Rapper, 35 anos, morador da Vila Mariana, pai de Martin, 6
Antes do Martin, quando era eu por mim, eu falava: 'Ah, a vida é assim mesmo, eu me viro'. Agora é 'Não, a gente tem que mudar esse mundo porque esses moleques não podem crescer nessa atmosfera'.
Aprendo muito com ele, com essa pureza de criança. A gente não fala de religião em casa, deixa ele escolher as coisas, e um dia ele disse: 'Eu tava numa outra casa e não tava feliz. Aí papai do céu me mostrou essa aqui, com você, seu cabelo de corda e a mamãe. Vim pra cá e tô feliz'. Pensei 'mano, será que ele teve a opção de escolher isso?'
Meu filho não passou por um terço do sofrimento que passei, e às vezes, tento mostrar que a vida não é fácil. Levo na quebrada onde cresci [no Jardim Iporanga, zona sul] para ele entender que as casas são diferentes, o comportamento é diferente. E ele curte, pede para ir.
O nome dele é Martin por causa do Luther King e da sonoridade. Ele percebe que é o único preto da escola e diz que é da cor do papai, tem essa brisa inocente. Então eu vou tentando falar aos poucos sobre isso. Tento trocar essa ideia de que todo mundo é igual, porque ele tem que aprender a conviver com a diversidade. De raça, gênero, sexualidade, tudo. Acho que, quando ele for adolescente, isso vai ser menos distante do que foi para mim, porque na escola dos anos 1990 não se falava nem de racismo. A gente aprendia da pior maneira, com as pessoas falando.
É um trabalho árduo, né? Criar uma pessoa legal, que possa contribuir para o mundo, ajudar as pessoas, entender o sofrimento e ter empatia. Acho que a missão é meio essa. Tenho que criar um moleque da hora.
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