Ao cruzar as fileiras da plantação em plena colheita, vemos trabalhadores retirando, delicadamente, os frutos dos pés carregados e os colocando em contêineres.
O campo é extenso e a paisagem, no interior da França, idílica: há castelos e vilarejos históricos pontuados no trajeto até se chegar ali.
Em pleno país do vinho, os frutos da cena acima poderiam ser uvas, mas não são. Trata-se de uma colheita de maçãs, produção que soma em média 1,5 milhão de toneladas por ano no país, segundo a Associação Nacional de Maçãs e Peras —é o terceiro maior produtor de maçãs da Europa.
A exemplo do universo vitivinícola, esses agricultores começaram também a receber visitantes para acompanhar sua colheita. Nada mal, já que a produção ocorre em regiões como o Vale do Loire, a Provence e os Alpes.
A safra acontece entre agosto e novembro, a depender da variedade. Produtores recebem turistas e, além disso, uma ação conjunta chamada pomares abertos é realizada em setembro, em geral sem cobrar entrada.
A depender da empresa, o passeio pode ter coleta e degustação de maçãs, jogos para as crianças e até passeios de carruagem.
Os agricultores também apresentam o método de cultivo e explicam quais produtos usam durante o crescimento da planta, pontuando o papel, por exemplo, das abelhas, que são fundamentais para a colheita.
Pode parecer um detalhe, mas não é: ao invés de contratar o serviço de apicultores com seus insetos, muitos pomares mantêm colmeias de abelhas próprias.
Dentro do exigente mercado consumidor europeu, os agricultores adotam métodos de controle mais naturais, mesmo que não sejam orgânicos ou biodinâmicos.
Isso permite a presença de alguns animais como coelhos e cervos rondando os cultivos.
A Vergers de la Blottière é um desses exemplos, não muito distante de Angers, cidade ao sudoeste de Paris com ruas de paralelepípedos, castelos e belos exemplares de arquitetura gótica.
Lá, técnicos conseguem acompanhar, no aparelho de telefone, indicadores sobre o desenvolvimento das árvores. Com ajuda de recursos como esse, as plantas recebem doses menores e mais pontuais de defensivos.
Quando se anda pelos campos, é possível reconhecer tipos mais tradicionais de maçã, como gala e fuji.
Mas existem diferentes aparências, sabores e texturas entre as 1500 variedades encontradas na França. Produtores como Blue Whale e Harmony enviam uma parte da produção ao Brasil, que pode ser encontrada em redes como Pão de Açúcar e Oba.
Além das mais conhecidas, uma passeio por pomares pode revelar cultivares como Pink Lady (extremamente crocante, firme e doce), Chantecler (com sabor equilibrado entre o doce e o azedinho) e Daliclass (para quem gosta de azedinho) — além de outras encontradas apenas localmente, como a Juliet ou Candine.
Com sua paixão pela gastronomia e seus ingredientes, não é de se espantar que os franceses aplicassem também às maçãs o cuidado com o produto —o que também vem acontecendo com o kiwi, que encontrou no ensolarado sul da França um ótimo habitat e que também recebe visitantes.
Longe do interior francês, um restaurante em Paris, o Pomze, emprega diferentes variedades de maçã em receitas em todas as etapas da refeição (o preço é fixo; entradas 12 €; pratos 28 €; sobremesas 11 €).
Para começar, pode haver tartare de vieiras e ostra com maçã granny smith, bergamota e brioche. Na sequência, peito de pato assado, alcachofra, maçã do tipo Rubinette e gremolata de laranja.
Cinco possibilidades de sobremesa podem fechar a refeição, mas a mais clássica é mesmo a tarte tatin, a torta francesa que leva uma camada de fruta caramelizada por cima da massa. Para o brinde final, não poderia ser diferente: cidra, bebida fermentada à base de maçã.
Projeto pomares abertos
lapomme.org/vergers-ecoresponsables/les-vergers-ouverts
Onde comer
Pomze
109, boulevard Haussmann, Paris. pomze.com
Preços: entradas 12 €; pratos 28 €; sobremesas 11 €
A jornalista viajou à convite da Interfel (Interprofissão de Frutas e Legumes Frescos)