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24/10/2011 - 20h18

Ninguém trabalha tanto em SP quanto os estrangeiros, diz estudo

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ELVIS PEREIRA
DE SÃO PAULO

Há nove anos em São Paulo, a argentina Andrea Rodriguez, 30, prolonga as jornadas de trabalho para driblar a saudade dos pais. A espanhola Maria de Las Mercedes Casselhas, 64, faz o mesmo, porém "para se sentir uma vencedora". O alemão Birger Kamrath, 36, é categórico: esforça-se mais para ganhar dinheiro.

As razões são diferentes, mas levam ao mesmo resultado: entre os moradores da região metropolitana, ninguém trabalha tanto quanto os estrangeiros. A conclusão consta do estudo Perfil dos Migrantes em São Paulo, divulgado neste mês pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Isadora Brant/Folhapress
Economista alemão Birger Kamrath,36, que aumenta a jornada de trabalho para ganhar mais dinheiro
Economista alemão Birger Kamrath (foto), 36, é um dos que aumenta a jornada de trabalho para ganhar mais dinheiro

"O estrangeiro em São Paulo, em grande parte, é dono do próprio negócio. E fica no comércio o dia todo. Por isso, aparece como quem trabalha mais", explica Herton Araújo, autor da análise em parceria com Ana Luiza Machado. Segundo o estudo, 31,3% dos moradores que vêm de outros países trabalham por conta própria, o maior índice da pesquisa.

Minoria entre os habitantes da região metropolitana, os estrangeiros lideram no quesito tempo de dedicação ao serviço: 58,2% deles declararam trabalhar 45 horas ou mais por semana. Assim, superam paulistas, mineiros, baianos e cearenses. "Esse resultado não era esperado", afirma Araújo. "Mas o paulista trabalha mais com carteira assinada, por isso cumpre menos horas." Pela lei, empregados podem trabalhar, normalmente, até oito horas diárias --ou 40 semanais.

As razões para que quem vem do exterior dedique mais horas à vida profissional variam. "Nosso ponto fraco é a família", diz Andrea. Ela e o marido, igualmente argentino, revezam-se na administração do Petali, empório do casal no Mercado Municipal, e de um frigorífico. "Para não sentir tanta falta da família, do idioma e de alguns costumes, mergulhamos no trabalho."

O italiano Eugênio Saporito, 73, também dono de uma banca no Mercadão, orgulha-se de desconhecer o que são férias há 12 anos. "Não tem necessidade. Você se acostuma a trabalhar", argumenta. Ele chegou ao país em 1952. Foi feirante, dono de padaria e de bar. "O camarada que troca de país tem de progredir. Para ficar passando necessidade, fica na terra dele."

A vontade de progredir é a justificativa de Maria Casselhas, para as muitas horas fora de casa. "É uma coisa de vencedor: ter garra", defende a dona da rede de padarias Pão do Parque, na zona oeste. "Acordo às 5h e, por telefone, já vou controlando." Ela chega cedo aos estabelecimentos e neles permanece por até 12 horas. "Não é só pelo dinheiro, é pelo prazer de fazer alguma coisa."

No caso do japonês Masanobu Haraguchi, 58, a ocupação é tamanha que mal permite pausas para conversas. Preocupado com os documentos à sua frente, ele respondeu em duas palavras, traduzidas por um intérprete, o motivo das 12 horas diárias que cumpre no restaurante Ban, na Liberdade, região central, do qual é sócio: "Meu destino". Completou dizendo que trabalha porque gosta e precisa. Fim de papo.

Antes, no mesmo bairro, a sãopaulo tentara conversar com um japonês dono de uma peixaria. Concentrado em suas tarefas, ele pediu à reportagem que voltasse outra hora.

Direto como os asiáticos, o alemão Birger opta por uma resposta "sem romantismo". "Gostaria de dizer que trabalho porque gosto do que faço, mas o objetivo é ganhar dinheiro", diz o economista, que administra um fundo de investimentos, um restaurante e uma consultoria de gestão.

Ele se mudou de Portugal para o Brasil em 2009. "Na Europa, consegue-se viver bem com menos dinheiro. Aqui, a diferença entre trabalhar oito e 16 horas é grande." E o tempo para a família? "Não é fácil. Mas a minha namorada aceita."

LONGA JORNADA

Os estrangeiros em São Paulo:

  • Representavam 1% do total de moradores da região metropolitana em 2009
  • 46% completaram o ensino superior, a maior taxa entre os moradores
  • Ganhavam, em média, R$ 4.058,62 por mês --R$ 2.052,87 a mais que os paulistas
  • 1/3 trabalhava por conta própria, a maior proporção registrada no estudo
  • Tinham a 2ª menor taxa de desemprego: 4,3%; os 1os são os mineiros, com 3,3%
 

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