'Vai ser cada vez mais difícil resolver o desemprego', afirma professor

Especialistas destacam a importância do planejamento para se adaptar à nova realidade do trabalho

Wasmália Bivar, ex-presidente do IBGE e professora da PUC-Rio, Paulo Feldmann, professor da FEA-USP, João Roncati, presidente da People Strategy, Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico da prefeitura de São Paulo, e o mediador do debate Fernando Canzian, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress
Vanessa Henriques
São Paulo

A realidade do trabalho está mudando, e o Brasil precisa se preparar para uma reformulação nas ocupações. O uso extensivo da tecnologia, mudanças comportamentais e sociais e questões regulatórias fazem parte deste contexto.

A maior parte das ocupações que conhecemos deixará de existir daqui a algumas décadas, segundo Paulo Feldmann, professor da FEA-USP. “Vai ser cada vez mais difícil resolver o desemprego do que foi no passado”, disse.

Caberia ao país enxergar as áreas capazes de gerar emprego e investir nesses setores, além de investir na formação de jovens para ocupações que ainda não foram inventadas. Feldmann defende o investimento em uma formação generalista, que possa dar conta dos desafios do trabalho no futuro.

As alternativas para o desemprego e a nova realidade do trabalho foram temas discutidos durante o seminário O Futuro do Emprego e o Emprego do Futuro, organizado pela Folha, com patrocínio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

João Roncati, presidente da consultoria empresarial People Strategy, defende a necessidade de reflexão diante de uma situação complexa, sem recorrer a atalhos. O economista criticou visões simplistas, como as que sugerem que nenhuma escola é válida ou que todas as universidades estão ultrapassadas.

“Há no Brasil um receio em dirigir a formação”, disse, ao defender a concentração de esforços nas áreas que possam gerar mais oportunidade de trabalho.

Os especialistas enxergam oportunidades em algumas áreas, que poderiam absorver tanto trabalhadores qualificados quanto aqueles com pouca qualificação. A saúde, o ambiente, o turismo e a cultura foram citados como setores capazes de crescimento.

Em comum, são áreas nas quais o Brasil tem alguma vantagem (como a biodiversidade) ou que exigem atenção humana e uso da criatividade, habilidades que não podem ser mimetizadas por máquinas. “A recuperação de mananciais é absolutamente necessária, e exige mão de obra intensiva e pouco qualificada”, afirmou Wasmália Bivar, ex-presidente do IBGE e professora da PUC-Rio.

Na saúde, citada por todos como um setor com mais oportunidade, Feldmann enxerga dois contextos. Para o economista, os médicos podem ser substituídos por máquinas --como mostram estudos que comparam a taxa de erro na análise de uma tomografia por um médico e por um robô. “O médico pode ser substituído, mas o enfermeiro, não”, completou Roncati.

Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico da prefeitura de São Paulo, destacou a importância do poder público na inclusão de toda a população diante da nova realidade, sem deixar que a base da pirâmide seja prejudicada. “Se não fizermos nada, o futuro vai trazer mais exclusão e desigualdade”, disse.

Ela enxerga oportunidade de inclusão para diferentes níveis de qualificação, que devem ser capacitados dentro de suas possibilidades.

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