e Boulevard Ring (Moscou). A próxima será sobre Taipei (Taiwan).

Feita em princípio com baixo orçamento (a primeira edição teve 1.000 exemplares; a última, 7.000) e sem retorno financeiro, a publicação hoje se sustenta com anúncios, venda de exemplares e o auxílio de instituições como o Goethe Institut, que convidou o grupo a São Paulo.

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