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06/07/2010 - 17h27

Casa projetada por Lina Bo Bardi é um dos "imóveis de grife" à venda em SP

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GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Desenhada por Lina Bo Bardi (1914-1992) em 1958, uma casa de dois quartos no Morumbi foi a leilão no último sábado, com lance inicial em R$ 2,7 milhões. Apesar da ampla divulgação e do auê midiático, nenhum comprador se manifestou durante o "pregão". Negociações desse porte, afinal, costumam ser feitas com mais privacidade.

Jefferson Coppola/Folhapress
Cadeiras projetadas por Lina Bo Bardi, que decoram o deck da piscina, foram vendidas por R$ 20 mil
Cadeiras em ferro e couro (foto), projetadas por Lina Bo Bardi, foram arrematadas por R$ 20 mil

O fato de uma casa que tem mais de 50 anos e apenas dois quartos custar quase R$ 3 milhões chama a atenção para o fenômeno das "casas de arquiteto", assinadas por nomes importantes, geralmente vinculados ao modernismo paulista. Os imóveis são menos convencionais, ousam nas formas, nos ângulos e materiais --como uma roupa de alta costura. Como estas, custam mais caro.

Algumas imobiliárias se especializaram nesse consumidor. A Axpe, por exemplo, anuncia em seu site imóveis com "arquitetura de autor". Duas casas projetadas pelo arquiteto ítalo-brasileiro Rino Levi (1901-1965) estão à venda, ao lado de uma casa em condomínio projetada por Isay Weinfeld ou um apartamento num prédio de Paulo Mendes da Rocha.

"Quem entende de arquitetura não compra só um imóvel, compra uma grife. Geralmente são consumidores com hábito de leitura e viagem", diz Fernando Sita, gerente da imobiliária Coelho da Fonseca. "O cliente tem gosto pela história."

Mesmo não tendo sido efetuada a venda, o evento serviu para tornar a "Casa Valéria P. Cirrell" (nome da primeira proprietária) mais conhecida. Durante a semana que antecedeu o leilão, dezenas de estudantes de arquitetura e curiosos visitaram o imóvel. Os mais atentos talvez tenham percebido certa influência de Gaudí. Em 1957, um ano antes de projetar a casa, Lina esteve em Barcelona e voltou muito impressionada com o que viu.

"Este projeto marca a incorporação, em sua formação racionalista do que é tropical, orgânico, da herança ibérica da cultura brasileira, em resumo, do Brasil. E Gaudí foi muito importante como um elemento desta liberação", escreveu o arquiteto Marcelo Ferraz, que durante anos foi assistente da arquiteta.

A atual proprietária, a escritora Maria Luisa D'Orey Lacerda Soares comprou a casa em 1973. Ela conta que nos anos 70 as casas do Morumbi não tinham muro, e era comum ver Lina Bo Bardi passeando nas redondezas --o imóvel, afinal, fica a poucos metros da Casa de Vidro, emblemática residência onde a arquiteta viveu até o fim da vida. "Não tenho pressa para vender a casa. Quero encontrar alguém que goste do projeto e do jardim."

No mesmo dia em que a casa foi apregoada, cerca de 300 objetos foram leiloados --quadros, móveis, peças de louça, a maior parte trazidos de fora. Duas cadeiras em ferro e couro, projetadas também por Lina, foram as vedetes do evento. Uma equipe do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, responsável pela preservação da memória do casal e que funciona na Casa de Vidro, foi para vê-las. "Não temos essa cadeira em nosso acervo", disse a museóloga Malu Villas Bôas, que aproveitou para tirar medidas e fotos. O par foi vendido por R$ 20 mil e o instituto, sustentado por um fundo deixado por Bardi, disse não ter condições financeiras para arrematá-las.

 

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