Municípios reduzem acidentes no trânsito com redesenho urbano

Medidas priorizam pedestres e ciclistas, com menos espaço para carros

Jeferson Batista
São Paulo

O programador Philip Steffen, 30, pedalava na avenida Eliseu de Almeida, na zona oeste, rumo ao trabalho, no centro de São Paulo, quando foi atropelado por um carro. Desde que começou a usar a bicicleta diariamente, há 12 anos, Steffen já passou por cinco experiências como essa, ganhou hematomas e uma indenização de um processo contra um motorista.

Em 2014, a ciclovia chegou à avenida. “Era um dos trechos em que eu ficava mais tenso. Hoje tenho mais segurança.”

Ciclovia é um entre os diversos modelos de redesenho urbano que estão sendo adotados por municípios para diminuir os acidentes e respeitar mais ciclistas e pedestres.

Outras ações, como criação de faixa de pedestre elevada, avanço de calçada sobre a pista, diminuição da área usada pelo carro para fazer curva, também estão sendo testadas.

Cidades do interior do estado de São Paulo reduziram o número de vítimas fatais com ações de mudanças no sistema viário e de conscientização de motoristas, ciclistas e pedestres, baseadas nas diretrizes do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito.

“É possível fazer intervenções cirúrgicas que resolvem o problema. Algumas ações tiveram custo zero para o estado”, afirma Silvia Lisboa, coordenadora do Movimento.

Exemplos de bons resultados, os municípios de Jacareí, Botucatu e Birigui conseguiram reduzir, no ano passado, em 48%, 35% e 14%, respectivamente, o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito, segundo informações do Infosiga, banco de dados que reúne informações de acidentes, do Movimento Paulista.

“Troca de placas, pintura de vias e o aumento do tempo do semafórico foram medidas que levaram à queda dos acidentes”, diz Rodrigo Fumis, secretário-adjunto de Transporte de Botucatu.

Em Jacareí, foram criados bolsões exclusivos para motociclistas nos semáforos e rota de carga pesada, reduzindo em 40% os caminhões que circulavam pelo centro.

Em Birigui, após a mudança de uma rua de mão dupla para mão única, o número de acidentes na via caiu de 11 ocorrências, do segundo semestre de 2016 até o primeiro de 2017, para 1 do segundo semestre de 2017 até hoje.

Muitas dessas ações são inspiradas na estratégia mundial batizada de Visão Zero, que surgiu na Suécia e tem como princípios a ideia de que todo acidente grave e com morte pode ser evitado e que as pessoas invariavelmente cometerão erros, mas a cidade deve estar preparada para isso.

A cidade de São Paulo é uma das primeiras do país a implantar faixa de pedestre diagonal e área de trânsito calmo (com limite de velocidade mais baixo, calçada mais larga e menos espaço para carro).

“A faixa em diagonal na São João é uma das pioneiras. Com ela, o pedestre faz o caminho mais direto”, diz Hannah Machado, coordenadora de desenho urbano da Iniciativa Bloomberg em São Paulo, programa mundial que usa o conceito de Visão Zero em seu plano de incentivo à segurança.

A cidade tem 13 áreas de trânsito calmo. No próximo semestre, São Miguel Paulista, na zona leste, vai receber um novo espaço acalmado. “A ideia é criar uma área comum para ciclistas, motoristas e pedestres. O modelo já é muito utilizado na Europa”, afirma Carlos Alberto Bandeira Guimarães, professor de engenharia civil da Unicamp.

Outra capital que tem experiências com o Visão Zero é Fortaleza, que fez ciclovias, ampliou corredores de ônibus e, neste ano, está alterando a velocidade máxima de avenidas para 50 km por hora.

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