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07/11/2010 - 10h22

Prédios reformados em bairros como Sé e República atraem centenas de compradores

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NATÁLIA ZONTA
DE SÃO PAULO

Vendem-se estúdios com um banheiro, sem vaga, em um dos pontos mais movimentados do centro. Quem diria, um anúncio como este nem precisou ser feito para que 700 pessoas entrassem na fila de interessados em comprar um dos 82 apartamentos do edifício Marian, na avenida Casper Líbero.

No boca a boca, o prédio cor-de-rosa virou um sucesso. Assim, sem alarde, a região central começa uma retomada. Empresas se empenham em dar novo uso a prédios abandonados, e construtoras que nunca investiram ali lançam torres altíssimas. Também não falta gente que queira adotar a área e, quem sabe, devolver a ela o burburinho de outrora.

Neste ano, pelo menos nove edifícios foram reformados ou serão lançados na área que compreende bairros como República e Sé. O Marian, que era um hotel, é um deles. Erguido na década de 1940 e tombado pelo Condephaat, órgão de preservação, levou 15 meses para ficar pronto. As vendas estão prestes a começar e o metro quadrado sairá por cerca de R$ 4.000. Na Vila Nova Conceição (zona sul), uma das regiões mais caras de SP, esse valor pode chegar a R$ 16 mil.

Os cenários criados no Marian surpreendem pelos contrastes. A piscina, nos fundos, tem vista para a igreja de Santa Ifigênia. "Acredito no centro. Quando um prédio é recuperado, o entorno muda", diz o arquiteto Arnold Pierre Mermelstein, da Arco, responsável pela reforma. O Marian virou o xodó de Mermelstein. Por isso, a cobertura já abriga seu escritório.

A transformação de prédios também é lucrativa. No caso da Arco, a compra dos prédios é bancada por um grupo de comerciantes interessado em bons negócios. O custo da reforma varia de R$ 4 milhões a R$ 8 milhões. E quem quer morar no centro? Há os que chegam atraídos pelos preços e os convictos na valorização. Entre eles, famílias e jovens. O violinista da Osesp (Orquestra Sinfônica de São Paulo) Paulo Paschoal, 36, comprou dois apartamentos na praça Princesa Isabel. Pagou R$ 150 mil em cada unidade de 63 m2. Em uma, vai morar, e a outra será alugada.

"Quando soube que esse prédio seria reformado, decidi investir. Só não comprei um terceiro apartamento porque todos já tinham sido vendidos", conta. Morador da Vila Olímpia, na zona sul, ele trabalha na Sala São Paulo, em frente ao seu futuro lar, e passa parte da semana em Osasco, onde vivem seus pais. "Às vezes os concertos acabam às 23h. Vai ser ótimo atravessar a rua e estar em casa", diz. Nem a má fama do local, perto da região conhecida como cracolândia, fez com que ele desistisse. "É preciso ter cuidado em todos os bairros", afirma.

A reforma do prédio escolhido pelo músico é feita pela empresa Centro Vivo, que já entregou 20 imóveis nos últimos dez anos. Para atrair clientes, a tática é apostar no conforto. Wireless, área de lazer e até estacionamento grátis por um ano compõem o pacote de atrativos. "Os preços subiram demais, mas no centro ainda há oportunidades. Quem não conhece a região tem preconceito, quem já morou sabe das facilidades", diz o porta-voz da empresa, Henrique Staszewski.

Além do prédio na praça Princesa Isabel, a Centro Vivo reformou recentemente um edifício no início da rua Frei Caneca. Em uma área mais valorizada, as unidades esgotaram em uma semana e foram vendidas por cerca de R$ 360 mil. Agora, só resta a cobertura de 327 m², à venda por R$ 1 milhão.

O próximo investimento da Centro Vivo é desafiador: um imóvel na rua do Boticário, próxima ao largo do Paissandu. Os atrativos são a fachada tombada e, mais uma vez, o valor. Cada unidade custará de R$ 125 mil a R$ 180 mil. Na lista de contras, está o grande número de moradores de rua que rondam o edifício.

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ESPIGÕES

Os raros terrenos no centro também são disputados. Pela primeira vez, a Cyrela ergue um edifício ali. Em fase de lançamento, o empreendimento Mood, na rua Álvaro de Carvalho, próxima à rua Avanhandava, está bem requisitado. "Em um mês, mais de mil pessoas foram ao estande. A procura é maior do que a de um prédio similar na Berrini [zona sul]", diz Rosane Ferreira, diretora de incorporação. A torre terá 28 andares e 399 apartamentos. Segundo ela, também há interesse em conservar a região em parceria com o empresário Walter Mancini.

Perto da praça da República está o Novo Centro República, previsto para 2012. As 200 unidades já foram vendidas. "No lançamento, o metro quadrado foi comercializado a R$ 4 mil. Hoje, vale R$ 5 mil", diz Mauro Teixeira Pinto, diretor da construtora TAP. "Uma obra no centro é mais cara por causa da logística. Não podemos encher as ruas de caminhões. Em contrapartida, não precisamos fazer publicidade."

A Gafisa também aposta pela primeira vez na região. No Bom Retiro, em fase de pré-lançamento, está o Central Life. "A região tem potencial e muita infraestrutura, principalmente em transporte", diz Sandro Gamba, diretor de incorporação. Para Marco Antônio Ramos de Almeida, superintendente da associação Viva o Centro, o sucesso tem explicação. "No centro, há muitos prédios, mas todos comerciais. Quem consegue transformá-los ou construir residenciais acaba lucrando."

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MIX DE MORADORES

Enquanto a iniciativa privada aposta suas fichas na área, a prefeitura dá forma ao seu projeto de habitação na região. Depois de nove meses do anúncio da desapropriação de 53 prédios vazios, o Renova Centro, com investimento estimado de
R$ 400 milhões, ensaia sair do papel. Pelo menos três prédios estão com documentação adiantada. A lista completa dos imóveis nunca foi divulgada por medo de invasões. No entanto, a sãopaulo confirmou que o hotel Cambridge, conhecido espaço de festas, está nessa seleção. Ali, a intenção é construir pequenos estúdios.

Um dos diferenciais do projeto é a ampliação do perfil das pessoas atendidas. "Serão 2.500 unidades para famílias com renda de até dez salários mínimos. A ideia é levar diversidade. Haverá prédios para a população mais carente, que ganha até três salários, mas eles não serão os únicos beneficiados", afirma Ricardo Pereira Leite, secretário da habitação e presidente da Cohab. Também será feita uma parceria com a Secretaria da Cultura para reformar espaços que hoje funcionam como cinemas pornôs e ocupam o térreo de alguns edifícios. Estima-se que os primeiros prédios serão entregues em 2012.

Um dos modelos que serão usados é o aluguel social, já em prática atualmente. Nele, destina-se de 10% a 15% da renda para o pagamento do aluguel. No edifício Asdrúbal do Nascimento, um dos quatro já reformados pela prefeitura no passado, 40 famílias vivem assim. Ali, os próprios moradores atuam como síndicos.

Para a arquiteta e urbanista Alejandra Maria Devecchi, autora de uma tese de doutorado na USP sobre reformas no centro, ainda falta conhecimento sobre a região. "Nessa área há dois tipos de plantas mais usadas. Se levarmos isso em conta, pode-se criar um modelo de reforma, em série, mais prático e rápido que o atual."

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NA MIRA DA PREFEITURA
Entre as desapropriações anunciadas pelo poder público, estão hotéis e prédios que já foram invadidos

HOTEL CAMBRIDGE
Ainda abriga festas, mas os andares onde funcionavam os quartos estão vazios. As negociações ainda estão no início

HOTEL CINEASTA
Será reformado em parceria com o sindicato dos atores. Depois de renovado, vai abrigar artistas aposentados

ED. ASDRÚBAL do Nascimento
Ao lado de um prédio já reformado pela prefeitura, foi invadido várias vezes. Deve ser o primeiro a sair do papel

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PRÓS E CONTRAS DE MORAR NO CENTRO

VANTAGENS

O sistema de transporte na região é imbatível. Em quase todos os bairros há estações de metrô e muitas opções de linhas de ônibus

Se colocados em prática os projetos do governo municipal, a tendência é que o centro se valorize. Há planos para revitalizar as regiões do parque Dom Pedro 2º e da Luz

O mais provável é que a vista de seu apartamento não mude. Com poucos terrenos livres, a probabilidade de brotar um espigão na sua janela é bem menor do que em outros bairros, como o Morumbi

Na região central concentram-se muitos centros culturais. Se depender deles, não falta programação para o fim de semana

DESVANTAGENS

A falta de segurança ainda é um dos problemas mais apontados. Muitas vielas e becos não têm vigilância

Há regiões, como as imediações da estação da Luz, que são frequentadas por usuários de crack. Por esse motivo, a área ganhou a alcunha de cracolândia

Se você quer morar no centro e pensa em manter um carro, será muito difícil encontrar um prédio com estacionamento

Apesar de os caminhões de lixo passarem com frequência, muitos bares e comércios insistem em depositar sujeira nas calçadas

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LIVREIRO É UM DOS PIONEIROS

Pedro Herz vive ali desde 1986 e não sai por nada. O centro de São Paulo deu a Pedro Herz, presidente do conselho administrativo da Livraria Cultura, o anonimato e a discrição que ele desejava. Em 1986, antes que alguém apostasse em um futuro promissor para a região, ele se mudou para lá. "Vivia numa vila nos Jardins. Era ótimo, mas todos os vizinhos sabiam de tudo da minha rotina. Aqui, sou mais um", diz.

Morador da República, ele aproveita tudo ao seu redor. "Uso transporte público e caminho muito. Vou de ônibus até ao aeroporto de Guarulhos." Defensor da área, ele acha graça em quem só coloca defeitos no velho centro. "Assaltos acontecem em qualquer lugar. Nunca fui roubado aqui. Quem fala mal não conhece a região."

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1. EDIFÍCIO FREI CANECA
R. Frei Caneca, 11, Consolação
Com 25 apartamentos, está prestes a ser entregue. As unidades têm de 130 m² a 120 m² e foram todas vendidas por, em média, R$ 340 mil. A cobertura com 327 m² ainda está à venda por R$ 1 milhão

2. NOVO CENTRO REPÚBLICA
R. Major Sertório, 321, República
Ainda em construção, tem 200 unidades, todas já comercializadas. Os apartamentos têm entre 37 m² e 59 m² e foram vendidos a partir de R$ 119 mil. Já houve valorização de, pelo menos, 25%. Fica pronto em 2014

3. MOOD
R. Álvaro de Carvalho, 341, República
Ainda em fase de lançamento, as unidades mais baratas custarão R$ 270 mil. Há apartamentos de 46 m² a 166 m² e duplex de 97 m² a 134 m². Deve ficar pronto em três anos

4. EDIFÍCIO MARAJÓ
R. João Adolfo, 75, República
Com 64 unidades, tem apartamentos de 29 m² a 50 m². As unidades foram vendidas por preços que variam de R$ 90 mil a R$ 150 mil

5. EDIFÍCIO LAURA CRISTINA
R. do Boticário, 39, República
A reforma começou há menos de um mês e deve levar mais quatro meses. Os apartamentos terão de 50 m² a 108 m² e custarão até R$ 180 mil

6. EDIFÍCIO MARIAN
Av. Cásper Líbero, 65, República
82 apartamentos de 30 m² a 51 m². Ainda sem definição de valor. Há uma lista com 700 interessados

7. SAN FERNANDO
R. Guaianases, 292, República
Possui 42 apartamentos de 26 m² a 34 m². As unidades foram vendidas de R$ 80 mil a R$ 99 mil

8. EDIFÍCIO ANTÔNIO CARLOS
Pça. Princesa Isabel, 213, Santa Cecília
Em frente à Sala São Paulo, tem 19 apartamentos de 63 m². Todos já foram vendidos por, em média, R$ 150 mil

9. CENTRAL LIFE
R. Sérgio Thomás, 422, Bom Retiro
O lançamento ainda não tem valor definido, mas terá 252 unidades de 69 m² a 96 m²

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INVASÃO IMPEDE REFORMA NA SÃO JOÃO

Prédio pode ser deixado de lado por estar ocupado. Na seleção de prédios a serem reformados pela prefeitura também estava o antigo hotel Columbia, na avenida São João. Ocupado pela Frente de Luta por Moradia, o poder público o excluiu do programa ao receber a notícia da invasão. Segundo a Secretaria da Habitação, prédios ocupados não podem ser incluídos no projeto.

Há duas semanas, as famílias que estão no local foram notificadas sobre uma liminar de reintegração de posse. O movimento tenta recorrer e o prazo final para a saída dos ocupantes é segunda-feira. "Se sairmos, iremos acampar no centro", diz Osmar Borges, coordenador da FLM. Segundo a prefeitura, três milhões vivem em assentamentos precários em SP.

 

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