Camponesa Simples de Nobre Coração que Vai Todos os Dias ao Bosque Recolher Lenha. Esse é o nome de uma personagem que o herói cômico da TV Chapolin Colorado encontra na Idade Média. É também o do sanduíche de pernil desfiado com salada de repolho da Taverna Medieval, hamburgueria da Vila Mariana, zona sul, que se tornou queridinha de geeks, nerds e simpatizantes.
Inaugurada em 2016, a casa que traz referências científicas e pop a esse período histórico teve de ser ampliada no ano passado. A reforma veio para diminuir as longas filas, que chegavam a três horas de espera.
Com o novo espaço no subsolo, batizado de masmorra, o tempo de espera para se conseguir uma mesa nos fins de semana varia entre uma e duas horas. Cerca de 500 pessoas são atendidas aos sábados e outras 500 aos domingos, e só há vagas para reservas nesses dias a partir de junho.
O movimento mudou a cena na vizinhança. Músicas inspiradas na mitologia celta, clientes com capacetes viking ou fantasiados de reis e rainhas e até batalhas de espada chamam a atenção na rua Gandavo, em frente à pizzaria Bráz Quintal.
Os funcionários, a caráter, tratam mulheres por milady e homens por milorde. O cardápio traz um "índice de medievalidade". Levam cinco espadas as comidas com ingredientes e preparos "extremamente similares" aos da época medieval.
Entre esses, estão as "cebolas de tão, tão distante", empanadas, recheadas com mozarela, pernil desfiado e temperadas com relish de pimentão defumado. Os hambúrgueres, carro-chefe, atingem até quatro espadas, quando há alguma dose de adaptação moderna, como "o bárbaro", feito de javali com queijo caciocavallo.
A batata, que não fazia parte da alimentação medieval, ganha apenas uma espada. É a "rústica de Skyrim", referência a um jogo de RPG. Frita com casca, leva alecrim, páprica e vem com alho confitado.
O cardápio é feito para divertir. Além dos nomes que remetem a jogos, filmes e séries, como "Game of Thrones" e "O Senhor dos Anéis", pode-se jogar um dado de RPG para escolher os drinques.
Elaborados em um bar com cara de laboratório de alquimia, são servidos em potes cenográficos -os que contém bebidas não alcoólicas podem até ser levados para casa. O hidromel chega em um copo em formato de caveira.
É uma espécie de fermentado feito de mel e conhecido como "a bebida dos vikings". O vinho canônico, usado em cerimônias religiosas, chega sob luzes reduzidas, servido por um garçom vestido de monge.
A decoração tem objetos garimpados pelos proprietários, o casal Ellen Lepiani, 33, formada em turismo, e Nelson Ferreira, 33, da área de marketing. Eles compraram por R$ 14 mil, da viúva de um colecionador, um figurino do filme "Coração Valente".
Também encomendaram a um escultor uma mesa para 14 pessoas que simula um barco viking (com reservas já tomadas para os próximos três meses).
Na masmorra, com as paredes revestidas de pedra, os banheiros -ou melhor, as latrinas- são escondidos por uma passagem secreta. Também nesse subsolo está o espaço para praticar arco e flecha (R$ 15 dão direito a nove tentativas com a ajuda de um instrutor elfo).
João Pedro Duarte, 13, estava ansioso para chegar a sua vez de jogar. Ele pediu para conhecer a Taverna como seu presente de aniversário. Os pais saíram do trabalho numa sexta-feira e vieram de Jundiaí (SP) para encarar a espera de duas horas. "Sou fã da cultura pop", explica o garoto, que vestia uma camiseta de "Star Wars".
Outras atividades são jogos de RPG (R$ 39, com um hambúrguer incluído no preço), tabuleiro (R$ 20) e a leitura de runas, para previsões do futuro e conselhos (R$ 15).
A publicitária Gabriella Rodrigues, 22, testou as adivinhações com técnicas medievais. Na saída da Taverna, estava na berlinda, aquele instrumento de tortura que expunha as pessoas em feiras com a cabeça e os braços presos.
Quando os amigos a soltaram, Gabriella pôs a coroa de rainha na cabeça e contou para a revista sãopaulo que as runas lhe intimaram a tomar uma atitude na vida amorosa: deixar de mimar demais o namorado. Para ela, fez sentido.
Taverna Medieval. R. Gandavo, 456, Vila Mariana, tel. 4114-2816. Ter. a qui., 18h às 23h; sex. e sáb., 18h à 1h; dom., 18h às 23h