Descrição de chapéu Inovação no Brasil

Para especialistas, empresas ainda precisam aprender a trabalhar com startups

Boa organização e definição concreta dos interesses da companhia são cruciais para o sucesso da parceria

Marcelo Prim, gerente-executivo de inovação e tecnologia do Senai, Fernando Freitas, superintendente de pesquisa e inovação do Bradesco, Dori Goren, cônsul-geral de Israel em São Paulo, e Joana Cunha, mediadora do debate - Reinaldo Canato/Folhapress
Leonardo Neiva
São Paulo

Algumas grandes empresas brasileiras estão cada vez mais atraídas pelos resultados rápidos e expressivos conquistados por startups no mercado. Mas, por ser um fenômeno relativamente novo, essas corporações ainda precisam definir o melhor modelo para trabalhar em parceria com elas.

As maneiras de fazer essa integração foram um dos principais assuntos discutidos no 2º seminário Inovação no Brasil, nesta segunda-feira (13), no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. A mediação ficou a cargo da jornalista da Folha Joana Cunha.

O evento foi promovido pela Folha, com patrocínio da Embratel e apoio da Braskem e do grupo Energisa.

Segundo Fernando Freitas, superintendente de pesquisa e inovação do Bradesco, o Brasil vive um momento em que as grandes empresas recebem forte demanda por soluções inovadoras, que desafiem seu status quo e permitam que as necessidades dos clientes sejam entregues de formas diferentes do usual.

“Há uma mudança de comportamento, da forma como os clientes querem interagir com suas empresas. Principalmente no setor de serviços a concorrência é cada vez maior, e há necessidade de as companhias encurtarem seu ciclo de inovação”, disse.

Para ele, o trabalho com as startups deve ter início com uma boa organização e uma definição concreta dos interesses da empresa na parceria. Depois disso, é preciso criar o processo pelo qual o trabalho em conjunto deverá acontecer e estabelecer uma mudança de cultura da companhia para integrar a lógica das startups em seu funcionamento.

O gerente-executivo de inovação e tecnologia do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Marcelo Prim, defendeu como modelo com maior chance de sucesso para essa integração aquele em que as empresas apresentam as soluções de que necessitam, e as startups se oferecem, caso seus projetos sejam adequados para isso. Se a startup tentar adequar seu modelo para solucionar um problema específico da empresa, segundo ele, a chance de sucesso é bem mais baixa.

Mas Prim não sugere essa lógica como uma regra. “Cada um define a estratégia de acordo com o que for melhor para sua empresa.”

EDUCAÇÃO

A ascensão das startups nos últimos anos representa também a alteração no perfil e nas ambições de jovens no mundo todo, ainda segundo o gerente-executivo do Senai. Para ele, o sistema educacional não foi capaz de acompanhar essas mudanças.

“Para esse perfil de jovens, a educação está falida. Os millennials não querem ter emprego formal, eles querem fazer a diferença. Nesse sentido, a escola é uma perda de tempo. Hoje temos jovens de sete, oito anos criando startups pelo mundo”, afirmou.

Segundo Prim, têm surgido alguns modelos interessantes, como o das escolas invertidas, em que o professor atua como promotor e moderador de discussões entre os alunos, levantando questões sobre como usar a tecnologia e conhecimento para mudar o mundo.

INOVAÇÃO ISRAELENSE

Em sua fala, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Dori Goren, destacou as particularidades de seu país, uma das principais potências na geração de startups no mundo. De lá, surgiram algumas marcas hoje famosas, como o Waze.

“Como país somos menores que o estado de Sergipe, mas quase 50% do nosso PIB vem do desenvolvimento de tecnologias. Somos uma nação empreendedora, com 1.400 novas startups desenvolvidas todo ano”, afirmou o cônsul.

Como principais razões para esse avanço na área, Goren citou a composição multicultural e multiétnica do país, que favoreceria o cruzamento de diferentes conhecimentos; a obrigatoriedade do serviço militar, que ensinaria aos jovens trabalho em equipe, a rápida tomada de decisões e criatividade em ambientes hostis; e o auxílio do governo, em uma aliança com o setor privado e universidades.

Goren afirmou ainda que, no país, há uma cultura de tolerância ao fracasso. Segundo ele, um empreendedor que recebeu ajuda do governo e acabou levando sua startup à falência recebe ainda mais investimento em uma segunda oportunidade, porque aprendeu com o fracasso e agora tem mais chances de sucesso.

O cônsul criticou o Brasil por não dar segundas oportunidades de investimento público e pela grande quantidade de burocracia até mesmo para estrangeiros interessados em fazer negócios no país.

“Para investir em startups e tecnologia, o Brasil precisa definir as áreas em que é mais forte. Um lugar onde eu vejo que ninguém mais pode competir é na agricultura. A tecnologia agrícola aqui é a mais avançada do mundo. Esse pode ser o caminho”, afirmou.

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