Trio de irmãos une arte e arquitetura para melhorar a fluidez na capital paulista

Picos do Jaraguá é o nome de uma obra no muro externo do Sesc Pinheiros, de autoria do escritório Nitsche Arquitetos, que fica exposta até esta segunda-feira (1º). Com uma visão de perfil do pico e de suas antenas, ela procura integrar a geografia da capital aos moradores locais.

Feita com 669 trenas, a arte está na Paes Leme, conhecida como "a rua dos marceneiros e serralheiros". O viés crítico do trabalho é que a região está se verticalizando e, por conta disso, as lojas antigas podem deixar de existir. Do mesmo jeito, já é rara a visão do pico do Jaraguá, um marco da cidade.

Essa é uma faceta pouco conhecida dos irmãos Lua Nitsche, 45, Pedro Nitsche, 43, e João Nitsche, 39, donos do escritório. E ela está ligada aos pais do trio, os artistas plásticos Marcelo Nitsche, falecido no ano passado, e Carmela Gross, 72. Integrar arte, crítica e arquitetura, segundo Pedro, vem "desde a brincadeira de criança". "Fomos muito estimulados por eles nesse sentido. De alguma forma, isso ficou preservado."

Os três nasceram em uma casa no Butantã, zona oeste, projetada por Marcelo Nitsche e o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Uma rampa ligava a residência à rua. Andavam de skate ou bicicleta e, por essa vivência, valorizam a arte na rua e os espaços fluidos. "Eu me lembro de nossos pais montando trabalhos enquanto a gente brincava de patins entre os prédios da Bienal, no Ibirapuera. Fomos absorvendo essas coisas sem perceber", analisa João.

É um consenso entre os irmãos que São Paulo é uma cidade hostil, que pouco ajuda os moradores no sentido da locomoção. E tem muito a ser melhorada -calçadas mais lisas, prédios mais abertos, travessas no meio das quadras. "Isso gera uma constante vontade de transformar", diz Lua.

Em termos de escala, o edifício João Moura, próximo da avenida Sumaré, zona oeste, é o projeto mais importante do escritório. "A gente conseguiu conectar duas ruas e criar uma área livre no térreo", explica. Hoje em dia, o prédio é um empreendimento privado, alugado por uma empresa. "No futuro, pode virar uma passagem de uso comum."

Esse ponto do fluxo, das conexões, norteia os trabalhos dos arquitetos. "São Paulo é muito fragmentada. Não consigo ir com meus filhos a pé ou de patinete até a praça Roosevelt, que fica a um quilômetro de casa, sem tropeçar, cair, ter medo de atravessar a rua", conta Lua. "A Paulista fechada aos domingos e o parque Minhocão são um sucesso por causa dessa fluidez proporcionada."

O desejo de fluidez é levado também para os projetos de casas. "As nossas sempre são térreas, sem degraus, sem pequenas divisões desnecessárias. É o nosso ideal de convívio, integração e fluidez."

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TOP 5 - AS PRINCIPAIS OBRAS DOS IRMÃOS NITSCHE

Picos do Jaraguá (2018)
Instalação feita com 669 trenas, representando a visão do pico do Jaraguá. É uma crítica à verticalização da região.
Sesc Pinheiros - R. Paes Leme, 195, Pinheiros

Empena Viva (2015)
Pintura em máscara adesiva na parede de um prédio vizinho ao Minhocão, mostrando pessoas em momentos de lazer. A proposta é humanizar o local.
Av. Gen. Olímpio da Silveira, 327, Santa Cecília

Lidiane 1 (2011)
Intervenção na fachada de um conjunto habitacional. As cores fortes requalificaram a construção.
R. Sampaio Correia, 520, Limão

João Moura (2009)
Prédio feito com painéis em dégradé, vidro e concreto, ligando duas ruas. Recebeu menção honrosa no prêmio Jovens Arquitetos.
R. João Moura, 1.144, Pinheiros

Desconstrução Civil (2017)
Modificações na fachada de um prédio para estudantes, que alteraram a arquitetura repetitiva da edificação.
R. Casa do Ator, 99, Vila Olímpia

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