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09/01/2011 - 13h58

Sãopaulo convida dois estrangeiros para percorrer principais pontos turísticos

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DÉBORA YURI
NATÁLIA ZONTA
DE SÃO PAULO

"Do you speak English?", "Hablas español?" A seguir, essas perguntas serão feitas à exaustão pelo músico norte-americano Corey Gorey, 38, e pelo guia e tradutor espanhol Rafael Martin, 36.

A sãopaulo convidou os dois estrangeiros para percorrer os principais pontos turísticos da metrópole. A ideia era fazer um teste do que precisa melhorar e o que já está no caminho para não fazer feio em 2014, quando a cidade será uma das sedes da Copa.

Rodrigo Paiva/Folhapress
Americano Corey Gorey, 38, tenta encontrar balcão de informações turísticas no aeroporto de Guarulhos
Americano Corey Gorey, 38, tenta encontrar balcão de informações turísticas no aeroporto de Guarulhos

Na lista do "test-drive", entraram o aeroporto de Guarulhos, restaurantes, cafés, bares e centros de compras. Do inglês fluente do funcionário do metrô ao nada amigável atendimento de uma balada de luxo, Corey e Rafael tiveram boas surpresas e algumas decepções. Arriscar o português foi proibido, o que fez os dois estrangeiros abusarem da mímica. Do lado dos paulistanos, faltou fluência em línguas, mas sobrou simpatia.

AEROPORTO DE GUARULHOS

O ainda enxuto vocabulário do norte-americano Corey Gorey, 38, será poupado. Agora, a regra é não falar nada que indique que ele entende um pouco do nosso idioma. Natural de Nova York, Corey refez o trajeto de sua chegada ao país, a convite da sãopaulo. No aeroporto de Guarulhos começa a sua jornada.

No colete da funcionária da Infraero, a frase "May I help you?" (Posso lhe ajudar?) empolga Corey. Em inglês, ele pede orientações.

- Olá, onde fica o balcão de informações turísticas?

- Hum...humm... I don't speak English. Calma aí, vem comigo. [em português].

A atendente dá um pique e chega até um balcão.

- Pronto, ela fala inglês [de novo, em português].

A princípio, problema resolvido. Do balcão, a atendente telefona para perguntar se há alguém no posto de atendimento.

- Você sabe onde pego o Airport Bus? Quanto custa o táxi até a avenida Paulista?

- Não sei, só no balcão do piso inferior, no desembarque.

Escada rolante abaixo, ele vê dois balcões. No primeiro, apenas dicas sobre Guarulhos. Ao lado, o dedicado a São Paulo. Num bom inglês, a recepcionista dá dicas de hotéis e diz: "Não fique no centro, é perigoso. Ah, visite a nossa Chinatown, a Liberdade".

INFRAERO diz: Os funcionários dos balcões não informam sobre as tarifas do Airport Bus e de táxis, pois elas podem mudar sem o conhecimento da empresa. Alguns atendentes de colete fazem parte de um time que reforça a equipe na alta temporada.

NO TÁXI E NO METRÔ

Com as indicações de hotéis, Corey procura um táxi. No balcão da Guarucoop, a atendente não gagueja na hora de soltar o inglês.

- Bom dia. A corrida até a avenida paulista sai R$ 104,66. Aceitamos cartão de crédito. Quer um jornal?

- Por acaso há algum motorista que fala inglês? - pergunta ele.

- Infelizmente, não.

Nesse momento, Corey tem de usar um pouco do seu português e investir na mímica. O taxista Fábio Costa, 36, entende o destino, mas pede orientação por rádio para chegar à Paulista, pois "não se lembra muito bem do caminho". "Tem muito taxista que fala inglês. Penso em fazer um curso, mas trabalho como taxista há apenas seis meses."

Corey chega à avenida, o maior clichê turístico de São Paulo. Ali, ele espera ser auxiliado. O primeiro teste é na estação Consolação do metrô. Na bilheteria, o inglês do atendente impressiona. "Perguntei como faço para chegar na Sé e ele explicou bem", conta. Na plataforma, no entanto, não há placas com indicações em outros idiomas.

METRÔ diz: Serão instaladas placas bilíngues em todas estações até 2013. As estações Paraíso, Ana Rosa, Vergueiro, São Joaquim e Liberdade já foram contempladas. GUARUCOOP diz: A companhia oferece cursos de inglês a todos os funcionários na própria empresa. Na ocasião, não havia nenhum taxista bilíngue disponível.

HORA DO ALMOÇO

Indicado por muitos guias de turismo estrangeiros, o Figueira Rubaiyat é point conhecido dos gringos. O próprio Corey já esteve por lá em uma de suas visitas ao Brasil.

O primeiro contato é amigável e em português. Quando o garçom percebe que Corey é norte-americano, leva o cardápio bilíngue. E toda a conversa flui em inglês, sem muitos problemas.

- Acho que vou querer provar um peixe. Como é o tambaqui?

- É um peixe brasileiro muito bom, você vai gostar. A carne é macia.

- Mas como é o gosto?

- A carne é bem macia, é forte.

Sem entender bem o sabor do peixe, Corey confia na sugestão. O prato chega à mesa como pedido.

FIGUEIRA RUBAIYAT diz...O restaurante informa que a equipe de garçons tem aulas de inglês e todos estão aptos a servir no idioma.

COMPRAS

Hora de escolher um suvenir. Na Oscar Freire, Corey entra na loja Água de Coco, que vende biquínis. Ele pede para ver modelos e ouve uma resposta esperta em inglês da vendedora Érica Bezerra, 26.

- Como prefere? Com a parte de baixo menor ou maior?

- Maior significa qual tamanho?

- Assim, olha. As laterais são mais largas.

- Isso é maior?

- Sim, geralmente os estrangeiros preferem assim.

O céu escurece, e antes do aguaceiro da tarde cair, Corey vai para o shopping Cidade Jardim, na zona sul. Quando vê o balcão com o dizer "concierge", pensa que ali conseguirá tirar suas dúvidas.

- Oi, sabe se há alguma loja brasileira para eu comprar um presente?

- Hã??

- Brasileira. Presente. Sabe?

Não teve jeito, ele teve de gastar todo o seu português.

- Aqui só tem loja internacional -diz a atendente em português, sem citar grifes nacionais como Vivara e Osklen.

- E há algum restaurante legal?

- Tem o Pobre Juan.

Ao chegar ao local, ele está fechado. Melhor tomar um café. Ele resolve ir até a Kopenhagen, onde uma mímica resolve e o expresso é servido.

CIDADE JARDIM diz... O serviço de concierge tem três profissionais bilíngues e outros com noções básicas do idioma. No período em que Corey nos visitou, havia muitos estrangeiros, e todos estavam ocupados.

*

O espanhol Rafael Martin também fez seu "test-drive". O roteiro começou na estação Trianon-Masp.

- Tem bilhete de um dia todo?

- Não -respondeu a atendente, em português.

- Tem um mapa do metrô?

- Não...

De não em não, Rafael compra um tíquete unitário.

Na Central de Atendimento ao Turista da Paulista, a funcionária derrapa.

- Como chego ao parque Ibirapuera de ônibus?

- Pegue qualquer um que passe nesse sentido dessa avenida [Brigadeiro Luís Antônio].

- Tem os horários e rotas?

- Não temos, mas você pode ligar para 156.

Por telefone, o atendimento é feito apenas em português.

- E bares e discotecas gays, onde ficam?

- Na rua Augusta. Ah! A Frei Caneca tem bares e um shopping!

Mas foi na cafeteria Santo Grão, na Oscar Freire, onde ele teve sua maior decepção.

Rafael pergunta para a garçonete, em sua língua, o que tem para comer. Ela responde em português. Ele revira o cardápio. Ela olha para o ar.

- Pode pagar com "tarjeta"?

- Como?

Outro garçom se aproxima.

- Ele quer saber se pode pagar com cartão.

Rafael pede um suco, sem saber do que é feito, e pães de queijo. O suco verde vem. Os pães de queijo, não.

SANTO GRÃO diz... 50% da equipe fala inglês. A casa também tem cardápios bilíngues. METRÔ diz... Em todas as estações há manuais com as perguntas mais frequentes dos usuários em quatro idiomas.

CAIPIRINHA DE MARACUJÁ

Um dos locais indicados pelo atendimento ao turista é a Pousada dos Franceses, na Bela Vista. Rafael segue para lá. Na entrada, um funcionário orienta o espanhol em inglês.

- Não dá para pagar com cartão.

Um mapa do metrô fica na mesa.

Rafael segue para a rua Augusta. Para no boteco Ibotirama, na esquina com a rua Fernando de Albuquerque.

O garçom Alex vai até a mesa. Rafael pergunta se ele fala espanhol. E inglês?

- Não.

- Caipirinha? - pergunta Rafael.

- Sim, de maracujá. Já trago.

Na mesma hora, um mendigo mira a mesa e grita:

- Hello! Do you have money [você tem dinheiro]?

O espanhol pede um pão de batata. Acabou, mas Alex explica com gestos que tem outros salgados.

Para fechar o dia, ele liga para a balada de luxo Kiss & Fly, na Villa Daslu.

- Você fala espanhol?

- É gringo -diz uma moça, rindo, e passa para um rapaz. Ele fala em português lentamente.

- Vo-cê tem que li-gar às du-as da tar-de, fa-le com a Pau-la.

- Pode chamá-la no celular?

- Não.

- Quanto custa o camarote?

- R$ 2.500. Inclui duas garrafas de vodca, duas de uísque ou duas de champanhe.

Rafael pergunta se pode ir de Havaianas. Do outro lado, risos.

KISS & FLY diz... As pessoas responsáveis pelas reservas não estavam no local no momento da ligação. O gerente e os atendentes são bilíngues.

-

 

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