Após integrar a dupla sertaneja Victor e Leo por 26 anos —em agosto deste ano anunciaram uma pausa por tempo indeterminado—, Leo Chaves hoje se dedica a ser palestrante, criador de gado, escritor e presidente-executivo do Instituto Hortense, que atende escolas rurais.
A empreitada de Leo Chaves vem na esteira de outros cantores sertanejos que apostam no segmento, como Gusttavo Lima e a dupla Chitãozinho e Xororó.
“Cada vez mais vira um negócio”, afirmou o cantor, que fundou, em 2012, a Fazenda Senepol Paraíso (termo que nomeia a raça de gado criada por ele), localizada em Uberlândia, em Minas Gerais.
Como começou seu interesse pela pecuária?
Meus avós produziam café, leite e carne. Essa esfera rural sempre fez parte da minha vida, eu costumo dizer que tenho barro no sangue. Em 2008, eu já estava conhecido no Brasil inteiro cantando e minha esposa foi a um leilão. Ela me ligou: ‘Me apaixonei por um touro’. E eu falei: ‘Você vai me largar?’ [risos]. Depois fui descobrir que era da raça Senepol.
Você tem planos de atuar em outros setores de agronegócio?
Sim, como palestrante no setor do agronegócio, no sentido de motivar e de estimular uma cultura de agropecuária mais sustentável.
Como você percebe o embate entre a agropecuária e a preservação do ambiente?
Há um fundamento nesses questionamentos, porque o desmatamento desordenado, sem planejamento, sem uma gestão eficiente pode impactar o ambiente negativamente. O que eu vejo acontecer hoje é que muitas pessoas criticam sem propriedade e não dão um passo em direção a uma solução.
E o que se pode fazer, de forma prática, para tornar a pecuária mais sustentável?
Existe hoje a carne de carbono neutro e baixo carbono. Ela é feita no sistema integrado de pecuária que une lavoura, forrageiras, manejo adequado do solo e reflorestamento. Infelizmente, esse custo é alto e o prazo é longo. São cinco, seis anos para ter a atividade da pecuária integrada. O tradicionalismo e o conservadorismo ainda reinam. Um fazendeiro, quando ouve falar nisso, acaba ficando no sistema de pecuária extensiva, que infelizmente não é eficiente.
Então o passo rumo a essa pecuária mais sustentável é uma questão cultural ou é falta de recursos?
Não é a atividade que é o problema, é a forma como ela é feita. O que vejo é a falta de informação. O dono da fazenda vai a feiras, vê palestras, estuda. Mas o funcionário dele, que está no campo, não tem acesso a essas ferramentas. Se não ofereço oportunidades e recursos para o funcionário, ele não tem desenvolvimento tecnológico, não sabe fazer relatório, meta de resultado, planejamento estratégico, não tem um cronograma anual de ações. Isso vira um problema muito sério.
A pecuária hoje é um hobby ou uma atividade profissional para você?
Cada vez mais vira um negócio. Começou como um hobby, mas hoje tenho parceiros que representam a genética do meu gado e a responsabilidade cresceu. E há essa necessidade que eu enxergo de mudar esse quadro no país, de valorizar um pouco mais o agronegócio, de levar alta performance de gestão para o setor agrícola.
Você falou do modelo de integração lavoura-pecuária. Você acredita na máxima de que o bom gerente de gado não consegue ser um bom gerente de lavoura?
Não, não acredito. Um bom cantor pode ser um bom palestrante [risos]. Se um cara estudar e se dedicar, ele quebra tendências. ‘O que é que um cantor sertanejo vai falar para mim aqui?’ Esse tipo de preconceito eu enfrentei muito no início.
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