Avaliação de novas drogas precisa ser descentralizada, diz diretor da Anvisa
Novas drogas para o tratamento do câncer podem demorar até um ano para ser aprovadas pela Anvisa. A falta de celeridade no processo de avaliação pelo órgão governamental foi o tema dominante na segunda mesa do dia, "Entraves à pesquisa de novas drogas no Brasil", no fórum O Futuro do Combate ao Câncer, realizado na capital paulista pela Folha com patrocínio dos laboratórios Bristol-Myers Squibb e MSD.
De acordo com Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa, o principal desafio é garantir o padrão de qualidade para liberação dos medicamentos no mercado. "A Anvisa começou, no ano passado, a fazer algo que deveria ser o padrão: responder com previsibilidade sobre os protocolos de pesquisa. A regra é que em 90 dias a agência se manifeste, e, excepcionalmente para estudos mais complexos, o prazo máximo para nossa manifestação é de 180 dias ", afirmou.
O diretor do órgão afirma que a centralização da análise também torna inviável a rapidez nas autorizações. "A articulação com universidade e outros órgãos regulatórios e de pesquisa ainda não ocorre como deveria. Se não descentralizarmos o processo de avaliação ética, sempre teremos essa barreira".
Outro ponto levantado por Barbosa seria a qualidade das pesquisas clínicas apresentadas à Anvisa. Por conta de deficiências técnicas e ausência de dados requeridos, muitas vezes os medicamentos que estão na fase um, quando são submetidos às pesquisas clínicas, demoram para ser avaliados apropriadamente. "Uma melhor articulação com as CEPs (Comissões de Ética em Pesquisa) das universidade e outros órgãos de pesquisa, poderia ajudar bastante, pois, se não descentralizarmos o processo de avaliação ética, sempre teremos essa barreira".
"Essa fase poderia demorar uma semana, mas acaba levando de três a quatro meses por causa do vai e vem de dados que não estão na pesquisa original."
ESTUDOS CLÍNICOS
Para Eduardo Motti, consultor na área de pesquisa clinica, a falta de pacientes participando de estudos clínicos no Brasil ainda é baixo, o que atrasa a pesquisa e liberação dos novos tratamentos. No Reino Unido, 10% dos pacientes com câncer estão participando de algum estudo clínico, enquanto no Brasil a taxa não passa de 1%.
"Diferente de Portugal e Uruguai, o Brasil tem massa crítica para fazer seus estudos internamente. Precisamos de mais pacientes em pesquisas que sejam feitas de forma mais rápida. No Brasil, as dificuldades burocráticas são enormes, temos dificuldade de estabelecer metas e por conta disso o país fica de fora de muitos estudos", disse Motti.
Segundo Sérgio Queiroz, pesquisador da Unicamp na área de farmácia, é necessário buscar mudanças no modelo de pesquisa visando melhoria na parceria entre o setor privado, órgãos regulatórios e a academia.
"Para fazer pesquisa em farmacêutica é preciso ter um porte que as empresas brasileiras não tem, embora tenha crescido bastante desde a política dos genéricos. Trinta anos atrás o mercado era dominado por gigantes multinacionais, hoje metade é nacional", disse.
"A relação entre empresa e universidade ainda tem muitas dificuldades. Ao contrário de setores como o automobilístico e o siderúrgico, a atuação da academia vai ser decisiva para os avanços nos estudos clínicos sobre o câncer e a na criação de novos medicamentos que sejam autorizados com rapidez", afirmou Queiroz.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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