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30/09/2010 - 17h33

Antes de chegar à Bienal, Choque Cultural já abria espaço para o grafite

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KÁTIA LESSA
DE SÃO PAULO

Imagine uma galeria de arte em noite de vernissage. Agora, diminua a luz, rabisque as paredes, aumente o som e esqueça os garçons uniformizados. Busque uma cerveja no bar, converse com o artista, não tenha medo de perguntar o preço das obras. Foi mais ou menos isso que Baixo Ribeiro, 47, propôs aos frequentadores do circuito das artes plásticas no Brasil, ao criar, em 2004, a Choque Cultural.

Daigo Oliva/Folhapress
Baixo Ribeiro indica obras de artistas da Choque Cultural que podem ser vistas nas ruas de São Paulo
Baixo Ribeiro indica obras de artistas da Choque Cultural que podem ser vistas nas ruas de São Paulo; veja as dicas

Durante a exposição de um amigo pintor, Baixo descobriu por que seu filho adolescente coçava a nuca e contorcia os braços toda vez que entrava em uma galeria. "O Jotapê cresceu cercado de artistas, é neto do pintor Aldemir Martins, passava tardes desenhando na casa do avô. Notamos que o incômodo não vinha das pessoas ou das obras, mas das paredes brancas, da luz fria, do modo como os quadros eram expostos."

A criação da Choque foi a saída encontrada por ele e a mulher, Mariana Martins, 51, para apresentar ao filho, Jotapê Pabst, que já dava sinais de que poderia ser artista plástico, uma alternativa àquele ambiente de artes, considerado hostil por ele e pelos amigos de mesma idade.

Assim, em novembro de 2004, o ex-estudante de arquitetura da FAU decidiu transformar em um ambiente criativo a casa no bairro de Pinheiros em que morava e trabalhava como designer de roupas para skatistas. Convidou grafiteiros, quadrinistas, tatuadores e artistas que faziam estamparia para suas peças e, no Dia de Finados, expôs os trabalhos em paredes coloridas. "Calaveras" foi a primeira e única coletiva temática da galeria, uma espécie de batismo.

Desde a abertura, já passaram por lá mais de 200 profissionais, muitos deles com trabalhos nunca antes levados a sério por expositores consagrados, e que hoje trabalham e são reconhecidos internacionalmente, como Speto, Zezão, Stephan Doitschinoff e Titi Freak. "O Baixo foi visionário, nenhuma outra galeria reconhecia nosso trabalho da forma que acontece hoje. Quando alguém perguntava o que eu fazia, tinha dificuldade de dizer que era um artista plástico", conta Chivitz, 33, um dos apadrinhados do galerista.

"O Baixo não ajudou só a consolidar artistas, ele formou uma legião de colecionadores", diz Stephan, 33, um de seus nomes mais valorizados, que vendeu telas por R$ 70 mil em Nova York.

A Choque já recebeu 50 artistas internacionais, patrocinou 20 residências de estrangeiros no Brasil e 30 de brasileiros no exterior, além de quebrar recorde de visitações na exposição "De Dentro para Fora, de Fora para Dentro" neste ano, no Masp: 140 mil pessoas circularam pelo evento, que chegou a reunir 8.000 visitantes em um único dia de exposição.

TIPO EXPORTAÇÃO

A fama internacional do "brazilian graffiti", que estourou com o sucesso dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, osgêmeos, ajudou a consolidar o trabalho dessa leva de pintores, escultores e ilustradores. "Hoje, recebemos uma média de cinco portfólios por dia, e sei que muitas dessas pessoas foram instigadas pelo trabalho dos gêmeos, que nos apoiaram desde o início, mesmo não sendo artistas da Choque. Crescemos juntos, em meio a um sistema que não valoriza a arte", diz Baixo. "Um artista não existe quando ganha um diploma, ele nasce com a sua obra. Não era possível ignorar os artistas urbanos, bastava organizar seu trabalho e suas escolhas."

O que pouca gente sabe é que a Choque Cultural quase não aconteceu. A galeria, hoje dividida entre a casa original, para instalações, o Acervo, para telas, e uma nova casa, com abertura prevista para outubro, que deve abrigar trabalhos à venda por até R$ 5.000 e uma biblioteca especializada, foi o plano B de uma ovelha desgarrada da moda. Baixo Ribeiro fez parte de um coletivo de estudantes na Casa Rhodia, comandado por Marie Rucki, fundadora do primeiro curso de moda contemporânea em Paris, o Studio Berçot. Lá, dividiu a tesoura com Reinaldo Lorenço, Jum Nakao e Glória Coelho. Chegou a trabalhar com Ocimar Versolato, mas hoje raramente toca nas agulhas, a não ser que precise ajustar o vestido da artista plástica com quem é casado desde 1982.

Para quem acompanhou a história da galeria de perto, o mix de referências que rondava a vida do galerista foi o segredo do sucesso. "A Choque é o resultado da ligação de Baixo com o skate, com o punk dos anos 80, com a moda. Ele carrega a atitude de seus artistas e, com isso, cria um elo com um consumidor que estava órfão", explica o chef Alex Atala, em um jantar oferecido aos artistas da galeria em plena segunda-feira, no subsolo de seu restaurante mais novo, Dalva e Dito. "A arte da Choque é mais possível", completa o chef, que tem cinco telas compradas na galeria e diversas paredes de sua casa pintadas durante eventos que misturaram gastronomia, bom papo e arte. Da mesma forma como Jotapê fazia ao lado da turma do avô.

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TREINE O OLHAR
Baixo Ribeiro indica obras de artistas da Choque Cultural que podem ser vistas nas ruas de São Paulo e homenageia osgêmeos:

osgêmeos
Eles não são artistas da Choque Cultural, mas não podem faltar no roteiro de arte de rua de São Paulo. Rua Galvão Bueno, Liberdade.

Speto
O trabalho de um dos mais antigos artistas da Choque Cultural pode ser visto na rua Belmiro Braga, esquina com a Inácio Pereira da Rocha, Vila Madalena.

Stephan Doitschinoff
Avesso à pintura em metrópoles, o artista acaba de finalizar uma escultura, "A Mão", um Prêmio do MinC, que poderá ser vista na entrada do Museu Afro Brasil, no parque Ibirapuera, em outubro.

Titi Freak
Cheio de referências orientais, o trabalho desse artista não poderia estar em outro ponto da cidade. Rua da Glória, próximo à praça Almeida Júnior, bairro da Liberdade.

 

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