Uma das mais antigas de São Paulo, pastelaria resistiu a mudanças e à concorrência da feira

Alberto Rocha/Folhapress
Pastelaria Changai, próxima à estação de metrô Praça da Árvore
Pastelaria Changai, próxima à estação de metrô Praça da Árvore

Quando jovem, Paulo Lin Fon Kam, 81, era um dos poucos que sabiam ler e escrever com boa caligrafia em sua aldeia na China. Por isso, foi convocado pelo governo para lavrar escrituras de terrenos durante o período da Grande Reforma Agrária, promovida pelo regime comunista em 1950.

"Escrevia muito, até de madrugada, sem ganhar nada. Tinha que comprar pilha de lanterna para iluminar o caminho de volta para casa", lembra o comerciante, que, descontente com a situação, mudou-se para o Brasil quatro anos depois.

Estabelecendo-se em São Paulo, passou a trabalhar na pastelaria Changai, fundada, segundo ele, em 1948 –é uma das mais antigas da cidade. Em 1956, comprou uma parte do negócio, do qual se tornou proprietário após uma década.

"Tive outra pastelaria, na rua da Consolação, mas alargaram a via e a loja passou a inundar. Precisei vender", conta Lin, que presenciou mudanças urbanísticas significativas na capital paulista. Entre elas, o surgimento do metrô paulistano.

A construção da estação Praça da Árvore, em 1970, próxima à Changai, afugentou a clientela. "Na década de 1950, vendíamos 500 pastéis só de manhã. Nos fins de semana, saíam 2.000 por dia. Quando as obras da linha Azul começaram, isolaram a calçada e quase ninguém passava aqui."

Esse período de vendas fracas durou "uns seis anos", pelos seus cálculos. A Changai resistiu. Ainda hoje, os pastéis são montados na hora, antes de serem fritos, em apenas três opções: queijo, palmito e carne (receita secreta). "Pastel de feira vem em vários sabores, mas todos têm o mesmo gosto, de nada. E a massa é gordurosa", diz Lin, que só deixa no balcão molho de pimenta (outra receita secreta). "Aqui tem pastel, na feira tem molho vinagrete."

A casa também vende quibe, esfiha e coxinha (R$ 7 cada unidade), além da massa de pastel (R$ 48 o quilo) –um clássico da zona sul paulistana. "Vem gente de longe comprar", gaba-se o dono.

*

PASTELARIA CHANGAI

R. Gen. Serra Martins, 23, Praça da Árvore, tel. 2276-0958. De seg. a sáb., das 8h às 20h.

Alberto Rocha/Folhapress
A pastelaria de Lin só vende os sabores queijo, palmito e carne
A pastelaria de Lin só vende os sabores queijo, palmito e carne
Publicidade
Publicidade