Descrição de chapéu Brasil China

Estilo chinês de fazer negócio trava exportações do agro

Imposição de taxas de importação esporádicas para proteger mercado local dificulta entrada de mais produtos brasileiros

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Soja é despejada em navio no porto de Paranaguá, no litoral do Paraná
Soja é despejada em navio no porto de Paranaguá, no litoral do Paraná - Eduardo Anizelli/Folhapress
São Paulo

O desenvolvimento da agropecuária brasileira tem como um dos motores o apetite chinês. A negociação entre os dois países, porém, ainda será longa e cansativa.

Quando necessitam de um produto, como é o caso da soja, os chineses são bons parceiros. Em muitos casos, porém, a visão estratégica de compra mescla abertura de mercado com proteção interna.

Quando conseguem estoque suficiente ou aumento da produção, os chineses colocam amarras nas compras, impondo taxa de importação.

 

Isso gera incertezas aos exportadores brasileiros. É o que ocorre com a carne de frango e com o açúcar, mercados que tinham deixado os produtores brasileiros esperançosos.

Essas incertezas dificultam qualquer planejamento brasileiro de produção e de exportação. Em 2013, por exemplo, os chineses compraram 3,5 milhões de toneladas de açúcar do Brasil. Neste ano, são apenas 204 mil toneladas.

Apesar das dificuldades de negociações, o agronegócio brasileiro vem ganhando importância no país asiático.

Há um direcionamento das importações chinesas para outros produtos além da soja, principalmente para proteínas. A urbanização, a evolução da renda e as mudanças de hábitos na China trazem uma dependência externa do país no setor de alimentos.

Esse novo cenário abre portas para o Brasil. Entretanto, o aprendizado milenar dos chineses em negociações torna as coisas mais difíceis.

Neste ano, até agosto, a exportação brasileira de alimentos para o país asiático soma US$ 22,4 bilhões (cerca de R$ 93 bilhões). Já a importação chinesa desses produtos brasileiros fica em US$ 341 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão).

A soja, importante na alimentação do 1,39 bilhão de chineses, é, de longe, o principal item brasileiro de exportação para a China. A oleaginosa supera 90% do total das vendas externas do Brasil em alimentos para aquele país.

Nos últimos dez anos, a China deixou US$ 126 bilhões (cerca de R$ 520 bilhões) no Brasil com a soja. É uma relação comercial que cresce ano a ano.

Em 2017, as exportações de soja em grão para a China renderam US$ 20,4 bilhões (o equivalente a R$ 85 bilhões). Nos oito primeiros meses deste ano, o valor já empatou com o ano passado inteiro. São US$ 20,3 bilhões e 51 milhões de toneladas.

 

A demanda chinesa por soja cresce tanto que, a cada ano, o Brasil aumenta em 1 milhão de hectares a área de plantio. Por ora, é um mercado certo e rentável para os brasileiros. O consumo chinês empurra a produção mundial para patamares recordes todos os anos e poderá tornar a oferta bem superior à demanda.

Se o mercado de soja já é certo para o brasileiro, o dos demais produtos ainda precisa ser conquistado. Um caso típico é o do açúcar.

Os chineses aumentaram a taxa de importação do produto brasileiro, que agora é de 90%. Eles afirmam que os 4,7 milhões de produtores do país têm uma produtividade baixa e não conseguem competir com os brasileiros.

 
O setor de proteínas é um dos mais promissores, embora também esteja sujeito a barreiras esporádicas do governo chinês. É o caso de alguns cortes de carne de frango, que tiveram uma imposição de taxa de importação de até 38,4% neste ano.
 
Mesmo assim, as exportações brasileiras para o país somam 294 mil toneladas neste ano até agosto, no valor de US$ 540 milhões (cerca de R$ 2,24 bilhões).

Outro mercado crescente para os brasileiros é o de carne suína, cujas exportações já superam 100 mil toneladas neste ano, com receita de US$ 201 milhões (cerca de R$ 834 milhões). Esses valores superam os de todo o período de 2017.

 
Navio sendo carregado com soja no porto de Paranaguá, no Paraná
Navio sendo carregado com soja no porto de Paranaguá, no Paraná - Eduardo Anizelli/Folhapress

A demanda por carne suína crescerá no curto prazo. Os chineses são os maiores produtores e consumidores mundiais dessa carne, mas o país asiático tem focos de gripe suína africana, doença que afeta a produção.

O maior destaque entre as proteínas fica para a carne bovina, um produto que tem crescimento constante na alimentação dos chineses.

As exportações brasileiras para o país somam US$ 2,1 bilhões (R$ 8,7 bilhões) de 2015 a 2017 —média anual de US$ 698 milhões (R$ 2,9 bilhões). Neste ano, até agosto, já atingem US$ 887 milhões (R$ 3,6 bilhões).

O café também é um potencial mercado, uma vez que o consumo da bebida cresce na Ásia. O problema é que, apesar de ser o maior produtor e exportador de café em grão, o Brasil não tem uma marca forte para ocupar espaço no café industrializado.

Em parte, o Brasil também dificulta as relações com a China. O país não tem uma cultura de acordos comerciais e trava a entrada de alguns produtos estrangeiros.

Os chineses se propõem, por exemplo, a importar frutas do Brasil. Em troca, querem colocar produtos deles deste setor no país. Os brasileiros temem a concorrência.

O Brasil precisa colocar mais produtos de valor agregado na China. Os chineses prometem abrir espaço, entretanto, dificultam até a entrada de farelo e de óleo de soja.

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