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04/04/2011 - 16h07

Bucicálogos a preço de banana

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Temo que estou virando uma sucursal do Jair Bolsonaro. Aquela Barbarica "serenus" que acordava cantarolando com as rolinhas parece estar cedendo espaço a uma jamanta carregada de bílis.

Pode ser que eu exagere um pouco, vá. Só porque ralhei com meu cão e personal trainer Pacheco Pafúncio ao pisar num número dois camuflado de ornamento persa que estava escondido no tapete. Ou porque mandei um sonoro "Cacilda Becker!" no meio do salão quando a mani/pedi arrancou uma picanha da minha mãozinha de fada, isso não quer dizer que eu tenha virado discípula do Garrastazu.

Digamos que minha crise nervosa seja do tipo basicão, 1.0, fruto, diria, da preocupação com o surto de conjuntivite que tomou a cidade na semana passada e com a dengue que teima em resistir ao fim do verão. Melhor explicar direito. Afinal, ninguém no Brasil inteirinho é tão intolerante, gratuitamente agressivo e flagrantemente ultrapassado quanto Jair Bolsonaro. Vamos aproveitar e fazer uma pausa para rir um pouco do deputado?

Ótimo.

Mudando de pato pra ganso, deixe-me contar daquela louca de Chaillot da Bucicleide. Outro dia, estava eu sentada de cara amarrada feito um buda pensando no quanto jornalista é pobre de "marré deci", quando recebo um telefonema suspeitíssimo de parte de dona madame.

"Quer ganhar um troco, Barbarica?" Não, Pedro Bó! Quero morrer pobre e acima do peso, Bucicleide, o que você acha? Foi só dar a deixa, que ela saiu feito o Usain Bolt. Veja se consegue seguir o raciocínio: "Quero que você escreva uma peça de sucesso, Barbarica, é a sua hora, você está mais do que preparada, eu dirijo, tudo foi pensado, planejado e formatado". OK, sou toda ouvidos, Bucicleide.

"Então, vai anotando aí o que eu digo. Você vai ganhar 10% do bruto da bilheteria, que tal, está contente? Hein? Finalmente, depois desses anos todos escrevendo, arrumei para você uma recompensa justa." Bem, sim, 10% parece bacana, que bom, Buci, digo, "whatever", um projeto novo em vista... Acho melhor ouvir o que ela tem a dizer.

"Não temos patrocínio, mas pensei em uma média de cinco atores em cena, cada um ganha, você sabe, 6% da bilheteria, depois tem os 10% para mim, que sou a diretora, e os teatros geralmente cobram 20% ou 30%, dependendo do risco que acham que estão correndo, há ainda os impostos retidos que dão mais 9,8%... Peraí, deixa ver aqui... A gente vai ganhar mó grana, já vai pensando num texto bem enxuto e engraçado, mas coloca aí nessa conta outros 4% para o Ecad, que recolhe os direitos autorais da música que toca em cena. Você não está pensando em chamar a Osesp, né, sua metida? Ah, e tem também os 6% para técnicos, para a camareira, para o contrarregra, para o operador de luz, para a lavanderia, mais 6% de divulgação..."

Ainda estou segurando o telefone, e Bucicleide ainda continua fazendo planos. Mas, de repente, a única coisa em que consigo me concentrar é na razão de haver tantos monólogos em cartaz na cidade.

 

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