Acesso mais fácil, diversidade e preços camaradas favorecem alta no mercado de vinhos

Lais Battiato

Se você fosse um vinho? "Acho que eu seria um vinagre", disse a sommelière Alexandra Corvo, da escola Ciclo das Vinhas. Essa resposta, informal, provocativa e meio escrachada, pode servir para ilustrar um pouco do que o Brasil está vivendo nessa seara.

O consumo se manteve estável na última década, com média de dois litros per capita por ano, índice irrisório se comparado ao de países com tradição vinífera –segundo levantamento da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, Portugal é líder, com 54 litros ao ano. Ainda assim, especialistas estimam crescimento do mercado brasileiro.

Bem, se num contexto de crise econômica e política, a expectativa do setor é aumentar sua performance, há sinais que sugerem esse progresso. Um deles são os caminhos que o vinho tem traçado, diferentes das formas tradicionais (restaurantes de alta cozinha, importadoras etc.).

O consumidor, hoje, tem mais oportunidade de compra. É cada vez mais comum a oferta de garrafas em padarias e supermercados. Em um dia, por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar vendeu 455 mil garrafas em uma ação promocional pelo país.

Clubes virtuais de vinho também intensificaram o intercâmbio e ampliaram o acesso à bebida. Nos bares e restaurantes, nota-se uma oferta maior de vinhos em taça, cartas descomplicadas, serviço mais descontraído. É uma alegria encontrar em São Paulo um bar como o Vino!, com uma média de 70 rótulos em taça, de vários países, com preços a partir de R$ 12.

Ou uma garagem como a Sede 261, na qual as sommelières Daniela Bravin e Cassia Campos servem bons vinhos em taça na calçada, sem firulas –promovem, inclusive, a "hora da xepa", com preços ainda mais contidos, ao final das noites de sábado. É delas, ainda, o projeto Sommelier Itinerante, que leva vinhos de envergadura, servidos em taças plásticas, a lugares com estruturas simples ou nulas, como eventos no Mercado Municipal de Pinheiros.

De novo: são iniciativas que aproximam o vinho do consumidor. Mais que isso, estimulam o nascimento de novos bebedores.

O Instituto Brasileiro do Vinho, aliás, mira a geração do milênio para buscar consumidores –refere-se aos jovens como "novos futuros apreciadores".

Mercado e especialistas também apontam para a migração do patamar de qualidade das compras -cai a venda dos garrafões e afins, sobe a de vinhos de maior valor agregado. Reforço de escolas estimula –e firma– essa movimentação. A educação passa a atingir um público menos restrito e de perfil mais diverso e a formar um consumidor que, em contato com o conhecimento, começa a ter mais autonomia em suas escolhas, tornando-se, pois, mais dono de seu nariz.

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