André Acioli, o homem por trás das cortinas dos teatros Eva Herz, Vivo e Porto Seguro

Há dois anos, André Acioli, 41, não come açúcar. Colocou na cabeça que não lhe fazia bem. Recebeu um incentivo de Clarice Niskier para seguir com a decisão, já que a atriz e diretora tinha cortado o doce de sua alimentação e se sentia mais disposta.

O plano, aparentemente, deu certo. Ele dormira cerca de quatro horas naquela noite, mas conversava animado num café.

Já se acostumou com as poucas horas de sono. Trabalha de segunda a segunda, sem horário determinado, revezando-se entre os teatros Eva Herz, Vivo e Porto Seguro. Nos dois primeiros, cuida da curadoria; no último, atua como gerente-geral.

"Tento entender o pulsar de cada espaço e do que o público está precisando", diz o paulistano nascido no Tatuapé, zona leste. "Só que o teatro não é um produto, como uma colher, que você compra e sabe que não vai quebrar na sua boca. Somos formatados para comprar algo que julgamos que vai ser bom, mas o teatro é sempre uma experiência –que pode, inclusive, ser ruim."

Dá para colocar na conta de seu mapa astral a obstinação com a qual encara suas funções: é pisciano, com ascendente em leão e tem virgem em alguma casa ligada à organização, da qual não se lembra. Mas dá, também, para creditar a seu passado. André já esteve do outro lado, atuando e dirigindo, antes de pular para a ala administrativa.

Aos 15 anos, mesmo sem nunca ter ido ao teatro, entrou para um grupo amador. O professor levou o adolescente para ver sua primeira peça profissional, "Van Gogh". Ele e os colegas foram de Fusca ao Centro Cultural São Paulo assistir ao solo, no qual o ator e diretor Elias Andreato interpretava o pintor holandês. "Falei: 'Caraca, é isso que quero para a minha vida'." E assim foi: entrou para o curso profissionalizante, deixou o emprego de office boy da Fototica, criou uma companhia de teatro infantil e trabalhou com teatro-empresa.

Lá pelos anos 2000, reencontrou Andreato. Dessa vez, não na plateia, mas como diretor de palco de "Visitando o Sr. Green", texto de Jeff Baron dirigido por Andreato e interpretado por Paulo Autran no teatro Vivo. A montagem também lhe rendeu uma promessa do ator Dan Stulbach, que integrou o elenco. "O Dan me disse: 'quando eu tiver meu teatro vou te chamar para trabalhar comigo'", conta Acioli.

Dois anos depois, em 2007, chegou a hora: a Livraria Cultura estava abrindo um teatro, o Eva Herz, com direção artística de Stulbach. "Construímos a ideia do Eva Herz juntos. No começo eu o pagava com o meu salário", conta Stulbach, 49. "O André foi se tornando um agregador que conecta pessoas de mundos diferentes. Por mais que não escolha tudo, ele mantém a coerência com o que acredita", completa.

Promessa cumprida, Acioli dava o pontapé na sua carreira do outro lado do palco. O desejo de retornar à criação vem vez ou outra. "Mas sanou quando entendi que fazer curadoria é, também, contribuir artisticamente para o teatro", explica. "Minha rotina é incentivar as pessoas a consumirem cultura. É um trabalho a longo prazo."

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"Ele sempre foi muito dedicado e apaixonado e, ao longo do tempo, foi se inteirando das dificuldades e qualidades desse ofício. É um homem do teatro."
Elias Andreato, 63, ator e diretor

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