Descrição de chapéu Brasil China

'Até hoje não conseguimos vender carne', diz Maggi a embaixador chinês

Ministro reclama de barreiras protecionistas; Jinzhang ressalta crescimento das exportações

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Mesa de debates do seminário Brasil-China, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress
São Paulo

O seminário Brasil-China, da Folha, transcorria suavemente até aquele momento, segundo dia de debates. Na pauta, formas de incrementar o fluxo comercial entre os dois países e a identificação de gargalos que travam as relações bilaterais.

Foi quando o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, saiu do script reinante nesses eventos. “Um ano atrás eu estive na China, com o presidente Xi Jinping. Ele fez um brinde e disse ‘presidente [Michel Temer], eu amo a carne brasileira’”, contou.

O ministro se referia à visita de setembro de 2017, na qual uma comitiva brasileira reivindicou maior abertura para o produto. “Até hoje não conseguimos vender nada.”

A reclamação de Maggi era dirigida a barreiras a produtos brasileiros no mercado chinês. Citou como exemplo o açúcar. Em 2013, o Brasil vendeu ao país asiático cerca de US$ 1,4 bilhão do item, disse o ministro. Em 2017, o valor despencou para US$ 135 milhões. A queda, segundo ele, resultou de medidas protecionistas adotadas por Pequim.

Números setoriais à parte, a China é hoje o principal parceiro comercial brasileiro. No ano passado, foi responsável por 22% das exportações nacionais, com destaque para o agronegócio —justamente o setor que Maggi representa.

Em 2017, os chineses gastaram US$ 47,5 bilhões com produtos brasileiros, valor 35% superior ao do ano anterior. O superávit entre os dois países foi de mais de US$ 20 bilhões a favor do Brasil.

Parecem índices vistosos, não fosse a China o colosso que é. Vivem ali mais de 1,3 bilhão de pessoas —o equivalente a seis Brasis. O país já é a segunda economia do planeta, e há quem aposte que em poucos anos ultrapassará os Estados Unidos na liderança.

A China também é o segundo maior importador do mundo. Em 2016, comprou no mercado internacional US$ 1,59 trilhão. Perto disso, os US$ 47,5 bilhões gastos com produtos brasileiros no ano passado revelam o peso inexpressivo do Brasil no fluxo comercial do país asiático.

Diplomático, o embaixador chinês no Brasil, Li Jinzhang, preferiu ressaltar o crescimento relativo das exportações brasileiras a discutir os números absolutos e mostrou-se otimista quanto ao futuro das relações bilaterais. 

Li assinalou que o volume de investimentos chineses no Brasil tem aumentado. Citou a participação de empresas em leilões na área de energia, petróleo e obras de infraestrutura e lembrou também a entrada dos chineses em áreas de alta tecnologia e de consumo de massa. Exemplo disso são os investimentos de grupos como o Chery na área automobilística.

Mesmo exibindo um fairplay próprio de titulares da diplomacia, o embaixador advertiu que a batalha comercial é acirrada; a China não é apenas um comprador à espera de boas ofertas.

Li também elogiou o churrasco brasileiro, numa alusão bem-humorada à declaração de Maggi. Mas, ao se referir ao caso do açúcar, disse que o governo chinês tem que pensar nos interesses domésticos.

“O preço do açúcar brasileiro é muito baixo, e não podemos desestimular a produção local”, afirmou Li Jinzhang. Em outras palavras, deixou claro que os chineses não desejam prosperar à custa de prejuízos dentro de casa.

Maggi e Li mostraram diferenças também em relação à guerra comercial entre China e EUA, deflagrada pelo governo de Donald Trump.

Para o embaixador, está em ascensão uma política de força que frustra o multilateralismo e torna o ambiente externo cada vez mais severo para países em desenvolvimento.

O ministro brasileiro preferiu recorrer a uma analogia. “Em briga de elefantes, quem perde é a grama —e nós somos a grama nesse momento.” 

Ao que Li Jinzhang respondeu: “Você sabe, Maggi, são lutas de elefantes que vão afetar a todos. O Brasil também é um elefante.”

Tal qual algodão entre cristais, o chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira optou por destacar convergências na área de política internacional. “Brasil e China têm atuado em regime de visão estratégica global”, afirmou. O ministro das Relações Exteriores defendeu que a relação com a China deve ser vista sobretudo como parceria.

O seminário teve patrocínio da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), do Banco Modal e da distribuidora Caoa Chery, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Colaborou Bianka Vieira

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