Balé da Cidade e São Paulo Companhia de Dança fazem aniversário com cortes no orçamento

São Paulo gosta de dança! Para uma metrópole que vive se sacolejando 24 horas por dia, essa expressão cultural encontrou em 2018 o ano perfeito para se manifestar. Alguns exemplos: um grande pas de deux clássico promete colocar Pirituba para girar. Na zona norte, a Vila Maria vai se render às oficinas. Em Heliópolis, prepara-se um cortejo conduzido por crianças. Bicampeã do Carnaval paulistano, a Acadêmicos do Tatuapé vai trocar o ziriguidum pelo balé.

Atividades assim serão conduzidas pelo Balé da Cidade e pela São Paulo Companhia de Dança, as duas maiores companhias da cidade e do estado de São Paulo (confira programação abaixo).

A ideia aqui é espalhar a dança por cantos distintos da metrópole: dos paralelepípedos do centro histórico às bibliotecas da periferia. Ambiciosa, a programação ocorre em um momento delicado, após os dois grupos sofrerem cortes que chegaram a 40% do orçamento no ano passado.

Mesmo com grana curta, há bons motivos para que as companhias celebrem: a primeira comemora cinco décadas de existência, enquanto a segunda faz dez anos em 2018.

dança

"Estamos vivendo um período de mudanças estruturais e financeiras", explica Ismael Ivo, diretor artístico do Balé da Cidade. "Mas sempre buscamos encontrar soluções para que arte da dança sobreviva."

Em 2017, o salário dos bailarinos foi cortado em 25% por dois meses, em acordo com a Secretaria Municipal da Cultura, para viabilizar o fechamento das contas do Theatro Municipal, sem que ocorressem demissões. A média salarial deles é de R$ 6.000.

O dinheiro para novas produções também minguou. No ano passado, por exemplo, a SPCD (São Paulo Companhia de Dança) teve redução de quase 40% na verba para as três criações obrigatórias estipuladas por contrato com a Secretaria Estadual da Cultura.

O gasto com a produção artística girou em torno de R$ 150 mil por estreia. Para ter uma ideia, o programa municipal Fomento à Dança de 2017 destinou R$ 250 mil para cada criação contemplada.

Mas a companhia não ficou parada assistindo à crise. Uma das soluções para criar mais espetáculos tem sido a busca de parcerias, como a feita com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), na montagem do segundo ato de "O Lago dos Cisnes", em novembro do ano passado.

Os ingressos para a famosa obra clássica, apresentada na Sala São Paulo, esgotaram em um dia. Para este ano, a SPCD incluiu a montagem completa do "Lago" em sua temporada oficial. Agora, a parceria deu um salto: será internacional, com a coreógrafa francesa Joëlle Bouvier. O resultado dessa união será apresentado no próximo semestre no Teatro Alfa, um dos principais espaços dedicados ao gênero na cidade.

BRASILEIRINHOS

O teatro oficial do Balé da Cidade é o Municipal. Já o da SPCD, o Sérgio Cardoso.

Nesses dois espaços, as companhias pretendem abrir as portas com quatro estreias cada uma. A primeira, na próxima quinta-feira (15), será "Um Jeito de Corpo", coreografia de Morena Nascimento com músicas de Caetano Veloso, iniciando as festividades do meio século do Balé da Cidade.

"Vejo este trabalho como uma oportunidade de o Brasil se revelar e se rever", diz Ivo, para depois completar: "Caetanear é uma forma de se reiventar, criar outros rumos".

A brasilidade também está na pauta de temporada do aniversário de uma década da SPCD, programada para começar em junho. Na estreia, a companhia trará espetáculos de dois coreógrafos paulistanos Thiago Bordin e Lucas Lima, e três remontagens ("Peekaboo", "Pas de Deux do Pássaro de Fogo" e "Supernova") do alemão Marco Goecke, coreógrafo do Nederlands Dans Theater e do Stuttgart Ballet, duas das mais famosas companhias do mundo.

Tem mais: está programado para este ano um espetáculo de Henrique Rodovalho, diretor da premiada Quasar Cia. de Dança, de Goiás, e a obra "Céu Cinzento", de Clébio Oliveira. Nascido em Natal (RN), Clébio fez carreira na Alemanha, onde recebeu o prêmio de coreógrafo mais promissor da revista especializada Tanz Magazine.

A história do Balé da Cidade está ligada à do Theatro Municipal. Espera-se que a companhia se instale definitivamente na Praça das Artes ainda neste ano, onde ficam os outros corpos artísticos do teatro.

Há mais de 40 anos eles se acomodaram em um prédio na rua João Passalaqua, no Bexiga. Ficariam ali à espera de um local adequado aos ensaios. Em 2013, a Praça das Artes, complexo para abrigar os grupos artísticos do Municipal, começou a ser ocupada.

Mudaram-se para local, um terreno que liga a rua Conselheiro Crispiniano, a avenida São João e o vale do Anhangabaú, as escolas de dança e de música, a Orquestra Experimental de Repertório e o Quarteto de Cordas da Cidade. O Balé ficou no fim da fila, esperando o término das obras.

Disputas entre John Neschling, diretor do Municipal entre 2013 e 2016, e Iracity Cardoso (diretora do balé na mesma época) sobre o papel dos bailarinos no teatro também contribuíram para a demora. Agora, a promessa da prefeitura é que, até o fim deste mês, eles deixem o prédio no Bexiga.

A cinco minutos dali, na Rui Barbosa, fica o Sérgio Cardoso, o teatro das temporadas paulistanas da SPCD, cuja sede está na oficina Oswald de Andrade, no Bom Retiro.
Como parte do programa educativo e de formação de público, os cerca de 700 assinantes da temporada da SPCD são convidados a visitar a sede, assistir a ensaios e conhecer bastidores da companhia. Para assinar, é preciso pagar entre R$ 100 e R$ 170 por ano.

Bancado pelo município, o Balé da Cidade leva estudantes da periferia para ver os ensaios na sua sede. "Quero um balé que, além de produzir coisas inovadoras, traduza um pouco a vida desta metrópole", diz Ivo.
O objetivo de ampliar o acesso do paulistano à dança conduz os deslocamentos das companhias do centro para os bairros. No caso da SPCD, também às cidades do interior paulista, com espetáculos e oficinas.
"Nosso projeto é ter bailarinos dançando o tempo todo, em diferentes espaços", afirma Inês Bogéa, diretora artística da SPCD.

Afinal, quem quer ficar parado?

Eduardo Knapp/Folhapress
Bailarinos da São Paulo Companhia de Dança, que completa 10 anos

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BALÉ DA CIDADE, 50

15 a 25 de MARÇO - "Um Jeito de Corpo - Balé da Cidade Dança Caetano", de Morena Nascimento

Qui. a sáb., às 20h; dom (18), às 18h, e dom. (25), às 20h

6 a 15 de JULHO - "Trovador", de Alessandro Pereira,"Frágil", de Itzik Galili, e "Deranged", de Cris Haring

Qui. a sáb., às 20h; dom (8/4), às 16h30, e dom. (15/4), às 18h

15 a 22 de SETEMBRO - "A Sagração da Primavera", de Ismael Ivo

Ter., qua., sex e sáb., às 20h; dom., às 18h

18 a 21 de DEZEMBRO - "Um Jeito de Corpo - Balé da Cidade Dança Caetano", de Morena Nascimento

Ter. a sex., às 20h

Theatro Municipal. Pça, Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090; theatromunicipal.org.br
Ingressos de R$ 20 a R$ 80

SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA, 10

21 a 24 de JUNHO - "Peekaboo", "Pas de Deux do Pássaro de Fogo" e "Supernova",de Marco Goecke

Qui. e sáb, às 21h; sex., às 21h30, dom., às 18h

28 de JUNHO a 1º de JULHO - "14'20", de Jirí Kylián, "Petrichor", de Thiago Bordin, "Instante", de Lucas Lima, e "Gnawa", de Nacho Duato

Qui. e sáb, às 21h; sex., às 21h30, dom., às 18h

5 a 8 de JULHO - "Suíte de Raymonda", de Guivalde de Almeida, a partir do original de Petipa, "Primavera Fria", de Clébio Oliveira, e "Melhor Único Dia", de Henrique Rodovalho

Qui. e sáb, às 21h; sex., às 21h30, dom., às 18h

22 a 25 de NOVEMBRO - "O Lago dos Cisnes", de Mario Galizzi, a partir do original de Ivanov e Petipa

Qua. e sáb, às 21h; sex., às 21h30, dom., às 18h

Teatro Sérgio Cardoso. R. Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136. teatrosergiocardoso.org.br
Assinatura anual: de R$ 100 a R$ 170 (vendas até 4/4)
Ingresso individual: de R$ 25 a R$ 50 (vendas a partir de 10/4)

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