Clássico botequeiro, bolovo ganha releituras de chefs paulistanos

Ele estava ali, encalhado na vitrine. Frito entre umas coxinhas moribundas, ovos coloridos e uma travessa com retalhos de um pernil. Coisa de boteco pé-sujo. Há algum tempo, não havia hype algum em encarar um bolovo.

Mas eis que o petisco de origem britânica, tradicionalmente composto por um ovo cozido envolto em massa de salsicha, linguiça ou embutido suíno e empanado em farinha de rosca, ganhou um tratamento carinhoso em bares e restaurantes.

Habitué de pubs e piqueniques, o "scotch egg" ganhou toques de curry, massa de grão-de-bico, cogumelo e até peixe.

Moderninho e original
Conhecido pela cozinha autoral do Petí, o chef Victor Dimitrow topou o desafio de desenvolver um menu inspirado em comida de rua para o Mirante 9 de Julho. Nele, os petiscos servidos em recipientes descartáveis não perdem o quê de modernidade. Daí o bolinho de chuva de carne suína e o bolovo vegetariano, que mescla cogumelos frescos dos tipos portobello, paris e shimeji e acompanha molhinho de pimenta Sriracha (R$ 8,50).

Mirante 9 de Julho. R. Carlos Comenale, s/nº, Bela Vista, tel. 3111-6330

Quase clássico
Herança do ex-proprietário Greigor Caisley, o bolovo do 12 Burger and Beer (R$ 12) mistura pernil e barriga de porco na massa. O toque local vem da combinação de páprica picante, pimenta-caiena e pimenta-do-reino, ressaltado por maionese enriquecida com curry e mostarda de Dijon.

12 Burger and Beer R. Simão Álvares, 1.018, Vila Madalena, tel. 3562-7550

Veggie e brasileiro
A chef Mari Sciotti, do Quincho, sempre gostou do petisco, mas nunca tinha visto uma versão vegetariana dele. Fez testes usando massa de batata, mas a experiência não vingou. Algum tempo depois, a cozinheira chegou à versão que leva creme à base de pupunha envolvendo o ovo. O quitute é servido com uma porção de molho rosê feito na casa. "Adoro esses molhos populares, e o sabor adocicado caiu bem com o bolovo", diz ela, que hoje tem a fritura como um dos grandes sucessos da casa (R$ 10), especializada na cozinha vegetariana.

Quincho R. Mourato Coelho, 1.140, Vila Madalena, tel. 2597-6048

Reciclagem esperta
A alheira, espécie de embutido português, não fazia sucesso no Pirajá e estava prestes a sair do cardápio. "Foi quando lembrei que o bolovo tinha virado um produto querido de bar. Aí, pensei que usar o embutido para fazer a massa do petisco daria um toque legal", explica Marcelo Tanus, chef executivo da Cia Tradicional de Comércio (também à frente do Astor, da Bráz e do Original). Depois de alguns testes, o resultado se tornou uma sugestão das quartas-feiras. Mas o desempenho foi tão bom que casa decidiu colocar a pedida (R$ 13) no menu permanente.

Pirajá Av. Brigadeiro Faria Lima, 64, Pinheiros, tel. 3815-6881

Rei do bolinho
Greigor Caisley foi um dos pioneiros na retomada do bolovo, na época ainda no extinto Drake's Bar. A culpa talvez seja do seu DNA australiano ou da sua passagem pela cozinha inglesa. "Quando cheguei ao Brasil, preparava um 'scotch egg' clássico, com as sobras de linguiça temperada com
sálvia, cebola e alho. Mas, para o Guarita, queria uma coisa mais brasileira", conta. Tomou como inspiração um boteco do interior de São Paulo que fazia um bolovo de sucesso com a massa de coxinha e carne bovina. Com essa referência e uma base de carne moída refogada com cebola, alho, curry e páprica, o chef serve cerca de mil bolovos por semana (R$ 10).

Guarita Burger R. Antonio Carlos, 395, Consolação, tel. 3262-1677

Leve e marítimo
No 011 Gastronomia, o chef Gustavo Goussain aposta em um menu variado, com espaço para a entrada e saída de receitas. Tanto assim que a fritura estava na abertura da casa, em 2015 e, desde então, vira e mexe é sugestão do dia (R$ 18): "Como no restaurante tenho esse costume de experimentar novos sabores e fazer releituras, achei que ficaria interessante misturar salmão com siri para deixar o bolovo mais leve, com uma massa mais homogênea", explica ele.

011 Gastronomia. R. Artur de Azevedo, 613, Cerqueira César, tel. 3459-4282

Frescor fluminense
A carioca Bel Crozera já admirava o bolovo de bacalhau do conterrâneo Toninho, do Bar do Momo, quando foi convidada a abrir a Void em São Paulo. A casa foi desenhada para ser uma mistura de lanchonete e padoca que, por coincidência, fica em frente à marca de street wear Bolovo. Sua versão (R$ 10), porém, não leva bacalhau, alho nem cebola na fórmula -só ervas frescas e carne de porco. Não dispense
a maionese caseira feita com o molho de pimenta Sriracha.

Void General Store R. Martim Carrasco, 56, Pinheiros, tel. 3031-0088

Herança Israelense
Aqui, o certo é chamar o quitute de falovo (R$ 12), uma junção de falafel e bolovo. A receita é a mesma que a família prepara em casa desde antes de abrir o endereço, que lembra uma lanchonete. Ali, é uma massa feita com grão-de-bico que envolve o ovo molinho. Salsinha, outras ervas e especiarias dão cor verde ao preparo. "A fórmula é secreta, mas é só um bolovo de falafel mesmo, acompanhado por molho de tahini", diz o filho de israelense Alon Berlovich.

Pinati Al. Barros, 782, Santa Cecília, tel. 3668-5424

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