Núcleo no Ceará testa anticorpo feito com leite de cabra

Projeto é desenvolver biossimilar e 'biobetter' de remédio usado contra o câncer 

Iara Biderman
São Paulo

Recursos públicos, laboratórios universitários, instituições de pesquisa e também as cabras estão contribuindo para o desenvolvimento de biofármacos no Brasil. 


Pesquisadores do Nubex (Núcleo de Biologia Experimental) e da Unifor (Universidade de Fortaleza) iniciaram um projeto para produzir o anticorpo monoclonal rituximabe a partir do leite de caprinos transgênicos. 


O projeto é desenvolver tanto um remédio biossimilar quanto um “biobetter” do rituximabe, medicamento biológico importante em tratamentos de câncer hematológico e de algumas doenças reumatológicas. 
O “biobetter” é uma versão melhorada do medicamento de referência. Ele tem que apresentar alguma modificação estrutural da molécula original e vantagens terapêuticas. “Dependendo do grau de modificação  alcançado, é possível até depositar patente da molécula”, diz Leonardo Tondello, um dos coordenadores do projeto.   

Herman Tacasey

A pesquisa é uma parceria da Unifor e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). 


“É um modelo pouco frequente no Brasil: duas instituições de pesquisa desenvolvendo produto para colocar no mercado. No futuro, vamos buscar parceiros privados para produzir em escala industrial”, diz Tondello


Além da Fundação Edson Queiroz, mantenedora da Unifor, e da Fiocruz, o projeto é apoiado pelo Instituto do Câncer do Ceará e pelo Banco do Nordeste. Outra parceria, com o Instituto Butantan, está sendo formalizada. 


O projeto foi iniciado em 2017, com as etapas laboratoriais para construir o DNA que, neste ano, vai ser usado na produção das cabras geneticamente modificadas. Para 2019 estão previstas as fases de purificação do anticorpo monoclonal rituximabe e de testes laboratoriais.


O investimento para as fases de produção de leite e testes pré-clínicos em animais é de cerca de R$ 900 mil. O orçamento para as etapas finais do projeto, incluindo exames clínicos em humanos, é de 
R$ 15 milhões a R$ 20 milhões. 


A vantagem do biofármaco produzido a partir do leite de cabra é que o cultivo das células prescinde de biorreatores, o que torna o processo mais simples e barato, com impacto no custo final. 

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