Reforma da Previdência impõe a brasileiros necessidade de poupar

Para especialistas, população precisa aprender a investir no futuro desde a juventude

Julia Alves Leonardo Neiva
São Paulo

Apesar da indefinição política, a reforma da Previdência é inevitável: o sistema atual não se sustenta financeiramente, devido a fatores como o aumento da expectativa de vida e a redução da taxa de natalidade.

Para manter o mesmo padrão de vida após a aposentadoria, é preciso poupar desde cedo, hábito que de uma parcela pequena da população.

Essas afirmações foram consenso entre especialistas que participaram na quinta-feira (28) do seminário Seguros, Previdência e Inovação, promovido pela Folha.

O encontro, que teve apoio da CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização), aconteceu no auditório do jornal, em São Paulo, e contou com a mediação dos jornalistas da Folha Everton Lopes Batista e Joana Cunha.

“O modelo atual não é sustentável. Isso significa que o cidadão vai precisar se virar para formar uma reserva financeira e complementar a aposentadoria do INSS”, afirmou Marcia Dessen, planejadora financeira pessoal e colunista do jornal.

As opiniões dos brasileiros sobre a reforma da Previdência são divididas. O modelo foi considerado sustentável por 51% dos entrevistados em pesquisa da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida). Porém, 43% das pessoas disseram que a reforma será necessária. Apenas 18% afirmaram ter interesse em aderir a algum dos modelos de garantia de sustento no futuro.

Para o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, as seguradoras precisam se preparar para absorver boa parte da demanda que surgirá após a aprovação da reforma.

Plateia assiste ao debate da primeira mesa do seminário Seguros, Previdência e Inovação, no auditório da Folha, em São Paulo 
Plateia assiste ao debate da primeira mesa do seminário Seguros, Previdência e Inovação, no auditório da Folha, em São Paulo  - Reinaldo Canato/Folhapress

“Ela é inevitável, porque a matemática é fria. (...) O gasto é muito grande, o sistema é insustentável”, disse Franco.

Segundo Marcio Coriolano, presidente da CNseg, 13% dos brasileiros têm algum plano de previdência privada. Por isso, o foco agora deve ser atrair pessoas de classes mais baixas, de acordo com Franco.

Um dos obstáculos para que isso ocorra é a complexidade da oferta de planos. Além disso, grande parte da população não entende o funcionamento e a importância da previdência privada. “[Poupar para] trocar de carro no final do ano não é previdência. Previdência é algo para depois de amanhã. Não é o único, mas é um importante meio para ter um futuro mais tranquilo”, afirmou Jorge Pohlmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência e da Bradesco Capitalização.

Segundo Marcia, falta a consciência de que previdência não é apenas um seguro, mas um investimento.
A recusa em investir pode ser uma herança da hiperinflação vivida pelos brasileiros nas décadas de 1980 e 1990.

“O mercado de previdência é jovem. Antes, não podia se falar em investimento de longo prazo com hiperinflação. Esse é um mercado que se formou de 1994 para cá”, afirmou Franco, da FenaPrevi.

Os especialistas também destacaram os altos preços dos planos disponíveis como mais uma barreira para a entrada de novos usuários na previdência privada.

Apesar de oferecerem muitas opções de planos para investidores de médio e grande porte, as seguradoras ainda dão pouca atenção aos pequenos consumidores, que têm baixo capital para investir todo mês, segundo Marcia.

Para mudar esse cenário, os palestrantes sugerem ações de educação que possam esclarecer a importância da previdência no futuro, atividades de capacitação de agentes de venda e oferta de planos acessíveis para pessoas com renda mais baixa.

Um passo básico para lidar com a desinformação é conseguir explicar de forma clara para a população o que é previdência, segundo Nasser. “O governo federal deveria incluir a educação financeira no currículo das escolas.”

O executivo também afirmou ser essencial que a pessoa defina de antemão alguns detalhes: por que quer um plano de previdência privada, por quanto tempo deixará o dinheiro guardado e de onde sairá a renda investir.

 

Dicas para começar a guardar dinheiro

Para quem tem 20 anos
1. Objetivo Estabeleça uma meta que seja importante alcançar, que o motive a continuar poupando mesmo em tempos difíceis
2. Regra Poupe disciplinadamente, todo mês. Não espere sobrar. Comece com 10% da sua renda mensal
3. Pesquisa Conheça as alternativas de investimento. É bom contar com a opinião de terceiros, mas é fundamental que você esteja no comando, fazendo as escolhas
4. Custo Ganhe mais pagando menos para investir. Comprar títulos públicos, via Tesouro Direto, custa 0,30% ao ano para ganhar 100% da rentabilidade do título. Essa é a referência de custo que você deve ter em mente ao analisar alternativas
5. Produto Não existe o melhor produto de investimento. O mais adequado é o que oferece a melhor relação risco-custo-retorno.

Para quem já tem 40 anos 
1. Atraso As dicas sugeridas aos jovens de 20 anos são aplicáveis a você, leia e adote. Tente tirar o atraso e poupar entre 20% e 30% da sua renda mensal
2. Extra Você adiou o inicio da formação da sua reserva, deve ter tido outras prioridades. Mas acelere para garantir a independência financeira que merece. Invista qualquer renda adicional
3. Perigo Evite aumentar o risco para tentar ganhar mais e compensar o tempo perdido. Mais risco não é garantia de maior retorno. 
4. Lição Envolva a família, o esforço deve ser de todos. O exemplo educa

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