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29/09/2010 - 18h17

Livro reconstitui as perseguições soviéticas a Óssip Mandelstam

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

"Em nenhum lugar do mundo se dá tanta importância à poesia: é somente em nosso país que se fuzila por causa de um verso." A famosa (e irônica) frase do poeta russo Óssip Mandelstam (1891-1938) aparece num dos diálogos do romance "De Mandelstam para Stálin - Um Epigrama Trágico", do norte-americano Robert Littell.

Autor de romances de espionagem ambientados na Guerra Fria, Littell se desvia aqui das convenções do gênero, sem no entanto perder o ritmo, o suspense e o humor negro.
Pouco importa que saibamos de antemão que Mandelstam, um dos maiores nomes da poesia do século 20, morreu em circunstâncias suspeitas, após publicar um poema satirizando Stálin (o "epigrama" do subtítulo) e ser deportado para um campo de "reeducação política" da União Soviética.

A paranoia ideológica, a ameaça de prisão sempre iminente e os interrogatórios kafkianos a que Mandelstam foi submetido rivalizam com qualquer enredo de terror. O romance tem diversos narradores, reais ou fictícios, em capítulos que parecem extraídos de páginas de um diário: além do escritor e sua mulher, uma atriz com quem mantinham um triângulo amoroso, um atleta que caiu em desgraça (e que, sob tortura, confessa ter participado de um complô), o guarda-costas de Stálin e os poetas Anna Akhmátova e Boris Pasternak (autor do romance "Doutor Jivago").

Littell fez diversas pesquisas para compor o romance, que inclui uma carta de Mandelstam e uma entrevista com a viúva do poeta (único momento do livro em que o autor aparece também como narrador). Mesmo quando toma liberdades históricas (imaginando um encontro de Mandelstam com Stálin, ou recriando a intimidade do ditador), o romance parece uma grande investigação policial sobre um sistema totalitário que ultrapassou qualquer imaginação ficcional.

CONEXÕES:

LIVRO
"DE MANDELSTAM PARA STÁLIN" ***
AUTOR: Robert Littell
TRADUÇÃO: Mauro Gama
EDITORA: Record (378 págs., R$ 52,90)

FILME
"DOUTOR JIVAGO" ***
Baseado no romance homônimo de Pasternak (proibido na União Soviética), esse filme de 1965 narra uma paixão sob as agruras da revolução comunista.
DIRETOR: David Lean
DISTRIBUIDORA: Warner (2010, R$ 149,90, blu-ray)

LIVRO
"O ZERO E O INFINITO" ****
Romance de 1941 em que o escritor húngaro reconstitui os "processos de Moscou", farsa jurídica para eliminar opositores do regime soviético.
AUTOR: Arthur Koestler
TRADUÇÃO: João Guilherme Linke
EDITORA: Globo (1987, 238 págs., R$ 28)

FILME
"SCARFACE - VERGONHA DE UMA NAÇÃO" ****
Howard Hawks (Cinemax; R$ 44,90)
Ambientado na Chicago dos anos 20, e com um protagonista inspirado em Al Capone, esse filme de 1932 foi suspeito de glamourizar o mundo dos gângsters, pelo humor nervoso e pelas cenas com metralhadoras. Mas Hawks confere dimensões de tragédia grega à intoxicação pelo poder de Scarface, encarnado por Paul Muni, cujas feições "simiescas" dão rosto à brutalidade do sonho americano.

DISCO
"TANGO BORÉAL" ***
Denis Plante (Atma; R$ 57,80)
Quem imaginaria que um gênero "austral" como o tango poderia vicejar nos antípodas "boreais" da Argentina: o Canadá? O bandoneonista Denis Plante (acompanhado por David Jacques no violão e Ian Simpson no baixo) interpreta 17 composições próprias, incluindo uma milonga e uma "Ave Maria" que recupera a função litúrgica de seu "órgão portátil".

LIVRO
"LINGUAGEM DE SINAIS" ****
Luiz Schwarcz (Cia. das Letras, 104 págs., R$ 33)
O segundo livro de Schwarcz tem contos marcados pelo estranhamento e pelas tradições judaicas. Com notável paralelismo interno, seis dos contos se comunicam pela presença de um narrador em litígio com a mulher (especialista na linguagem dos surdos-mudos obcecada por Beethoven), compondo uma sutil rapsódia sobre descompassos subjetivos.

 

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