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18/06/2010 - 20h51

Mariana Ximenes mostra que fronteira entre "culto" e popular não tem sentido

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ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Ela chega de jeans, tênis All Star e cabelos molhados. Duas horas depois, a garota descolada desaparece para dar lugar a uma diva dos anos 1940, com direito a piteira e luvas. Mariana Ximenes oscila o tempo todo entre extremos. Parece confortável ao trocar de pele.

Rafael Assef
Mariana Ximenes dá lugar a diva dos anos 1940 em ensaio de fotos
Mariana Ximenes dá lugar a diva dos anos 1940 em ensaio

É atriz. "Nunca quis ser outra coisa na vida." Tanta certeza foi questionada pelos pais --ele, advogado; ela, fonoaudióloga-- quando, aos 15 anos, declarou que representar seria o seu ofício. "Não sabia se ia dar certo, mas os convenci de que minha escolha não tinha nada a ver com deslumbramento."

A estreia profissional aconteceu numa produção americana filmada em São Paulo. Mariana dividiu o set com Talia Shire --irmã do cineasta Francis Ford Coppola, cujo papel mais conhecido foi o de mulher de Rocky Balboa (Silvester Stalone) na série "Rocky"-- e com o ator americano Elliott Gould ("Onze Homens e Um Segredo", "Mash").

"Não deu muito certo. O filme não chegou a ser lançado por aqui", afirma Mariana, sobre o longa inspirado no conto "Um Sonho no Caroço do Abacate", de Moacyr Scliar.

Ao longo de uma década e meia, Mariana, 29, tem trilhado uma carreira sólida na TV e no cinema. Foi escalada por Silvio de Abreu para mobilizar a audiência nos próximos meses com suas maldades. Desde a última segunda-feira, dá vida à auxiliar de enfermagem Clara em "Passione", novo folhetim das oito.

Assistir aos filmes de Bette Davis, a megera-mor do cinema, virou dever de casa. Trejeitos e expressões da atriz de "A Maldade" (1950) ajudaram a compor a personagem. "Clara é amoral, um típico caso do abusado na infância e, na adolescência, que vira abusador."

Na telona, a atriz topou o desafio de um papel que o imaginário popular associa à volúpia de uma Sonia Braga. "Nunca imaginei que pudesse fazer uma mulher de Jorge Amado. Fiz o teste e fui escolhida", diz Mariana. Ela é Vanda, filha do defunto, no filme "Quincas Berro d'Água", de Sérgio Machado, inspirado na obra do escritor baiano.

Filha de Iemanjá

Na temporada em Salvador para as filmagens, a atriz descobriu seus orixás: é filha de Oxalá Velho, Iemanjá e Oxóssi. Sob a proteção dos santos, passou quatro meses movida a dendê, acarajé e abará. Ainda saciou o apetite pela baianidade na arte de Caribé e Pierre Verger.

Rafael Assef
Atriz encara sua primeira vilã na novela "Passione", da Globo
Atriz encara sua primeira vilã na novela "Passione" (Globo)

A paixão de Mariana pelas artes plásticas é alimentada por amizades com artistas como Adriana Varejão, Vik Muniz e Ernesto Neto. Tem um Nelson Leirner na parede de casa. A sofisticação não é afetada. Enquanto é maquiada, Mariana traça sem frescura um pão com mortadela. Comilona assumida, salivou ante a ideia do lanche providenciado na padaria da esquina. Estava faminta.

Antes da sessão de fotos para Serafina, havia passado oito horas gravando uma sequência no Minhocão, no Centro de São Paulo. A jornada terminara às 5h, debaixo d'água, pois chovia em cena. As 11h15, lá estava ela no estúdio para encarar outra maratona.

Trouxe a tiracolo Nilza, sua manicure baiana. Continuou a desfiar os sabores da culinária nordestina. Dali a pouco, sua memória gastronômica a transporta para uma bisteca à fiorentina degustada na Toscana, onde passou 40 dias gravando a novela.

Já havia estado na região em férias, quando alugou uma casa e desbravou os arredores de Siena e Firenze. Agora, fez novo passeio por suas raízes italianas: é Nuzzi, por parte de pai. Mas é também cearense. A mãe é de Sobral, terra que abriga os numerosos Ximenes.

A avó materna de Mariana teve 15 filhos e morreu, aos 85 anos, em janeiro. "Passei duas semanas lá com ela, que estava com câncer em fase terminal. Nos despedimos." É claro que a neta famosa de dona Maria do Carmo se fartou de paçoca de carne-seca e baião-de-dois.

Outro mergulho no Nordeste, esse literal, foi propiciado pelo filme de Sérgio Machado. Viveu um momento dramático em um dos ensaios, ao lado do ator Paulo José, que faz o papel de Quincas Berro d'Água.

Em Itapoã, sob a batuta da preparadora de elenco Fátima Toledo, foram dar um mergulho de mãos dadas na baía de Todos os Santos. "O mar estava calmo, a água batia na cintura, mas de repente levamos um caldo forte e quase nos afogamos." O susto foi grande.

Na manhã seguinte, Mariana e Paulo José voltaram ao local para depositar uma oferenda a Iemanjá. No outro dia, lá estava o ator, de novo, no mesmo ponto da praia, quando avistou um arco-íris. "Paulo fez uma foto e me mandou. Era uma simbologia bonita, de renascimento."

Mariana gosta do mar. Sua tez branquíssima é uma pista falsa da surfista amadora que se aventura bem cedinho pelas ondas da praia da Macumba no Rio. "Também adoro começar o dia com um banho de cachoeira. No meu aniversário, eu me dei um de presente", conta, taurina de 26 de abril.

A imagem valeria ouro para os paparazzi cariocas. "Sinto saudade da privacidade que é possível ter em São Paulo." Ela trocou o Leblon, onde fotógrafos fazem plantão diuturnamente, pela Gávea.

Mariana vive com discrição, mas não escapou de ver o seu divórcio com o produtor de cinema Pedro Buarque de Hollanda, anunciado em agosto de 2009, estampado nas capas das revistas de celebridade. "Tento ser discreta, mas não tem jeito. Não respeitam a dor nem o seu momento de luto."

O fim do casamento de nove anos foi marcado ainda pelo sequestro relâmpago do então marido. "A notícia vazou, pois tinha polícia no meio e não havia como controlar", lamenta. "Mas estava recolhida, tentando cuidar das pessoas que me são caras. Preservo-as o mais que posso."

Ela, no entanto, saboreia o lado bom da fama. "Fazer novela me permite falar com a servente no banheiro do aeroporto e com a passageira da primeira classe." De novo, passa da mortadela à bisteca sem escalas.

 

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