Falta de engajamento de cidades com mobilidade dificulta mudanças

Participantes do debate “E agora, Brasil? Transporte público”, realizado pela Folha com apoio da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, em SP - Folhapress

Para que melhorias no transporte público brasileiro aconteçam, é necessário que os municípios possuam projetos de desenvolvimento bem fundamentados.

Desde 2012, a Política Nacional de Mobilidade Urbana obriga os 3.342 municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes a elaborarem planos para mobilidade. Segundo o Ministério das Cidades, até o ano passado, apenas 194 deles declararam ter algum plano de mobilidade.

Uma das razões seria a dificuldade técnica encontrada por esses municípios, apontou Gabriel Oliveira, coordenador de transporte público e desenvolvimento urbano do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento.

O coordenador, que participou do debate “E agora Brasil?Transporte público”, promovido pela Folha na quarta-feira (1º), questionou a qualidade dos planos entregues, já que não se sabe se neles há estruturas viárias que priorizem pedestres, bicicletas e o próprio transporte público.

“Em 2015, uma grande quantidade de recursos foi prometida para infraestrutura no PAC da Mobilidade, cerca de R$ 150 bilhões, só que a penas um terço, aproximadamente, foi de fato contratado”, afirmou Oliveira, que espera que o prazo para a elaboração do plano de mobilidade não seja, mais uma vez, prorrogado. 

“Era morte anunciada”, disse Jurandir Fernandes, ex-secretário estadual de Transportes Metropolitanos da gestão do governo Alckmin (PSDB). “Exigir de uma cidade de 20 mil habitantes onde o prefeito não tem dinheiro nem para fazer uma ‘pinguela’ é diferente de pedir isso a um município inserido em região metropolitana”, completou. 

Para Tarcísio Gomes de Freitas, do Programa de Parcerias de Investimentos do governo federal e representante da campanha presidenciável do MDB, o Ministério das Cidades deve articular políticas em outras esferas do governo. “Vivemos uma realidade em que gestores municipais precisam ser ajudados.”

O fato de a indústria automobilística ainda ser vista como carro-chefe dentro do cenário nacional é um problema para as grandes cidades.

De acordo com Gabriel Oliveira, parte do dinheiro investido em frotas de veículos individuais poderia estar sendo usada em ações para desenvolver o transporte coletivo, como a adoção de ônibus com energia mais limpa.

Outra demanda existente é a adesão de uma perspectiva metropolitana para a criação de projetos, segundo Luiz Carlos Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).

“Imagine se em uma região metropolitana como a de São Paulo, que tem 39 municípios, cada um fizesse o seu plano de mobilidade sem considerar o vizinho?”, afirmou

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.