Cultura negra é reverenciada por estilista Isaac Silva

Foi para desvirtuar a ideia de que moda com inspiração africana é "coisa de feira" que o estilista baiano Isaac Silva decidiu criar coleções para um nicho de mercado pouco explorado pelos estilistas locais: a comunidade negra.

A falta de referência de grifes brasileiras dispostas a pensar na ancestralidade da cultura afro abriu caminho para a criação da marca homônima de Silva, que há três anos adotava o sobrenome fictício Ludovic, porque achava que "a moda só aceitaria nomes estrangeiros".

Ele define como uma batalha vencida a jornada de sair de Barreiras, no oeste baiano, e se tornar estilista oficial da cantora Elza Soares.

A proximidade com intelectuais do movimento negro atraiu outras clientes, como Camila Pitanga, Taís Araújo e Gaby Amarantos, mulheres afrodescendentes defensoras da mesma bandeira de igualdade racial do estilista.

Com recursos próprios, o estilista se prepara para abrir no próximo mês a primeira loja de sua marca homônima, na Santa Cecília, região central da capital. No ponto, de 120 m², abrigará o ateliê e as araras das roupas.

Na coleção concebida para a Casa de Criadores, Silva expandirá a imagem baseada em elementos e estampas da cultura africana que cria sob medida em seu ateliê na Vila Buarque, também no centro, e focará na luta das transexuais por reconhecimento.

A partir de uma pesquisa nos arquivos de Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, ele recuperou a personagem Xica Manicongo, considerada a primeira travesti brasileira e que, em 1591, vestia-se  e portava-se como mulher pelas ruas de Salvador.

"Precisamos olhar para personagens brasileiros e reverenciá-los. Só assim se constrói uma moda nacional", diz o estilista, que selecionou diversas transexuais para desfilar sua coleção. Entre elas está Neon Cunha, 46, mulher trans e negra que conquistou em 2016 o direito de mudar de sexo sem apresentar atestado médico.

Onde comprar: isaacsilva.com.br

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