É brega, mas é real: só existimos para amar

Já faz mais de 1 bilhão de anos que encontrar uma cara-metade é a coisa mais importante do mundo –sério: essa data aparentemente estapafúrdia corresponde aos mais antigos indícios fósseis de que certos micro-organismos estavam fazendo sexo.

Bichos que não acham alguém com quem trocar seus genes diante de uma lareira no inverno são os grandes perdedores do jogo da evolução. A gente só existe para amar: é brega, mas é a mais pura verdade biológica.

Caso ainda não tenha reparado, a vida é dura, e conflitos de interesse predominam até na hora do amor. O mais óbvio tem a ver com as diferenças entre machos e fêmeas. Por uma dessas injustiças ditadas pela história evolutiva dos animais, em geral recai sobre as moças o fardo de investir bem mais na relação (embora haja muitas exceções).

A questão é que óvulos costumam ser caros, em especial entre mamíferos como nós: produzidos em pouca quantidade, são grandalhões e exigem uma baita energia para ficarem prontinhos para a fecundação. Já espermatozoides valem menos que moedinha de dez centavos, e uma única ejaculação lança fora centenas de milhões deles.

Esse fato simples explica por que pavões machos possuem aquele rabão ricamente decorado, por que cervos-do-pantanal do sexo masculino ostentam tamanha galhada, por que elefantes-marinhos são brutamontes de tromba com o dobro do tamanho de suas fêmeas (que mais parecem pequenas focas se vistas ao lado deles).

Se óvulos são caros e espermatozoides, baratos, as fêmeas podem se dar ao luxo de escolher –enquanto os machos precisam ostentar ou sair no braço com outros para ter acesso às garotas. Essa também é a raiz darwinista da poligamia: machos conseguem fecundar uma quantidade impressionantemente alta de fêmeas, enquanto elas, em geral, ficam grávidas de um só sujeito por vez (ainda que, de novo, haja exceções).

Falei das exceções mais de uma vez porque cada caso é um caso, e há muitos caminhos para o sucesso reprodutivo. Inclusive o de não se reproduzir diretamente: abelhas operárias, por exemplo, deixam essa dor de cabeça com a rainha da colmeia –que produz irmãs para elas com tanta eficiência que a propagação dos genes fica assegurada.

Certos peixes passam metade da vida como fêmeas e a outra metade como machos (o fato de não precisarem de pênis para fertilizar óvulos favorece essa fluidez de gênero). Outros se fingem de fêmeas para não incorrerem na ira dos machos dominantes e, na hora em que todo mundo está ocupado lançando espermatozoides e óvulos na água, agem rapidamente para se tornar papais.

E a biografia de Édipo parece coisa da Peppa Pig se comparada à vida sexual do ácaro Acarophenax: na barriga da mãe, eclode um filhote macho e várias fêmeas; o macho fertiliza todas as irmãs e depois morre; as meninas, enfim, devoram a mãe por dentro para eclodir.

E sim, a homossexualidade é comum em tudo quanto é espécie de vertebrado. Absurdo biológico? Não, porque isso pode aumentar a coesão entre os membros do mesmo sexo no grupo. Como isso facilita a sobrevivência e a reprodução dos parentes deles, os genes dos bichos gays continuam sendo transmitidos pelos séculos dos séculos e todo mundo fica feliz.

Fêmeas de bonobos, os primos mais "sou da paz" dos chimpanzés (e do ser humano), por exemplo, mantêm sempre seus clitóris ocupados umas com as outras. Se duvida, digite "hoka-hoka" no Google e tire as crianças da sala.

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